Vai
chegar uma hora que o seu artista favorito vai reunir alguns jornalistas para
uma coletiva ou postar em alguma rede social que está pendurando as chuteiras e
você vai ter que lidar com isso. As razões para que uma banda faça a entrada de
sua aposentadoria são muitas, por mais que seja difícil o fã concordar com
alguma delas.
‘Artista que é artista tem
que morrer no palco, lugar onde ele pertence e viveu até aqui’.
Sério?
Eu acho meio exagerado culminar a carreira deste jeito, pois, por mais que
esteja instaurado a vida boa que um artista tenha, ele passa por diversas
etapas para chegar no melhor momento de todo o processo: tocar para o seu fã.
O
ciclo começa em achar um tempo para compor, ensaiar as músicas novas e velhas,
participar do planejamento do seu selo ou gravadora, cair na estrada para
divulgar o seu material e por aí vai.
Esse
ritmo vai perdurar por temporadas com a ‘leve’ pressão de lançar um material
relevante, vendável e que seja abraçado por crítica e público. Como ficar puto
com o seu artista apenas por ele querer água de coco e viver numa praia, de
boas?
É
facinho achar exemplos que estouram no meio desse processo e nem querem chegar
a ‘melhor idade’ para ter um repouso. Foi assim com Justin Bieber, Britney
Spears, Chris Brown…
No
começo deste ano, o Aviici,
responsável por alguns hits como “Hey
Brother”, “Levels” e “Wake Me Up”, disse que estaria deixando
os palcos após cumprir a agenda de shows que tem neste ano. “Eu sei que sou abençoado de ter a
oportunidade de conhecer o mundo e tocar para pessoas, mas eu preciso ter um
pouquinho da vida de uma pessoa normal por trás do artista”, contou em uma
carta aberta aos fãs.
Ele
até deixou um número de celular no fim do texto para quem quiser trocar uma
ideia com o fera. Alguns dias depois, ele voltou atrás e contou que não iria
mais se aposentar. Tinha sido apenas noite mal dormida…
Qualquer
artista quer ter uma discografia de peso para, quando olhar para trás, enxergar
que fez um bom trabalho e seguir na fila do INSS sem peso na consciência.
Vou ser sincero, sou fã da
Madonna!
Ouvia
as músicas dela ainda criança com alguns membros de minha família e amigos, eles
tinham muitos vinis dela. Até hoje. Então, para mim, foi sempre natural ouvir
alguma coisa dela e curtir. Não vou ser nostálgico e falar que os bons
trabalhos da cantora foram lançados na década de 80 e 90, pois ‘Music’ e ‘Confessions on a Dancefloor’, ambos dos anos 2000, ditaram o que
estava sendo realizado no mundo pop na época. Para mim, esta é a função de um
nome tão importante. Assim ela fez. Não lançou discos por contratos
simplesmente.
Em
vez de divulgar o “Rebel Heart”, a Madonna poderia ter entregado algum
single, pois este trabalho não chega perto da qualidade de nenhum registro dela
anterior. Nenhum. Por mais que ela tenha chamado um batalhão de produtores para
renovar as suas músicas, a essência da Madonna
que conhecemos (maloqueira emponderada) passou BEM longe.
Tem
uns beats ali de fim de balada, não é legal. Eu fiquei muito bolado com esse
álbum e até pensei: será que ela perdeu a mão? Talvez seja a hora da diva do
pop curtir umas férias e voltar num melhor ritmo? Claro que não. Ela precisa
nos presentear com mais álbuns até completar 100 anos.
E no Brasil?
Este
ano proporcionou um disco, no mínimo, para colocarmos a mão na consciência e
pensar “o que diabos está acontecendo?”.
O
novo álbum de Paulo Ricardo é algo
difícil de engolir. Não é possível que a mesma mão que compôs clássicos do pop
nacional seja capaz de criar isso. O Novo
“Álbum” (sim, este é o nome do trabalho) tenta soar moderno ora com
referências de bandas como Killers, Coldplay, mas traduz em algo cafona e
forçado.
Mas
tem gente que consegue ver na aposentadoria uma maneira de ganhar um trocado a
mais e se tornar ainda mais relevante. Após o lançamento do ‘Black Album’, um dos melhores discos da
história do rap, o maridão da Beyonça,
Jay-Z, disse que o trabalho seria o
último de sua carreira. A imprensa e o fãs ficaram estarrecidos. O cara lança
um dos melhores discos de sua carreira e vai embora desta maneira?
As
apresentações de sua turnê de despedida esgotaram rapidamente, a galera passava
mal na fila em saber que veria o mestre pela última vez e a venda de discos foi
lá pro espaço. Teve até show de despedida em NY, mas a resposta da volta aos
palcos do rapper estava em uma de suas músicas. Era na música “Encore”, quando Jay-Z mandou: “Quando eu
voltar como Jordan, usando o 4-5/ Vou jogar com você/ e vou acertar em você,
provavelmente machucar você”.
Tony Bennett poderia mandar um visual Silvio Santos de férias e ficar perambulando pelas ruas de Nova
York com o seu cachorrinho. O senhor de voz poderosa tem quase 70 anos (!!!) de
serviços prestados à música e não pensa em largar o seu trabalho tão cedo.
Antes da Lady Gaga gravar o disco
com ele, a cantora estava meio na bad e disse que tinha pensado em parar de cantar.
Tony, por sua vez, disse que nunca passou pela cabeça dele em parar. Após este
episódio, Lady Gaga fala que ele
salvou a vida dela e que não pensaria mais em se aposentar.
Por
mais que um artista fique meio crazy com o seu dia-a-dia, ele acaba voltando
para estrada e estúdio. Não tem jeito. A primeira semana de férias vai ser algo
reconfortante, na próxima ele vai estranhar de ninguém ligar mais para cobrar
alguma coisa e, a partir da terceira, o telefone do produtor começa a tocar
para marcar algo o quanto antes.