Songs Of Experience chegou com um ano de atraso. Idealizado como uma
sequência ao último álbum Songs Of
Innocence, lançado em 2014, e que buscava retratar a infância do grupo, o
novo trabalho pretendia demonstrar o U2
amadurecido, após anos de “experiência”.
Mas segundo o grupo, o mundo mudou tanto desde o primeiro capítulo, que o
atraso foi inevitável. A banda de Bono
retrabalhou o que tinha no estoque para refletir o novo mundo: um lugar pós Brexit, e liderado por Donald Trump, temas que combinaram bem
com o que já era planejado.
Retrabalhar
o álbum foi a melhor coisa que o U2
poderia ter feito. O novo disco está muito à frente do último que o conjunto
entregou. Com uma produção mais sólida, Songs
Of Experience demonstra o talento do rock do grupo irlandês, que entregou
músicas mais pesadas, pegajosas e relevantes do que no primeiro capítulo.
O
álbum abre com a sentimental “Love Is All
We Have Left”, a única faixa em que a produção erra a mão e solta vocais
cheios de auto-tune ao fundo, que se perdem sem motivo. Mas depois o disco
melhora muito; a segunda música “Lights
Of Home” tem uma melodia ótima, e é definitivamente uma das melhores do
álbum. A faixa ainda ganhou uma versão com orquestra excelente, “St. Peter’s String Version”, que é uma
das melhores composições lançadas pelo U2
nesta década.
Depois
disso, o single “You’re The Best Thing
About Me” exemplifica o espírito do U2
que o mundo conhece e não tinha atingido seu melhor em Songs Of Innocence. As seguintes fortalecem ainda mais o poder da
banda: a tríade “American Soul”, “Summer of Love” e “Red Flag Day” são o auge do álbum. Além de ganchos cativantes, elas
tocam no político de um jeito poético e certeiro. “American Soul” fala sobre refugiados e mentiras políticas,
simbolizando bem a música do U2 para
a era Trump.
Durante
todo o disco, um fator é evidente: a influência do U2 na música atual. Faixa por faixa, o grupo se assemelha a muitas
sonoridades que estão em alta hoje, do pop ao rock: dá pra ouvir Coldplay, The Killers e até Taylor
Swift (“Get Out Of Your Own Way”
poderia ter sido gravada na voz da popstar). Mas nada soa descolado da som que
a banda sempre apresentou, comprovando que o que o U2 desenvolveu nos últimos 30 anos continua relevante. “Songs Of Experience” é uma prova de que
o grupo de Bono ainda reina, e que
seu legado para a música é inegável.
O
fim do disco, bem exemplificado por “The
Blackout” e “Ordinary Love”, é
grandioso e traz uma produção mais semelhante ao predecessor, e por isso perde um pouco o ritmo, amenizando a
predominância de guitarras. O trabalho, no entanto, não perde a coesão, baseada
principalmente no tom das letras de Bono.
“Songs Of Experience” é um álbum
otimista em todos os sentidos; até quando critica o mundo, os temas buscam
deixar claro que o amor é maior que a desesperança. O ápice da tese chega em “Love is Bigger Than Anything In Its Way”.
Ter
parado para tomar tempo e retrabalhar as faixas foi uma ótima ideia. “Songs Of Experience” é um sucesso do U2 em todos os sentidos: eles
conseguiram entregar um álbum que reflete o melhor pop e rock que a banda sabe
fazer, com as letras politizadas que Bono
gosta, e que exemplifica perfeitamente a importância que os irlandeses tiveram
para a música.
O
disco estreou direto no topo da parada da Billboard.
NOTA: 9.0
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