quarta-feira, 29 de junho de 2016

Crítica | Radiohead - The Bends

Após o debut irregular em Pablo Honey (1993), o Radiohead volta em seu 2º álbum de estúdio, The Bends, com mais criatividade e eleva seu conceito musical com elementos mais acessíveis ao público, embora se martirize excessivamente nas letras. Lançado no dia 13 de Março de 1995 e com produção de John Leckie, este trabalho conta com 5 singles, com destaque para "Fake Plastic Trees", possivelmente a melhor composição do grupo britânico.

Em sua abertura espacial, "Planet Telex" é um claro alento à disposição sonora da banda; "todos estamos quebrados…", salienta Yorke com sua mente girando em um mundo desnorteado; "The Bends", a faixa-título, retorna ao plano tradicional enquanto questiona: "Para onde vamos daqui?", em mudanças repentinas de altos e baixos na instrumentação, novamente falando sobre seu lugar no mundo, comparando sua terra com um "mar de medo".


O belo riff acústico de "High and Dry" antecede a melodia agradável cantada por Yorke, ao qual se eleva suavemente no refrão: "Não me deixe mal, não me deixe sozinho…", pede em um ambiente acolhedor até a guitarra ganhar notoriedade com um solo bem introduzido por Jonny Greenwood nesta peça bem elaborada; continuando com a elevação artística, "Fake Plastic Trees" entra em cena para conquistar de vez o ouvinte com seu charme no violão e sua melodia doce com toques de romantismo. Sua construção bem definida, com uma letra que deixa em evidência a falta de autenticidade no mundo, se guia até um clímax intenso para logo voltar ao estado inicial reluzente, se consagrando como a melhor peça do disco e do grupo.


"Bones" tenta colocar sentimentos nos ossos do ouvinte com sua forte presença instrumental; "não quero ser um inválido destruído…", diz o protagonista na canção mais pesada do álbum, contrapondo com "(Nice Dream)" em seu suspiro nos raios de sol, deleitado o viajante em sonhos puros que fazem alusão aos anjos celestiais até a guitarra entrar com fervor em sua reticência organizada.

"Just" entra em uma ambientação demasiada grunge e destoa do restante do disco com ataques pessoais e uma letra por vezes desagradável; "My Iron Lung" utiliza alguns elementos da faixa anterior, mas é mais acessível em seus primeiros arcos, com solos controlados na guitarra e melodia que tenta alcançar uma nota única no topo, mas seu terceiro movimento retorna com a instrumentação afligida e desmonta a conexão com o ouvinte.

"Bullet Proof… I Wish I Was" mostra a fragilidade emocional do viajante solitário; "eu desejaria ser à prova de balas…", revela em melodias aprazíveis, guiada por um ritmo lento e conjurado dos instrumentos em sua autêntica abertura sentimental, também embalada pelo belo clima de romance em "Black Star" com sua letra profunda na compreensão do amor, acendendo o ritmo com a grande combinação de bateria e guitarra em seus encontros programados decrescentes, sendo uma peça rara no disco, ao qual dá continuidade ao mesmo conceito musical em "Sulk" em seus versos, embora aqui a guitarra exagere em sua dimensão.

Como libertação emocional, "Street Spirit (Fade Out)" surge de modo icônico com seu arpejo, como se entrasse em um túnel escuro de lamentação para extrair do sofrimento as lições mais valiosas de cura interna. É definitivamente a canção mais lúgubre da banda, especialmente com a constância que Yorke dá no refrão, sem quebras, poetizando um estado de espírito assolado pelo tempo; mas também é uma reconquista para quem enfrenta a obscuridade e encontra luz no fim do caminho, sendo capaz de levar o ouvinte ao seu renascimento.

Os 9 álbuns de estúdio do Radiohead: Pablo Honey (1993), The Bends (1995), OK Computer (1997), Kid A (2000), Amnesiac (2001), Hail to the Thief (2003), In Rainbows (2007), The King of Limbs (2011) e A Moon Shaped Pool (2016).