sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Crítica: The Discovery

Há 5 anos, quem imaginaria que nossa querida Netflix estaria distribuindo produções originais super criativas e com elencos tão encorpados? The Discovery é a nova atração exclusiva do catálogo que, mesmo possuindo um roteiro surpreendente e atores competentes, deixa seu público um tanto insatisfeito e buscando compreender o que não precisaria caso a história fosse mais clara. Todavia, o filme é um bom divertimento pronto para ser explorado pelos fãs de ficção que adoram refletir sobre vida após a morte, e que com certeza vai agradar até os expectadores menos exigentes com um recheio amoroso de se admirar.

Inicialmente, logo na primeira metade do filme, o público consegue notar uma grande semelhança dos aspectos técnicos e temáticos com a série The OA (também Original Netflix). O pós-vida, a busca amorosa e os tons frios acompanham os minutos de ambas produções intimamente, mas não exatamente da mesma forma. O filme possui uma abordagem de desenvolvimento bastante lenta, com uma leve utilização da trilha sonora apenas em momentos específicos (diferentemente da série).

Após comprovar cientificamente a existência de vida depois da morte, um cientista chamado Thomas Harbor (Robert Redford) vê sua descoberta liberar um verdadeiro caos em meio a população, causando uma onda de suicídios. Em meio a este turbilhão, Will (Jason Segel) se apaixona por Isla (Rooney Mara), uma mulher que tem um passado marcado por eventos trágicos. A crescente paixão de Will por Isla rende diálogos formidáveis (e importantes) em cenas despretensiosas, engrandecendo o enredo do filme, que em nenhum momento se perde de seu objetivo central: o relacionamento do casal.

Em alguns momentos é normal questionarmos a narrativa em itens como a verossimilhança do gigantesco número de suicidas que decidem perder suas vidas na terra apenas com o propósito de “chegar lá” (como os personagens dizem). Outro fator mal aprofundado é a própria prova da existência de vida após a morte, mas essas questões se mostram não tão cruciais para a história após compreendermos realmente qual a mensagem do filme no fim do segundo ato. Os personagens (principais e secundários) possuem singularidades observáveis, como as expressões faciais contínuas e o humor perspicaz que aparece entre uma cena ou outra para dar engrossar o enredo.

Um ótimo exemplo é a forte presença do irmão de Will, Toby (interpretado pelo fantástico Jesse Plemons), deixando sempre uma pequena marca cômica. Isla por sua vez traz a beleza e a aparente ingenuidade que se equilibra com sua incrível habilidade de “decifrar” as personalidades das pessoas (destaque para Rooney Mara que a representa talentosamente). Will se mostra ser o protagonista do filme, tomando decisões e se mostrando sensível apesar de seu exacerbado ceticismo, um papel que caiu bem para o ator Jason Segel, que não decepciona. Até o experiente Robert Redford se sai bem em seu papel coadjuvante, doando carisma e conhecimento em diversas se suas falas.

A direção de Charlie McDowell não chega a ser ruim, mas não impressiona. Sua escolha de planos não agrada em certas cenas, apostando em ângulos confusos e desnecessários. A arte não explora tão bem a ambientação dos cenários, se salvando apenas na maquiagem, no figurino e na paleta de cores elaborada junto ao experiente diretor de fotografia Sturla Brandth Grøvlen. Mas afirmo que a valiosa peripécia do filme é o roteiro, que embora seja o mais questionado aspecto da obra, é também o mais precioso deles. Justin Lader constrói uma história coesa e intrigante, que se faz genial com um “plot twist” (virada inesperada) imponente e arriscado ao fim do filme, que explica a maioria dos acontecimentos imprevisível e imperceptivelmente aos olhos do expectador em seu primeiro contato.

Mas querendo se reinventar e partir de um conceito antes não transmitido, o roteiro também acaba confundindo o expectador, deixando para trás algumas pontas soltas e inacabadas. Embora essas questões sejam pontos negativos claros, não são o suficiente para tornar o filme desinteressante ou mesmo ruim, pois é claro o envolvimento do público desde o começo da história até seu final, ainda que seu desenrolar seja lento e gradativo, o que caracteriza a obra como estimulante e rara no que vemos frequentemente em ficções científicas. The Discovery vale a pena ser conferido só pelas ótimas atuações e seus diálogos muito bem difundidos, principalmente por sua história que balanceia o romance e o drama de uma maneira extraordinária.

A temática da vida após a morte se mostra cada vez mais presente e abrangente, sendo trabalhada de inúmeros jeitos, através de conceitos diferentes (do profundo ao razo), incentivando roteiristas de todo o mundo a pesquisarem mais sobre essa área tão misteriosa (talvez a mais desconhecida) de nossas vidas, a fim de criar questionamentos e indagações sem respostas, o que não é nem de longe ruim, pois a argumentação e a opinião deve ser valorizada, independente do embasamento científico, algo que o filme faz com louvor.

FICHA TÉCNICA

Direção: Charlie McDowell
Roteiro: Justin Lader, Charlie McDowell
Elenco: Jason Segel, Rooney Mara, Jesse Plemons, Robert Redford, Riley Keough, Ron Canada, Mary Steenburgen
Produção: Alex Orlovsky, James D. Stern
Fotografia: Sturla Brandth Grøvlen
Gênero: Ficção Científica / Drama
Duração: 102 min.

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