sexta-feira, 21 de outubro de 2016

“Entre Idas e Vindas” é comédia romântica sobre dor e afeto

Numa das principais cenas de “Entre Idas e Vindas”, novo filme do brasiliense José Eduardo Belmonte, quatro mulheres e um homem fazem uma aposta durante uma festa em que entraram quase como penetras.

O homem pegou carona com as jovens após o carro pifar. A gasolina do trailer acabou ali naquela cidade interiorana. À mesa, eis o desafio: ganha quem contar a pior e mais amarga decepção amorosa.

Cineasta conhecido por trabalhar em escalas diversas, do drama urbano “Se Nada Mais Der Certo” (2008) – ainda seu melhor filme – ao thriller policial “Alemão” (2014), Belmonte narra aqui um road movie sentimental a partir das relações (de afeto, estranheza, compaixão) entre as pessoas.

De alguma maneira, todos os personagens do filme parecem machucados por experiências amorosas do passado. Afonso (Fábio Assunção) pega a estrada com o filho, Benedito (João Assunção, filho do ator), a bordo de um velho Lada. O destino é São Paulo: eles pretendem reencontrar a mãe do menino (Marisol Ribeiro), que abandonou a família há seis anos, sem dar explicações plausíveis.

Comédia romântica em formato clássico
Atendentes de telemarketing, as quatro jovens planejam uma despedida de solteiro para uma delas: Amanda (Ingrid Guimarães), chefe das colegas, Krisse (Rosanne Mulholland), Cillie (Caroline Abras), a piadista da turma, e Sandra (Alice Braga), que no meio da viagem descobriu uma traição do noivo e não sabe mais se quer mesmo se casar.

Como em boa parte dos filmes de Belmonte, as melhores cenas têm menos a ver com a trama (Afonso se afeiçoa por Amanda) do que com o que envolve, afasta ou aproxima os personagens.
Dentro da estrutura clássica das comédias românticas, o diretor consegue imprimir marcas próprias, como a presença da câmera entre os corpos, ali a testemunhar o suor, um sorriso tímido, um pequeno gesto de desconforto ou carinho.

Os personagens transitórios e instáveis do diretor ganham aqui uma catarse otimista, uma trilha sonora que se excede nas cenas de estrada e uma fotografia talvez cristalina demais, sufocando ambiguidades e conflitos.


Ainda assim, entre deslizes e acertos nessa busca por uma estética mais solar, “Entre Idas e Vindas” exala carisma e é melhor do que a média das comédias nacionais.