A
realização da primeira edição do festival Rock
in Rio em 1985 oficializou e amplificou a abertura da indústria da música e
do mercado fonográfico brasileiro para o pop rock que, no verão de 1982, tinha
dado blitz na então vigente MPB. Mas foi em 1986 - há 30 anos - que o rock
brasileiro se consolidou nesse mercado, disputando espaço nas rádios e nas
prateleiras das lojas de discos com álbuns da geração pagodeira de Almir Guineto e Zeca Pagodinho - líderes de um movimento que abriu novas alas no
mundo do samba - e com LPs embalados pelo pop radiofônico da dupla Michael Sullivan & Paulo Massadas, então no auge da
produção e da popularidade.
Em
1986, as melhores bandas de rock do Brasil lançaram álbuns que se tornaram
obras-primas das respectivas discografias, venderam milhares de discos -
milhões, no caso do grupo paulistano RPM,
fenômeno comercial do ano - e abriram mais caminhos para um gênero que,
decorridos 30 anos, está novamente jogado às margens do mercado, em situação
pior do que a da década de 1970, quando artistas como Raul Seixas (1945 - 1989) e Rita
Lee ainda hasteavam solitariamente a bandeira desse tal de rock'n'roll.
Em
1986, nada faria supor um futuro tão triste. Foi em 1986 que o grupo paulistano
Titãs - então um octeto, com a
formação que se tornaria clássica - definiu a identidade musical com o álbum Cabeça Dinossauro (Warner Music),
petardo punk que se conserva impressionantemente atual.
Foi
em 1986 que o trio carioca Os Paralamas
do Sucesso lançaram Selvagem?
(EMI-Odeon) - o álbum que o livrou
definitivamente da fama incômoda de ser "o Police brasileiro" e que apontou o caminho da fusão do rock
com o reggae e com a linguagem da música brasileira.
Foi
em 1986 que a Legião Urbana começou
a sair do armário com Dois
(EMI-Odeon), álbum mais voltado para canções de tom filosófico - bem
representadas pela smithiana Tempo
perdido (Renato Russo, 1986) - que ampliou o público da banda brasiliense.
Foi ainda em 1986 o que RPM arrastou
multidões para o show pirotécnico dirigido por Ney Matogrosso que elevou o tecnopop do grupo paulistano à máxima
potência - tecnopop revelado no antológico primeiro álbum do quarteto, gravado
em estúdio e lançado em 1985 - e para as lojas para comprar o precoce LP Rádio pirata ao vivo (CBS) com o
registro do espetáculo.
Foi
também em 1986 que o grupo paulistano Ira!
avançou ao lançar o segundo álbum, Vivendo
e não aprendendo (Warner Music). Foi ainda em 1986 que o grupo carioca Barão Vermelho seguiu em frente sem a
voz e letras de Cazuza (1958 - 1990)
com o álbum Declare guerra (Som
Livre).
Foi,
por fim, em 1986 que o grupo punk paulistano Inocentes lançou o virulento Pânico
em SP (Warner Music), EP rotulado na época como mini-LP. Enfim, tudo ao
mesmo agora, ou melhor, naquele ano áureo de 1986 em que o rock brasileiro se
consolidou no mercado fonográfico que, após 30 anos, parece desprezá-lo.
Viva
o rock!