Numa
das principais cenas de “Entre Idas e
Vindas”, novo filme do brasiliense José
Eduardo Belmonte, quatro mulheres e um homem fazem uma aposta durante uma
festa em que entraram quase como penetras.
O
homem pegou carona com as jovens após o carro pifar. A gasolina do trailer
acabou ali naquela cidade interiorana. À mesa, eis o desafio: ganha quem contar
a pior e mais amarga decepção amorosa.
Cineasta
conhecido por trabalhar em escalas diversas, do drama urbano “Se Nada Mais Der Certo” (2008) – ainda
seu melhor filme – ao thriller policial “Alemão”
(2014), Belmonte narra aqui um road movie sentimental a partir das relações (de
afeto, estranheza, compaixão) entre as pessoas.
De
alguma maneira, todos os personagens do filme parecem machucados por
experiências amorosas do passado. Afonso (Fábio
Assunção) pega a estrada com o filho, Benedito (João Assunção, filho do ator), a bordo de um velho Lada. O destino
é São Paulo: eles pretendem reencontrar a mãe do menino (Marisol Ribeiro), que abandonou a família há seis anos, sem dar
explicações plausíveis.
Comédia
romântica em formato clássico
Atendentes
de telemarketing, as quatro jovens planejam uma despedida de solteiro para uma
delas: Amanda (Ingrid Guimarães),
chefe das colegas, Krisse (Rosanne
Mulholland), Cillie (Caroline Abras),
a piadista da turma, e Sandra (Alice
Braga), que no meio da viagem descobriu uma traição do noivo e não sabe
mais se quer mesmo se casar.
Como
em boa parte dos filmes de Belmonte, as melhores cenas têm menos a ver com a
trama (Afonso se afeiçoa por Amanda) do que com o que envolve, afasta ou
aproxima os personagens.
Dentro
da estrutura clássica das comédias românticas, o diretor consegue imprimir
marcas próprias, como a presença da câmera entre os corpos, ali a testemunhar o
suor, um sorriso tímido, um pequeno gesto de desconforto ou carinho.
Os
personagens transitórios e instáveis do diretor ganham aqui uma catarse
otimista, uma trilha sonora que se excede nas cenas de estrada e uma fotografia
talvez cristalina demais, sufocando ambiguidades e conflitos.
Ainda
assim, entre deslizes e acertos nessa busca por uma estética mais solar, “Entre Idas e Vindas” exala carisma e é
melhor do que a média das comédias nacionais.