Sabe
o que acontece quando chega a sexta-feira? Os lançamentos de várias faixas nos
serviços de streaming do mercado. Eu estava vendo as novidades que tinham para
mim e, por ter ouvido algumas horas de Britney
Spears para fazer as resenhas da semana para o Ponto Zzero, recebi uma enxurrada com diversos novos nomes do pop.
Um
dos nomes que eu fiquei ouvindo foi a Era
Istrefi. Nunca tinha ouvido falar. Até porque eu não sou um consumidor
ávido de pop do leste europeu. Enfim, dei um play e fiquei compenetrado em
minhas atividades. Achei que a música ‘Bonbon’
estava no looping, mas era um single com diversos remixes. No final das contas,
eu curti o som dela, mas tinham alguns remixes que saíram melhor que a
encomenda. Isso pode ser um problema?
O
remix surgiu lá nos anos 70, quando produtores sacaram que era possível
modificar a música depois que ela havia sido gravada. Esse talento pós-produção
ajudou a moldar o rock nos anos 60, geração que usou AND abusou de efeitos,
distorções, modulações e tudo mais que tinham a disposição. O remix que
consumimos hoje foi desenhado por um senhor chamado Tom Mould.
Amante
da disco music, o produtor estadounidense começou a colocar batidas e estender
cantigas para acompanhar os ritmos dos bailes que frequentava. Foi ele também
que criou o vinil de 12 polegadas, item essencial para tocar nos bailes. A cena
de Nova York fervilhava com esta recente invenção. Era algo de outro mundo
juntar uma música na outra e fazer a intersecção de músicas diferentes.
Alguns
anos atrás era comum ver lojas que vendiam discos com remixes de sucessos de
rádio. Cada lugar tinha o seu DJ incumbido em transformar todo e qualquer som
em algo dançante e que pudesse fazer bonito na pista de dança. De MPB até rock
pauleira. Eu sempre achei tudo meio igual. Para mim, eles baixavam os
instrumentos da música original, mandavam um autotune na voz e uma batida
póperô meio brega. Não parecia ter desafio algum naquelas músicas. A ideia para
mim de um remix é deixar o artista original com uma pulga atrás da orelha: putz,
eu podia ter feito isso.
Como
está o remix atualmente?
Hoje,
o remix não desconstrói apenas cantigas, mas qualquer acontecimento corriqueiro
que esteja no YouTube. Eu sou um grande admirador do Schmoyoho. Esse cara é responsável por um dos remixes mais
conhecidos do YouTube: Hide Your Kids,
Hide Your Wife. O vídeo tem uns cinco
anos, mas eles seguem atualizando o canal com boas novas. Toda semana tem algum
remix com alguma história atual. Nesta semana, por exemplo, eles deram uma nova
roupagem para o discurso do intragável Donald
Trump. Só assim mesmo para curtir as palavras do candidato republicano à
Casa Branca….
Voltemos
ao nosso assunto. A missão de fazer um remix não é fácil, pois você tem que
agradar os fãs do artista, o artista e a si próprio, claro. Para o integrante
do Bonde do Rolê e do Fatnotronic, Rodrigo Gorky, o importante é pensar se tem como fazer algo
diferente da música original. “É a
primeira coisa que eu penso. Não gosto de remix com cara de remix. Sempre tento
deixar com cara de ‘se o artista tal fosse fazer um disco de estilo tal, como
soaria?'”, contou Gorky, que é responsável por remixes de alguns nomes como
Jaloo, Major Lazer, Jota Quest
e até FUCKIN’ Joelma.
Boss in Drama, figura onipresente da noite paulistana, já lapidou
algumas cantigas de Mahmundi, Karol Conká, Mr. Catra e as transformou em hinos para a pista. “Eu busco imprimir meu estilo, porém,
respeitando a melodia do artista. Não gosto de descaracterizar demais o vocal,
gosto de pegar uma musica que não dá pra dançar e transformar em algo
totalmente pra pista”, explicou.
“Eu gosto demais dos remixes que eu fiz de
música brasileira. Pra mim foram os melhores, pois consegui respeitar as
melodias originais e transformar em algo totalmente dançante. Por exemplo, o
que eu fiz com Elis Regina e Maria Bethânia”.
E
o artista que concebeu a música? O que acha desta história? A Luiza Possi, em recente entrevista a
uma página nacional, levantou um ponto muito importante: tem rádio que vai
tocar a sua música apenas com o remix. “Para
algum lançamento, às vezes, eu chamo alguém para fazer um featuring no remix, o
que é legal. Ja fiz assim com Rappin Hood e Deeplick”, disse a cantora.
Sobre
a desconstrução do artista, ela entregou que ama os remixes relacionados ao Rei
do Pop. Relacionado ao seu trabalho, ela curte quando o DJ muda a levada e a
batida para a pista.
E
aí? Vale tudo para fazer bonito na pista de dança? Ou a obra do artista dever
ser respeitada e não acontecer uma descaracterização na mão do DJ?