No
meio de um bombardeio de informações e polarização política, o meme
involuntário “não sou capaz de opinar”,
que viralizou após Glória Pires
comentar o Oscar 2016, se tornou uma
resposta efetiva a quem não consegue tomar um partido. “Mentir, inventar, isso é negativo. Para você assumir que não é capaz de
opinar, você tem que saber muito quem você é”, diz a atriz.
Avessa
a declarações políticas, Glória, no entanto, não usou do próprio bordão para
comentar o processo de impedimento do governo da presidente Dilma Rousseff. Desta vez, ela tem uma
opinião: “Hoje eu posso dizer que sou
contra o impeachment”.
A
atriz revela que tem lido bastante sobre o assunto e que a opinião do
ex-ministro e filósofo Mangabeira Unger
a ajudou na avaliação. “Me parece, tendo
lido bastante a respeito, que não é um bom caminho a se tomar. Me parece que
não vai facilitar as coisas como as pessoas estão achando.”
O
clima no país é assunto óbvio no momento em que Glória se prepara para voltar
aos cinemas, na próxima semana, no papel da psiquiatra Nise da Silveira, em “Nise – O Coração da Loucura”, dirigido
por Roberto Berliner.
O
longa mergulha na abordagem revolucionária de Nise com pacientes no Centro
Psiquiátrico Nacional Pedro 2º, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, após ter
passado 18 meses presa, durante o Estado Novo, por posse de livros marxistas.
Aluna
de Carl Jung, Nise usou a arte para
tratar pacientes considerados incompreensíveis e lutou para abolir tratamentos
violentos, como a lobotomia e o eletrochoque.
“Ela foi presa sem processo, ficou quase dois
anos na cadeia”, observa Glória. “Talvez
[hoje] ela estivesse estarrecida em ainda não conseguirmos nos comunicar.
Talvez o radicalismo fosse uma coisa que a deixasse estarrecida. O que ela
propunha [no trabalho dela] era o oposto, era compreender as diferenças.”