quarta-feira, 20 de abril de 2016

E se o seu artista favorito se aposentar amanhã?

Vai chegar uma hora que o seu artista favorito vai reunir alguns jornalistas para uma coletiva ou postar em alguma rede social que está pendurando as chuteiras e você vai ter que lidar com isso. As razões para que uma banda faça a entrada de sua aposentadoria são muitas, por mais que seja difícil o fã concordar com alguma delas.

‘Artista que é artista tem que morrer no palco, lugar onde ele pertence e viveu até aqui’.

Sério? Eu acho meio exagerado culminar a carreira deste jeito, pois, por mais que esteja instaurado a vida boa que um artista tenha, ele passa por diversas etapas para chegar no melhor momento de todo o processo: tocar para o seu fã.

O ciclo começa em achar um tempo para compor, ensaiar as músicas novas e velhas, participar do planejamento do seu selo ou gravadora, cair na estrada para divulgar o seu material e por aí vai.

Esse ritmo vai perdurar por temporadas com a ‘leve’ pressão de lançar um material relevante, vendável e que seja abraçado por crítica e público. Como ficar puto com o seu artista apenas por ele querer água de coco e viver numa praia, de boas?

É facinho achar exemplos que estouram no meio desse processo e nem querem chegar a ‘melhor idade’ para ter um repouso. Foi assim com Justin Bieber, Britney Spears, Chris Brown

No começo deste ano, o Aviici, responsável por alguns hits como “Hey Brother”, “Levels” e “Wake Me Up”, disse que estaria deixando os palcos após cumprir a agenda de shows que tem neste ano. “Eu sei que sou abençoado de ter a oportunidade de conhecer o mundo e tocar para pessoas, mas eu preciso ter um pouquinho da vida de uma pessoa normal por trás do artista”, contou em uma carta aberta aos fãs.

Ele até deixou um número de celular no fim do texto para quem quiser trocar uma ideia com o fera. Alguns dias depois, ele voltou atrás e contou que não iria mais se aposentar. Tinha sido apenas noite mal dormida…

Qualquer artista quer ter uma discografia de peso para, quando olhar para trás, enxergar que fez um bom trabalho e seguir na fila do INSS sem peso na consciência.

Vou ser sincero, sou fã da Madonna!

Ouvia as músicas dela ainda criança com alguns membros de minha família e amigos, eles tinham muitos vinis dela. Até hoje. Então, para mim, foi sempre natural ouvir alguma coisa dela e curtir. Não vou ser nostálgico e falar que os bons trabalhos da cantora foram lançados na década de 80 e 90, pois ‘Music’ e ‘Confessions on a Dancefloor’, ambos dos anos 2000, ditaram o que estava sendo realizado no mundo pop na época. Para mim, esta é a função de um nome tão importante. Assim ela fez. Não lançou discos por contratos simplesmente.

Em vez de divulgar o “Rebel Heart”, a Madonna poderia ter entregado algum single, pois este trabalho não chega perto da qualidade de nenhum registro dela anterior. Nenhum. Por mais que ela tenha chamado um batalhão de produtores para renovar as suas músicas, a essência da Madonna que conhecemos (maloqueira emponderada) passou BEM longe.

Tem uns beats ali de fim de balada, não é legal. Eu fiquei muito bolado com esse álbum e até pensei: será que ela perdeu a mão? Talvez seja a hora da diva do pop curtir umas férias e voltar num melhor ritmo? Claro que não. Ela precisa nos presentear com mais álbuns até completar 100 anos.

E no Brasil?

Este ano proporcionou um disco, no mínimo, para colocarmos a mão na consciência e pensar “o que diabos está acontecendo?”.

O novo álbum de Paulo Ricardo é algo difícil de engolir. Não é possível que a mesma mão que compôs clássicos do pop nacional seja capaz de criar isso. O Novo “Álbum” (sim, este é o nome do trabalho) tenta soar moderno ora com referências de bandas como Killers, Coldplay, mas traduz em algo cafona e forçado.

Mas tem gente que consegue ver na aposentadoria uma maneira de ganhar um trocado a mais e se tornar ainda mais relevante. Após o lançamento do ‘Black Album’, um dos melhores discos da história do rap, o maridão da Beyonça, Jay-Z, disse que o trabalho seria o último de sua carreira. A imprensa e o fãs ficaram estarrecidos. O cara lança um dos melhores discos de sua carreira e vai embora desta maneira?

As apresentações de sua turnê de despedida esgotaram rapidamente, a galera passava mal na fila em saber que veria o mestre pela última vez e a venda de discos foi lá pro espaço. Teve até show de despedida em NY, mas a resposta da volta aos palcos do rapper estava em uma de suas músicas. Era na música “Encore”, quando Jay-Z mandou: “Quando eu voltar como Jordan, usando o 4-5/ Vou jogar com você/ e vou acertar em você, provavelmente machucar você”.

Tony Bennett poderia mandar um visual Silvio Santos de férias e ficar perambulando pelas ruas de Nova York com o seu cachorrinho. O senhor de voz poderosa tem quase 70 anos (!!!) de serviços prestados à música e não pensa em largar o seu trabalho tão cedo. Antes da Lady Gaga gravar o disco com ele, a cantora estava meio na bad e disse que tinha pensado em parar de cantar. Tony, por sua vez, disse que nunca passou pela cabeça dele em parar. Após este episódio, Lady Gaga fala que ele salvou a vida dela e que não pensaria mais em se aposentar.

Por mais que um artista fique meio crazy com o seu dia-a-dia, ele acaba voltando para estrada e estúdio. Não tem jeito. A primeira semana de férias vai ser algo reconfortante, na próxima ele vai estranhar de ninguém ligar mais para cobrar alguma coisa e, a partir da terceira, o telefone do produtor começa a tocar para marcar algo o quanto antes.