quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Síndrome do fã das antigas (também conhecido como underground)

Eu gostava mais do primeiro disco”. “Eles perderam a essência”. “O som está muito comercial”. Como em qualquer grande festival que anuncia suas atrações, surge uma enxurrada de comentários de fãs (ou não) falando sobre a line-up. Foi assim na semana passada com o Lollapalooza. Eu tenho as minhas ressalvas sobre as escolhas do evento, mas é impressionante como ainda existe a síndrome de underground. Se a sua banda favorita foi escolhida para tocar num festival de grande porte é motivo de comemoração ou desânimo?

Como eu e você, artistas têm que pagar as contas em dia para não ficar com o nome sujo na praça. O fã ‘das antigas’ acha que o seu artista deve permanecer tocando para poucos e bons, recusar propostas de gravadoras, fazer uma parceria fora da curva ou participar de alguma campanha comercial. Não estou dizendo que todos devem pensar em bombar quando for lançar alguma coisa nova e ganhar rios de dinheiro. É muito romântico e inocente pensar dessa forma. Eu acredito que qualquer pessoa que tenha um som próprio, deve pensar que seria ainda mais bacana ter a sua música impactando mais gente por aí. Veja bem, não estou falando em atingir, pois, se sendo assim, você pode pagar um jabá em rádios, sites ou TV e vai ter sua cantiga rodando por alguns meses e impactar uma galera, bem fácil.
Vou pegar um exemplo que está no festival e que eu acompanhei desde o comecinho. Eu sou um ‘fã das antigas’ do The Weeknd e acho incrível o tamanho que ele está hoje. O empurrão de “50 Tons de Cinza” foi fundamental para popularizar o som do cara. Quando ele começou com uma mixtape chamada “House of Ballons” e ganhou ótimas resenhas em blogs. Ele começou a tocar em festivais descolados e o single “Wicked Games” fez um barulho interessante no YouTube por conta do clipe simples que brincava com sombras. Foram quatro anos que separaram o cantor canadense de festinhas em lugares secretos para se tornar headliner de peso em qualquer região do globo. E ele não mudou d’água para o vinho.

As músicas seguem a mesma estrutura: R&B com gritinhos, uns graves pesados e letras que abordem relacionamentos que deram certo (ou não). O fã das antigas bate na tecla de perder a essência do som. Este fator não pode ser aplicado ao Weeknd, pois ele faz praticamente a mesma coisa. Apenas embalaram ele de uma forma diferente para o público e voilá.

É meio bizarro você ainda ter este protecionismo com a sua banda predileta em tempos de YouTube e Spotify, pois fica difícil você esconder o que curte para os seus amigos. Quando eu era moleque, a minha formação musical foi iniciada num clube de amigos chamado Vênus Comics, localizado na cidade do Natal. Eu gostava muito de rock, pop e eletrônico, como Alanis Morissette, Aerosmith, No Doubt e Garbage, e este lugar era onde meus amigos de adolescência compartilhavam seus sons através da MTV e da rádio Transamérica.
Depois desta época, eu comecei a ouvir umas bandas mais pop e acompanhei o mesmo fenômeno dentro das páginas que passei a escrever. Vale lembrar que ainda não existia plataforma de streaming com seus algoritmos para fazer uma playlist com coisas de seu gosto toda a semana. Se você quisesse ouvir algo novo e interessante, tinha que ser na unha.

É meio bizarro ver a síndrome de underground perdurar por tanto tempo e em estilos diferentes. De NX Zero a Cansei de Ser Sexy. De The Weeknd a Chainsmokers. Dá um certo prazer encontrar novos nomes dentro da música – sendo na internet ou em algum festinha por aí. O grande ponto é como você se comporta ao estar de frente de um novo talento: guardar isso a sete chaves e mostrar para poucos (e bons) ou estar disposto abrir esta descoberta para um público maior? O grande exemplo disso é nossa eterna rainha da dor Alanis Morissette e a banda No Doubt.