quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Interview with... Emanuelle Borges

Dizem por aì que a carreira de jornalista está em crise, será verdade? Para ficar mais por dentro desse assunto o Ponto Zzero entrevista a jornalista, radialista e empresária Emanuelle Borges, formada pela UFRN, leia até o final e saiba um pouco mais sobre os desafios dessa profissão.

Para ser um jornalista, ao contrário de muitas outras profissões, não existe a obrigatoriedade de curso superior na área, no entanto a formação acadêmica ainda é bastante valorizada pelo mundo do  trabalho – um grande diferencial na hora de concorrer a uma vaga.

Muitos enxergam o jornalista como simplesmente uma pessoa que transmite notícias. Contudo, as funções atribuídas ao jornalista são as mais diversas, indo desde a tradicional função de repórter, passando pela comunicação empresarial, até atribuições mais recentes como, por exemplo, o uso estratégico de redes sociais.

Diante de tantas opções de atuação, muitos interessados por jornalismo ficam com dúvidas na hora de optar por esta carreira. Por isso, trouxemos para o Ponto Zzero, uma entrevista com a jornalista e dona de uma beleza e simpatia sem igual Emanuelle Borges,  que nos conta um pouco sobre o dia a dia desse profissional e também esclarece tudo  para quem pensa em seguir nessa área.

Emanuelle Borges, natalense, formada em Rádio e TV e Jornalismo pela UFRN, atuou como assessora de imprensa, repórter, editora e apresentadora de TV. Empresária no ramo hoteleiro, administra a Vila Emanuelle B&B Pousada Boutique localizada na cidade de São Miguel do Gostoso /RN. Mãe de dois filhos, mora parte do ano na cidade de Gênova na Itália e em na outra parte em São Miguel do Gostoso, e se divide entre trabalho, os filhos e o amor pelo jornalismo.
Ponto Zzero: Em sua opinião, qual a principal característica que um jornalista deve ter?
Curiosidade! Esta é uma característica primordial e  imprescindível para que alguém possa ter sucesso na profissão. Além disso, é necessário muito amor e força de vontade. Não acredito naquele estereótipo tradicional do jornalista ‘engomadinho’ apresentando telejornal todo lindo e perfumado, Claro que isso também faz parte do ‘glamour’ da profissão e não pode deixar de existir, entretanto, acho que devemos valorizar também o cara que sua a camisa na rua, cobrindo manifestação, buraco na calçada, que está  junto com a polícia subindo favela, esses que a gente não vê, mas que estão aí nos informando e ajudando a manter o jornalismo de qualidade vivo.

Ponto Zzero: Por que você escolheu essa profissão?
Sempre fui muito comunicativa, e também bastante curiosa (minha mãe vai dizer que até demais). Contudo, o jornalismo não foi minha primeira escolha. Sempre gostei da área de saúde, e pasmem, queria ser médica, mas na época meu pai estava desempregado e não teria condições de manter por meses e até anos a preparação para o concorrido vestibular de medicina da UFRN. Aì pensei, qual seria a minha segunda opção? Vistas as minhas habilidades a passagem à Comunicação Social foi uma escolha fácil. Fiz vestibular e fui a primeira colocada geral do curso em 2004. Inicialmente me formei em Rádio e TV, que me tornou uma jornalista sem dúvida mais completa e mais a par dos processos na área, principalmente em tv e rádio. Cursei muitas disciplinas de jornalismo então foi natural o reingresso para conseguir o diploma (já não mais obrigatório), mas que me orgulha bastante.

Ponto Zzero: Quais são os maiores desafios profissionais de um jornalista?
Acredito que a precarização da profissão como um todo. Desde o abuso do trabalho de estagiários até os baixos salários e as jornadas injustas aplicadas pelas empresas que fazem com que muitos aspirantes a jornalistas trabalhem em substituição à jornalistas formados.  Infelizmente, no nosso mercado de trabalhos local ainda existe muito apadrinhamento o que faz com que vários talentos da profissão tenham que se deslocar da nossa cidade para outros centros ou até mesmo mudem de profissão pela dificuldade em conseguir vagas. E quando conseguem, muitas vezes, são expostos a cargas horárias extenuantes e recebem um dos menores pisos salariais mais baixos do Brasil. Pouco animador não é? Ninguém disse que era fácil, mas aos apaixonados sem dúvida é um desafio a mais a ser vencido.

Ponto Zzero: Como está a realidade de trabalho para os jornalistas nos dias de hoje no Brasil e mundo?
Diria que não está fácil para ninguém. Temos pouca oferta de trabalho formal e não saímos da universidade sabendo empreender. Isso dificulta muito. Há muita concorrência e competição entre os próprios jornalistas o que provoca desagregação da categoria e termina por precarizar ainda mais a profissão. Em muitos países, como no Brasil, o diploma não é obrigatório, e muitos jornalistas têm formação em outras áreas, o que os torna um pouco mais versáteis talvez, pois sempre podem retornar à sua área de formação. Na Europa entretanto, a mídia tradicional, apesar de enfraquecida, ainda é muito importante o que talvez mantenha  uma certa oferta de vagas (apesar da grave crise por aqui também).  Nós, todavia, temos muitas escolas de jornalismo espalhadas pelo Brasil e, formamos muita gente e o mercado tradicional não tem capacidade para absorver a todos.  Não sabendo abrir nosso próprio negócio, nós acabamos migrando de área, o que é bem triste.
Ponto Zzero: O que você recomenda para os jovens que pretendem optar pelo jornalismo como carreira?
Que avaliem bem a sua vocação. Jornalismo é paixão, é vício, tem que gostar se não não dá! Por isso, aconselho a sempre avaliar o perfil profissional. Já vi todo o tipo de jornalistas, mas fundamentalmente apaixonados pela profissão. Já vi também muita gente abandonar o curso na metade e mudar de área. Avaliem tudo, vocês são jovens, não tenham pressa!

Ponto Zzero: Apesar de o diploma não ser obrigatório para o exercício da profissão, você acha importante fazer a faculdade de jornalismo?
Sim. É muito importante! A “queda” da obrigatoriedade do diploma deixou muita gente revoltada (com razão). Entretanto, observando agora, passados alguns anos, vejo que mesmo que a obrigatoriedade não tivesse sido derrubada como foi, estaríamos hoje enfrentando uma crise  inutilmente com todas essas pessoas que usam a internet como forma de publicar seu conteúdo.  Seria, para simplificar, como os “taxistas tradicionais” brigando com o pessoal do UBER. Sinceramente, não nos levaria a lugar nenhum.

Nos últimos anos percebi que a maior parte do pessoal que faz “mídia livre” (vou chamar assim), se não são formados na área, raramente se autodenominam “jornalista”, preferem termos mais da moda como “youtuber”, “blogger”, etc. Também vejo que a maioria das empresas  na área da comunicação não passaram a contratar profissionais “sem diploma” para as suas redações. Com isso, acredito que a volta da obrigatoriedade é necessária, bem mais para fortalecer a categoria diante de condições de trabalho difíceis e precárias do que para frear o avanço dos “comunicadores ou jornalistas” sem diploma, já que os mesmos, na maioria das vezes, não têm preparo para concorrem efetivamente como os “diplomados” no mercado formal.

Ponto Zzero: Qual a sua ligação com o ambiente universitário e com a UFRN? Muitas recordações?
Amo o ambiente universitário, vivi 9 anos da minha vida diariamente dentro da UFRN, posso dizer que me sinto em casa lá no Campus! Até cheguei a cursar 1 ano do Mestrado em Estudos da Mídia. Foi uma pena para mim não ter conseguido concluir, contudo, duas situações importantes mudaram meus rumos. Fiquei grávida da minha  filhinha mais nova e tive que me mudar para São Miguel do Gostoso para implantação da Vila Emanuelle B&B Pousada Boutique tudo ao mesmo tempo! Foi bem difícil largar tudo, todo o esforço, todo o sacrifício, mas a verdade é que sou muito exigente para fazer uma coisa tão importante quanto um mestrado de qualquer jeito. Renunciei, por enquanto, mas ainda tenho pretensões de retornar a área acadêmica que tanto amo. Tenho excelentes recordações, dos colegas, professores, amigos. De tudo. Vi a universidade passar por uma transformação importante para melhor e isso me satisfaz muito, pois sei do esforço de toda a comunidade acadêmica para torna-la no que é hoje, uma universidade de excelência.

Ponto Zzero: Jornalismos ou Rádio e TV?  
Não  tenho como escolher, tenho ambos dentro de mim e os mesmos se unem e se complementam. Me tornaram uma profissional versátil e me auxiliam e todos os aspectos da minha vida. São como filhos, não tem como escolher qual você ama mais.

Ponto Zzero: Qual livro você atualmente está lendo e recomenda?
Adoro ler. Sou de fazer “maratona de leitura”, e só largar um livro na última página. Entretanto a rotina de mãe e profissional tem me impedido de me dedicar de maneira mais constante à literatura.  Por isso, no momento estou lendo poesia, os textos menores me permitem manter a reflexão sem tomar tanto tempo. Atualmente estou lendo “As flores do mal”, livro de poesia de Charles Baudelaire, mas também leio poesia infantil para as crianças, estamos lendo O menino azul da Cecília Meireles, uma doçura do começo ao fim.

Ponto Zzero: Você está atuando como jornalista no momento, quais os seus projetos?
Além de outras funções não ligadas ao jornalismo, analiso redes sociais o que me mantém ativa na área. Entretanto em breve (notícia de primeiríssima mão) vou publicar uma página na internet, para falar de coisas que amo, como viagens, gastronomia, literatura, esporte, cultura, etc. São assuntos que adoro e tenho bastante conhecimento, por isso, vou compartilhar um pouco. Tenho projetos mais ousados também, mas sobres esses a gente conversa mais adiante. Certamente será um prazer conversar com o RN online novamente quando inaugurarmos o site!