Sem
sair do quintal sertanejo por qual tem transitado nos últimos anos em álbuns
irretocáveis como Meus quintais
(Biscoito Fino, 2014), Maria Bethânia
dá passo à frente com a gravação de Mortal
loucura, composição criada por José
Miguel Wisnik - a partir de versos barrocos do poeta baiano Gregório de Matos (1636 - 1696) - para
a trilha sonora de Onqotô (2005),
balé do Grupo Corpo.
Gravada
por Wisnik com Caetano Veloso para o disco com a trilha sonora do balé, Mortal loucura ganha a voz soberana de
Bethânia em registro feito para outra trilha sonora - no caso, a trilha sonora
da novela Velho Chico (TV Globo,
2016) - e lançado pela gravadora Biscoito
Fino no formato de single digital, disponível nas plataformas de streaming
e no iTunes a partir deste mês de abril de 2016.
Mortal loucura é oásis na obra da intérprete baiana. Embora continue
no quintal habitual, Bethânia desenterra os mistérios da voz sagrada nesta
gravação que soa tão agreste - com a aridez do sertão no qual circulam os
carcarás de tempos idos - e, ao mesmo tempo, tão moderna na atemporalidade dos
registros imortais.
Produzida
por Márcio Arantes sob a direção
artística de Wisnik, a gravação de Mortal loucura conecta Bethânia a
músicos como Siba (rabeca) e Guilherme Kastrup (percussão), ambos
presentes em gravações de artistas da contemporânea cena paulistana.
Contudo,
Bethânia continua soando como Bethânia - e nisso reside a força da gravação,
feita também com a viola de Paulo
Dáfilin, nome presente na ficha técnica do álbum Meus quintais.
Mortal loucura representa sutil avanço na discografia de Bethânia sem
deixar de reiterar a força soberana da intérprete, imune a modas e a modismos
musicais. Ao dar voz árida a Mortal loucura,
Bethânia avoa no sertão em céu de brigadeiro.