domingo, 3 de abril de 2016

'Mortal loucura' é oásis de Bethânia em gravação tão agreste como moderna

Sem sair do quintal sertanejo por qual tem transitado nos últimos anos em álbuns irretocáveis como Meus quintais (Biscoito Fino, 2014), Maria Bethânia dá passo à frente com a gravação de Mortal loucura, composição criada por José Miguel Wisnik - a partir de versos barrocos do poeta baiano Gregório de Matos (1636 - 1696) - para a trilha sonora de Onqotô (2005), balé do Grupo Corpo.

Gravada por Wisnik com Caetano Veloso para o disco com a trilha sonora do balé, Mortal loucura ganha a voz soberana de Bethânia em registro feito para outra trilha sonora - no caso, a trilha sonora da novela Velho Chico (TV Globo, 2016) - e lançado pela gravadora Biscoito Fino no formato de single digital, disponível nas plataformas de streaming e no iTunes a partir deste mês de abril de 2016.

Mortal loucura é oásis na obra da intérprete baiana. Embora continue no quintal habitual, Bethânia desenterra os mistérios da voz sagrada nesta gravação que soa tão agreste - com a aridez do sertão no qual circulam os carcarás de tempos idos - e, ao mesmo tempo, tão moderna na atemporalidade dos registros imortais.

Produzida por Márcio Arantes sob a direção artística de Wisnik, a gravação de Mortal loucura conecta Bethânia a músicos como Siba (rabeca) e Guilherme Kastrup (percussão), ambos presentes em gravações de artistas da contemporânea cena paulistana.

Contudo, Bethânia continua soando como Bethânia - e nisso reside a força da gravação, feita também com a viola de Paulo Dáfilin, nome presente na ficha técnica do álbum Meus quintais.

Mortal loucura representa sutil avanço na discografia de Bethânia sem deixar de reiterar a força soberana da intérprete, imune a modas e a modismos musicais. Ao dar voz árida a Mortal loucura, Bethânia avoa no sertão em céu de brigadeiro.