domingo, 7 de janeiro de 2018

U2 - Songs Of Experience | Crítica

Songs Of Experience chegou com um ano de atraso. Idealizado como uma sequência ao último álbum Songs Of Innocence, lançado em 2014, e que buscava retratar a infância do grupo, o novo trabalho pretendia demonstrar o U2 amadurecido, após anos de “experiência”. Mas segundo o grupo, o mundo mudou tanto desde o primeiro capítulo, que o atraso foi inevitável. A banda de Bono retrabalhou o que tinha no estoque para refletir o novo mundo: um lugar pós Brexit, e liderado por Donald Trump, temas que combinaram bem com o que já era planejado.


Retrabalhar o álbum foi a melhor coisa que o U2 poderia ter feito. O novo disco está muito à frente do último que o conjunto entregou. Com uma produção mais sólida, Songs Of Experience demonstra o talento do rock do grupo irlandês, que entregou músicas mais pesadas, pegajosas e relevantes do que no primeiro capítulo.

O álbum abre com a sentimental “Love Is All We Have Left”, a única faixa em que a produção erra a mão e solta vocais cheios de auto-tune ao fundo, que se perdem sem motivo. Mas depois o disco melhora muito; a segunda música “Lights Of Home” tem uma melodia ótima, e é definitivamente uma das melhores do álbum. A faixa ainda ganhou uma versão com orquestra excelente, “St. Peter’s String Version”, que é uma das melhores composições lançadas pelo U2 nesta década.


Depois disso, o single “You’re The Best Thing About Me” exemplifica o espírito do U2 que o mundo conhece e não tinha atingido seu melhor em Songs Of Innocence. As seguintes fortalecem ainda mais o poder da banda: a tríade “American Soul”, “Summer of Love” e “Red Flag Day” são o auge do álbum. Além de ganchos cativantes, elas tocam no político de um jeito poético e certeiro. “American Soul” fala sobre refugiados e mentiras políticas, simbolizando bem a música do U2 para a era Trump.

Durante todo o disco, um fator é evidente: a influência do U2 na música atual. Faixa por faixa, o grupo se assemelha a muitas sonoridades que estão em alta hoje, do pop ao rock: dá pra ouvir Coldplay, The Killers e até Taylor Swift (“Get Out Of Your Own Way” poderia ter sido gravada na voz da popstar). Mas nada soa descolado da som que a banda sempre apresentou, comprovando que o que o U2 desenvolveu nos últimos 30 anos continua relevante. “Songs Of Experience” é uma prova de que o grupo de Bono ainda reina, e que seu legado para a música é inegável.
O fim do disco, bem exemplificado por “The Blackout” e “Ordinary Love”, é grandioso e traz uma produção mais semelhante ao predecessor, e  por isso perde um pouco o ritmo, amenizando a predominância de guitarras. O trabalho, no entanto, não perde a coesão, baseada principalmente no tom das letras de Bono. “Songs Of Experience” é um álbum otimista em todos os sentidos; até quando critica o mundo, os temas buscam deixar claro que o amor é maior que a desesperança. O ápice da tese chega em “Love is Bigger Than Anything In Its Way”.

Ter parado para tomar tempo e retrabalhar as faixas foi uma ótima ideia. “Songs Of Experience” é um sucesso do U2 em todos os sentidos: eles conseguiram entregar um álbum que reflete o melhor pop e rock que a banda sabe fazer, com as letras politizadas que Bono gosta, e que exemplifica perfeitamente a importância que os irlandeses tiveram para a música.


O disco estreou direto no topo da parada da Billboard.

NOTA: 9.0

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