Madonna é uma artista revolucionária. Não é a melhor cantora
do mundo, tampouco tentou ser, mas tornou-se inesquecível pelas contribuições
no bojo da cultura pop, bem como a longevidade de sua carreira, algo
surpreendente dentro numa manifestação cultural conhecida por seus produtos
efêmeros, prosaicos e banais. Em 1992, após mudar o conceito de espetáculo com
a Blond Ambition e causar furor com
o documentário Na Cama com Madonna,
a artista investiu em um novo trabalho que tinha a sexualidade como ponto de partida
para discussões sobre outros temas caros para a sociedade nos primeiros anos da
década de 1990.
Quinto
álbum de estúdio, Erotica tratou de
quebra de tabus, entre eles, a reflexão sobre desejos sexuais femininos, as “nossas fantasias eróticas de cada dia” e
a necessidade de se expressar, temática abordada com êxito em Express Yourself. “Minha vagina é um templo de aprendizado”. Foi nessa linha que Madonna chocou o mundo ao tratar de
temas tão polêmicos numa sociedade que lidava com as celeumas dos impactos da AIDS na década anterior, a
homossexualidade regrada aos guetos e o conservadorismo e seus discursos de
ódio.
Após
quase três décadas, o álbum continua bastante relevante, principalmente se
pensarmos as discussões sobre sexualidade e comportamento na atualidade. Com
sonoridade crua, microfones pouco sofisticados para estabelecimento da
atmosfera desejada e som “sujo”, Madonna sussurra, geme, canta e encanta
com as faixas que compõe uma de suas obras mais controversas. Apesar de ser
vendido e discutido como uma realização sobre sexualidade, Erotica discute temas como aceitação, homofobia, amor e racismo.
Em
seus 75 minutos e 24 segundos, o álbum produzido por Madonna, em parceria com André
Betts e Shep Pettiboni, trata
dos temas apontados através da sonoridade hip hop, da dance music, do estilo
house, com acréscimo de elementos do jazz, blues e presença de saxofones e
pianos para a lapidação que resultou no material para o lançamento da astuta
turnê The Girlie Show, a primeira de
Madonna no Brasil, em 1993.
Erotica foi o primeiro single do álbum. Com sobreposição de
camadas sonoras e influências do dance-pop e do trip-hop, a canção em vocal
spoken-word também trouxe elementos do new jack swing, estilo musical híbrido
da mescla entre hip hop e do som urban contemporany. Repleta de batidas de rua
e solos harmoniosos, a faixa traz em seu “tom”
as técnicas do sample. No famoso e polêmico videoclipe dirigido por Fabien Baron, Madonna desempenha o papel do alter-ego Dita Parlo, tendo como companhia Naomi Campbell, Isabela
Rosselini e o rapper Vanilla Ice.
Com
sonoridade que nos remete aos anos 1970, Madonna
cita Vogue em Deeper and Deeper, faixa interpretada como o desvendar da
homossexualidade de um rapaz jovem. Segundo single do álbum, a canção tem traços
do dance-pop e da deep house, isto é, estilo musical originado nos anos 1980,
conhecido por fundir soul music, jazz e funk. Complementada com uso de
guitarras flamencas, a faixa ganhou videoclipe dirigido por Bobby Woods.
Bad Girl, terceiro single do álbum, é uma canção sobre a
solidão e a confusão de sentimentos. A artista assina a composição melancólica,
juntamente com Shep Pettiboni e Anthony Shimkin, faixa que segue o
apelo controverso de Madonna na
época: escândalos envolvendo as suas incursões sexuais na mídia, marcando
também um ponto de virada na carreira da musa pop, haja vista que foi um dos
seus fracassos comerciais, mesmo com o lançamento do videoclipe cheio de
estilo, dirigido por David Fincher. Bad Girl é uma canção “suja”, que fala sobre fumar cigarros
demais e consolar-se com amantes pelos quais não se nutre nenhum sentimento. A
letra trata de uma mulher que está diante de um estilo de vida perigoso, após
uma decepção amorosa. Bad Girl deixa
claro que, após o final de um relacionamento, a pessoa sente-se vazia e cheia
de dúvidas diante do mundo opaco que se configura quando alguém precisa deixar
uma pessoa que ama.
Fever, composição de John
Davenport e Eddie Cooley, foi o
quarto single do álbum, com videoclipe multicolorido dirigido por Stephane Sednoour. Através de elementos
dance-pop e house, a faixa investe na melodia e traz uma interpretação nova
para uma canção já interpretada por diversos artistas anteriormente. Em Rain, balada pop composta por Madonna e Shep Pettiboni, momento calmo e límpido do álbum, temos a artista
traçando uma comparação entre o efeito da chuva e o amor, dando ênfase para a
simbologia da água na purificação de “sujeiras”
de nosso cotidiano. Com elementos do adult contemporany e do trip hop, a faixa
deu origem ao videoclipe dirigido por Mark
Romanek, produção que também fez sucesso, com cenas de uma versão
contemplativa da cantora, numa prova de que o álbum foi muito além das
reflexões sobre desejos sexuais e transgressões.
Controverso,
o álbum sofreu consequências comerciais por conta de alguns elementos
limitadores, tais como faixa etária para acesso ao material e a onda
conservadora que reforçou o trabalho como algo “sujo”, “vulgar” e “impróprio”. Lançado na esteira de Corpo em Evidência e do livro Sex, Erotica alcançou o devido reconhecimento crítico com o tempo. Madonna, por sua vez, não deixou de
continuar com trabalhos polêmicos e desafiadores. Não é a toa que ostenta,
ainda nos dias atuais, o justo título de Rainha do Pop.
Aumenta: Deeper and Deeper
Diminui: Waiting
Erotica
Artista: Madonna
País: Estados Unidos
Lançamento: 12 de outubro de 1992
Gravadora: Warner
Estilo: Dance-Pop,
R&B, Trip Hop, Hip Hop, New Jack Swing
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