O
próximo disco da Lady Gaga será um
estrondoso sucesso como nunca visto antes. Vai ser impossível que o Maroon 5 consiga chegar ao topo da Billboard nos próximos cinco anos. A
música do Major Lazer com o Caetano Veloso ficará em primeiro lugar
em todas as regiões do Velho Continente e, por incrível que pareça, nas Ilhas
Cayman também. Estes foram apenas chutes e devaneios sobre alguns lançamentos
que podem ser impactantes, porém, imagine se pudéssemos dar chutes certeiros
desta maneira? Em qualquer série de eventos aleatórios (como os exemplos que eu
dei), há uma possibilidade de que um acontecimento dê certo.
A
inspiração para este texto deu-se em favor a um livro chamado ‘O Andar do Bêbado’, que eu comecei a
ler há alguns dias e estou amando. Quando peguei o título em mãos, eu achei que
fosse algo relacionado a cultura boêmia, mas eu errei feio. Este nome vem de
uma analogia que descreve o movimento aleatório, como os trajetos seguidos por
moléculas ao flutuarem pelo espaço, chocando-se incessantemente com as suas
moléculas irmãs. Traduzindo e trazendo um pouco para a nossa realidade: O autor
do livro, Leonard Mlodinow, busca
ilustrar o papel do acaso no mundo que nos cerca e mostrar de que modo podemos
reconhecer sua atuação. Ou seja, mostrar a aleatoridade de um ângulo diferente
e o impacto que ela tem em nossas vidas.
Um
paralelo que ele traça para defender a sua tese é a vida de Hollywood. Os
investimentos para um longa-metragem são altíssimos, na casa de milhões. Quando
eles fecham um contrato e começam a rodar, existem diversos fatores que possam
colocar o filme em evidência. Ele vai ter uma boa distribuição? Qual é o
casting? Em qual época do ano que ele será lançado? E por aí, vai… Mesmo que
você tenha preenchido todos estes requisitos, não é garantia que o filme seja
um sucesso.
Um
bom exemplo é um filme de terror caseiro que foi uma das maiores bilheterias do
cinema dos anos 90. O investimento em “Bruxa
de Blair” foi de ‘míseros’ 60 mil dólares, uma quantia que não existe no
mundo do cinema. O retorno que eles tiveram foi de mais 140 milhões de Obamas.
Isso quer dizer que qualquer produção tosca de terror vai alcançar uma quantia
como essas? Se eles tivessem feito um filme mais arrumadinho não iriam ter
recebido tanta grana? Um antigo executivo de estúdios chamado David Picker disse uma vez: “Se eu tivesse dito sim a todos os projetos
que recusei, e não a todos os que aceitei, a coisa teria funcionado mais ou
menos da mesma maneira”.
Tudo
o que o seu artista fez, a Madonna
fez antes. Ela é a história do pop em carne e osso, mas nem sempre foi assim.
No comecinho dos anos 80, a cantora estava batalhando para gravar o seu
primeiro disco e mandou a sua demo para diversas gravadoras. Uma delas foi a Millenium Records, onde recebeu uma
resposta do presidente da empresa dizendo que ela era boa, mas ainda não estava
pronta para lançar um trabalho cheio. Se ele tivesse ouvido melhor, levado o
som dela para mais pessoas ou pedido uma nova demo, a história da Millenium
seria bem diferente. No mesmo ano, a cantora fechou um contrato com a Sire Records e começou a decolar com
singles como ‘Everybody’, ‘Burning Up’. O maior artista que a Millenium Records fez foi o irmão do John Travolta… Sim, eu também fiz a
mesma pergunta: Quem sabia que o irmão do John
Travolta era cantor?
Estive
pensando em algum exemplo da música brasileira que possa cair neste poço da
aleatoriedade. Logo eu pensei em alguns hits e o funk me acertou em cheio. O Dennis DJ é um prolífico produtor
carioca que sempre está lançando algo. Seja música própria, remix ou parceria
com algum cantor(a). Quando ele lançou ‘Malandramente’ foi a mesma receita das
outras composições que ele soltou, mas uma série de fatores contribuíram para a
música viralizar.
Antes
de ganhar clipe e coreografia, a comunidade gamer já tinha uma porrada de memes
que envolviam a música. Essa foi uma divulgação maciça e orgânica. A piada com
a letra e paródias em vídeo estavam a todo vapor. Para termos um pouco da
dimensão que Malandramente tomou: ele conseguiu bater Drake, Justin Bieber, Rihanna e Fifth Harmony em território brasileiro no Spotify por algumas semanas. A música ‘Malandramente’ ganhou versão em forró, axé, rock, brega e foi
interpretada por Ivete Sangalo e Wesley Safadão em alguns shows.
De
certa forma, portanto, a aleatoriedade — ou melhor, a sensação de aleatoriedade
— é conseqüência direta da nossa capacidade de compreender — e portanto, poder
adivinhar futuro. Isso é algo muito difícil de afirmar, mas, vamos lá. Se
podemos prever o futuro com a compreensão de fatos e aplicar em nossa
realidade, como explicar ‘flops’ que acontecem todas as semanas nos charts.
Como explicar bandas ganharem dimensão mundial da noite para o dia? Por mais
que consigamos prever alguns resultados muito por conta de acúmulo de
informações (big data), ter uma fórmula exata sobre o que vai dar certo ou
errado é algo que valha uma boa fortuna.
O
mercado da música vai remando conforme a maré. Quando estoura uma cantora meio
jazz, outras gravadoras vão tentar emplacar uma cantora de jazz. Se um cantor
de sertanejo bombado e com sorriso de comercial de pasta de dente surgir e
causar algum burburinho, você vai encontrar mais uma dúzia no mesmo formato. É
muito difícil que uma gravadora ou selo vá contra o que está acontecendo e
abrace a aleatoriedade em seu processo de seleção de novos talentos. Como a
pessoa vai defender a contratação de uma artista de folk sendo que todo o
mercado está contratando sambistas? Nadar contra a corrente da intuição é uma
tarefa árdua, mas a história demonstra que chutes podem dar certo. Ainda bem
que tivemos pessoas que quebraram a maré e tivemos lançamentos de Madonna, Amy Winehouse, Beatles, U2 e muitos outros.
Todos
esses eram patinhos feios, tiveram contratos rejeitados e um início de carreira
meio conturbado. Agradecemos ao acaso e a aleatoriedade.