Há
quatro anos, Thiaguinho lançou na
web de forma extra-oficial, sem alarde, o primeiro disco pós-Exaltasamba, Acústico (Independente, 2012), espécie de ensaio do repertório
registrado no DVD e CD ao vivo Ousadia
& alegria (Som Livre, 2012), primeiro título oficial da carreira solo
do artista, editado naquele mesmo ano de 2012 com distribuição nacional.
De
lá para cá, o cantor e compositor paulista arriscou ir (um pouco) além do
pagode romântico no EP digital Mais e
mais (Som Livre, 2013), recuou no álbum seguinte Outro dia, outra história (Som Livre, 2014) - o disco do
contagiante pagode Caraca, muleke!
(Thiaguinho e Gabriel Barriga, 2014) - e ousou mais no álbum indie Hey, mundo (FVA Music, 2015), trabalho
em que fez incursões pela black music.
#vamoqvamo - gravação ao vivo lançada em maio deste ano de 2016
pela gravadora Som Livre em edição digital e nos formatos de CD, DVD e de
CD+DVD - é outro recuo do artista projetado como vocalista do grupo de pagode Exaltasamba, no qual permaneceu de 2003
a 2012. Logo após a oração feita pelos integrantes da produção antes do show
gravado ao vivo em 20 de janeiro deste ano de 2016 no Nailia Beach Club, na
cidade do Rio de Janeiro (RJ), o ouvinte escuta Thiaguinho falar no palco em "energia positiva para começar o pagode".
Justiça
seja feita: #vamoqvamo não tem
ousadia, mas tem alegria. Tem mesmo essa "energia positiva" propagada pelo cantor e perceptível logo no
lê lê lê do pagode que batiza a gravação, Vamo
que vamo (Thiaguinho, Rodriguinho e Gabriel Barriga, 2016).
Com
carisma, Thiaguinho dá voz a pagodes
levados em alto astral, casos de Cancún
(Billy SP, Pezinho e Tiee, 2016) e de Ponto
para os negrithin (Thiaguinho e Gabriel Barriga, 2015), duas das músicas
inéditas inseridas em roteiro construído sem tom revisionista. Ambas são
cantadas sob chuva de bolas de sabão, em efeito que acentua o clima festivo da
gravação ao vivo.
O
repertório rebobina a alegria industrializada inclusive nos duetos feitos por Thiaguinho com Belo - em Pra gente ficar
legal (Prateado e Luiz Cláudio Picolé, 2016) - e com Toni Garrido, convidado de Asas
(Tato, 2000), incursão pagodeira pelo repertório do grupo de forró Falamansa.
Outro
convidado do DVD, Lucas Lucco
preserva a vivacidade da gravação ao vivo quando entra em cena para dividir com
Thiaguinho a interpretação do
sambanejo universitário Palmas (Edu
Valim, Renan Valim, Magno Sant'anna e Tierry Coringa e Lucas Lucco, 2016).
Mesmo
sem conter rasgos de inspiração melódica e poética, o repertório cantado por Thiaguinho em #vamoqvamo geralmente evita o chato chororô do pagode romântico.
Nem mesmo o diálogo afetivo travado com a cantora Maria Rita em Desliga você
(Eder Miguel e Cleverson Luiz, 2016) soa lacrimejante. Há até um jogo de cena.
Os cantores iniciam o dueto de costas um para o outro, mas se aproximam à
medida que o pagode avança, propondo o reencontro do casal separado.
Com
pouca variação rítmica, o show eternizado em #vamoqvamo soa linear, mas mantém o pique até o fim com a entrada
de Péricles em Vê se me escuta (Rodrigo FR, 2015) - regravação de pagode lançado
pelo Grupo Revelação no ano passado
- e com o revival infalível de Caraca,
muleke! no fecho do roteiro.
Feita
sob a direção musical de Rodriguinho
e do próprio Thiaguinho, #vamoqvamo carece de ousadia, como já
foi dito. Um maior rigor estilístico faria Thiaguinho
realçar mais o tom sedutor de Marrom
bombom (Délcio Luiz e Ronaldo Barcellos, 1995), sucesso do grupo Os Morenos. Contudo, se faltam reais
ousadias, sobra alegria na segunda gravação audiovisual de show da carreira
solo de Thiaguinho.