quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Interview with... Gustavo Sobral

Ponto Zzero tem o prazer de publicar a entrevista com jornalista cronista, autor e organizador de diversos livros, Gustavo Sobral, para o livro Impressões Digitaisescritores potiguares contemporâneos, volume II, organização do pesquisador Thiago Gonzaga, CJA Edições, 2014.

O potiguar iniciou seus estudos em Direito, graduando-se em 2006; e em Jornalismo, em 2012, quando também concluiu o mestrado em Comunicação. Hoje, Sobral se dedica exclusivamente a Comunicação – publicando ensaios sobre cultura e literatura do Rio Grande do Norte, a vida e as personagens da cidade de Natal.

O primeiro livro, Arquitetura Moderna Potiguar (2011), uniu a narrativa a fotografias de edifícios representativos da cidade, concebendo também o projeto gráfico do livro e da capa. Visite a página do jornalista clicando aqui.


1. Gustavo Sobral, onde você nasceu? Relate-nos um pouco da sua infância e juventude.

Nasci em Natal/RN, no hospital Santa Helena, com a clavícula quebrada. Escapei e fomos morar no Rio por um tempo, no Flamengo, próximo ao Palácio do Catete. “Amar” foi a primeira palavra pronunciada, embalo do sono com “eu sei que vou te amar” de Tom e Vinicius. E a vida começou assim com poesia.

2. E quais foram suas primeiras leituras?

Encontrei a casa dos avós em Natal povoada por romances, crônicas e contos e uma preciosa coleção, a documentos brasileiros da editora José Olympio, debruçado sobre todos os livros, nasceu o leitor.

3. Apresente a sua atividade literária?

Despontou com a coorganização do volume Linguagens (Casa das Musas, 2010), reunião de autores diversos; a que se seguiu Arquitetura Moderna Potiguar (Edufrn,2011).

A organização compartilhada da coleção Newton Navarro (Edufrn,2013), com os livros: O solitário vento do verão, Saudade de Newton Navarro e Sete poemas quase inéditos & outras crônicas não selecionadas; a pesquisa e coautoria do livro dos sessenta anos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (2013), a publicar; e Petrópolis (Offset,2014).

O mais, esparsos, capítulos de livros, verbetes, plaquetes, resenhas, posfácios; e a pequena série Casas, crônicas de Gustavo Sobral e ilustrações de Arthur Seabra, publicada no jornal Tribuna do Norte (2013).

4. Qual a sua formação?

Desenhei e contei histórias no livro da vida, do curso primário. Foi um começo. Aluno desatento, trabalhoso para estudar, vivia sonhando. Até que descobri a literatura, fui parte da academia juvenil de letras, escrevi para a revista e jornalzinho da escola, a vida toda no Complexo Educacional Henrique Castriciano. Segui para o curso de Direito, bacharel e advogado.

Tentei a carreira diplomática, estudei português, inglês, francês e espanhol, economia, história, relações internacionais, frequentei o mestrado em Ciência Política/USP na condição de aluno especial. Cursei jornalismo. Ao mesmo tempo conclui o mestrado em Estudo da Mídia/UFRN, o tema da dissertação, jornalismo cultural. Foi a preparação do escritor.

5. Em qual destas áreas você mais se realiza?

A realização de todas elas é uma só, a escrita.

6. De que maneira sua formação influencia na sua escrita?

De uma maneira total. Escrevo a partir do interesse desperto sobre um determinado tema.

7. Como acontece o seu método de criação?

Escrever é inspiração e técnica. Exercício diário e por etapas, construção de todos os dias.

8. Como você vê o mercado editorial potiguar?

Feiras do livro, encontros literários, selos editorias, gráficas, escritores que despontam e consagrados em ação. Poesia, ficção, livro-reportagem, reedições, publicação de trabalhos acadêmicos. O cenário é promissor, mas se forma em ilhas.

Necessário se faz uma avaliação deste mercado editorial, números de livros publicados, leitores, áreas de interesse, projeção nacional, uma sistematização e uma política para o livro potiguar. Jornais e revistas precisam se voltar para a atividade crítica.

9. É difícil publicar o livro no Rio Grande do Norte?

A dificuldade de publicar é o desafio de se lançar em carreira solo.

10. O que você lê na atualidade?

Revistas tantas, jornais diários, literatura.

11. Quais são suas principais influências literárias?

Paulo de Tarso para conservar o sabor de revelar sutilezas. Marize Castro por ensinar o poder da concisão. Millôr para ter humor. Quintana pela surpresa das revelações. Vinicius de Moraes, poemas, sonetos e baladas. Guimarães Rosa e Virgina Woolf para saber descrever cada coisa com lirismo e precisão.

Cascudo é dicionário para aprender sobre tudo e saber dizer certo as coisas. Antônio Candido para ser atemporal nas análises. Navarro para aprender a beleza das coisas da cidade, sua gente, suas paisagens. Rubem Braga, Ruy Castro e Woden Madruga para não perder o caminho do cotidiano.

12. Que outro tipo de arte desperta seu interesse além da literatura?

O design e o design gráfico, a fotografia, a arquitetura, as artes plásticas e a música.

13. Gustavo, e seu trabalho como ilustrador, como surgiu também essa aspiração em desenhar?

A ilustração aparece como uma extensão dos livros, fruto do interesse pelas artes plásticas, pelo design, em desenhar a arquitetura da cidade por suas fachadas.

14. Ensaísta, cronista ou ilustrador, em qual dessas vertentes Gustavo Sobral mais se realiza?

Cada uma destas facetas é uma realização na sua própria manifestação e todas elas encontram espaço no elemento livro.

15. Fale-nos um pouco da sua estreia em livro “Arquitetura Moderna Potiguar”. Em que momento você decidiu que deveria publicar?  Existiam, por exemplo, livros nessa área no estado?

Pequeno ensaio sobre a arquitetura potiguar no espaço da arquitetura moderna brasileira. Uma arquitetura que despontou em Natal nos anos 1950 por um time de arquitetos potiguares que saiu para estudar arquitetura em Recife/PE e no Rio de Janeiro/RJ: Moacyr Gomes, Ubirajara Galvão e João Maurício de Miranda.

O livro nasceu de um interesse particular pela arquitetura e por histórias de vida, veio para contar um tempo que ainda não havia sido escrito.

16. Que edifícios você destacaria na arquitetura moderna potiguar em Natal?

O conjunto moderno que se distribui pelos bairros de Petrópolis e Tirol.

17. Fale-nos um pouco do seu trabalho mais recente “Saudade de Newton Navarro”. Como surgiu a ideia, e como foi à parceria com o poeta Paulo de Tarso Correia de Melo?

Reeditar O solitário vento do verão com editor Helton Rubiano era a proposta inicial. Dela vieram mais dois livros, e assim, uma coleção. O interesse pela vida e pela obra de Navarro levou a coleta dos depoimentos e se fez Saudade.

A conversa com Paulo de Tarso para Saudade, revelou crônicas de Navarro guardadas por Paulo em recortes de jornal. Assim se fez a amizade com o poeta e o terceiro livro. Coleção que não se considera completa, ainda estamos a procura de Newton Navarro.

18. Em sua opinião qual a importância de artistas como Newton Navarro e Dorian Gray para a nossa história cultural?

Uma importância total, fundadora e inspiradora. Mestres nos seus domínios, ensinaram a vida pela arte, manifesta na pintura, escultura, tapeçaria, desenho, teatro, oratória, ensaio, crônica, poesia, o traço todo da vida.

19. Você esta publicando um livro sobre o bairro de Petrópolis. Algum motivo especial para a elaboração desse trabalho? Relate-nos um pouco desse livro e da sua intenção ao escrevê-lo?

Petrópolis nasceu do cotidiano. Desenho, crônica, fruto da vida na cidade, histórias ouvidas, leituras. É um passeio por temas, coisas da comida e da bebida, incursões sobre cafeterias, bares, restaurantes e a revelação da história do bairro. Inspirado nos guias de Gilberto Freyre para Recife e Olinda, Lisboa de Fernando Pessoa, Ouro Preto de Bandeira.

Retrato de um instante e experiência nova, conceber um livro do começo ao fim. O texto, as ilustrações, o projeto gráfico, formato do livro, a capa, tudo coisa do autor. Impressão e entusiasmo de Ivan Junior da Offset Gráfica. Livrinho pequeno, cômodo, que cabe na bolsa. Livro de bolsa.

20. Quais planos literários para o futuro?

Escrever todos os dias, editar, organizar e publicar livros.

21. Quem é o escritor Gustavo Sobral?

Aquele também vocacionado para um provincianismo incurável.