sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Jogado à margem do mercado em 2016, rock brasileiro vivia auge há 30 anos

A realização da primeira edição do festival Rock in Rio em 1985 oficializou e amplificou a abertura da indústria da música e do mercado fonográfico brasileiro para o pop rock que, no verão de 1982, tinha dado blitz na então vigente MPB. Mas foi em 1986 - há 30 anos - que o rock brasileiro se consolidou nesse mercado, disputando espaço nas rádios e nas prateleiras das lojas de discos com álbuns da geração pagodeira de Almir Guineto e Zeca Pagodinho - líderes de um movimento que abriu novas alas no mundo do samba - e com LPs embalados pelo pop radiofônico da dupla Michael Sullivan & Paulo Massadas, então no auge da produção e da popularidade.

Em 1986, as melhores bandas de rock do Brasil lançaram álbuns que se tornaram obras-primas das respectivas discografias, venderam milhares de discos - milhões, no caso do grupo paulistano RPM, fenômeno comercial do ano - e abriram mais caminhos para um gênero que, decorridos 30 anos, está novamente jogado às margens do mercado, em situação pior do que a da década de 1970, quando artistas como Raul Seixas (1945 - 1989) e Rita Lee ainda hasteavam solitariamente a bandeira desse tal de rock'n'roll.

Em 1986, nada faria supor um futuro tão triste. Foi em 1986 que o grupo paulistano Titãs - então um octeto, com a formação que se tornaria clássica - definiu a identidade musical com o álbum Cabeça Dinossauro (Warner Music), petardo punk que se conserva impressionantemente atual.

Foi em 1986 que o trio carioca Os Paralamas do Sucesso lançaram Selvagem? (EMI-Odeon) -  o álbum que o livrou definitivamente da fama incômoda de ser "o Police brasileiro" e que apontou o caminho da fusão do rock com o reggae e com a linguagem da música brasileira.

Foi em 1986 que a Legião Urbana começou a sair do armário com Dois (EMI-Odeon), álbum mais voltado para canções de tom filosófico - bem representadas pela smithiana Tempo perdido (Renato Russo, 1986) - que ampliou o público da banda brasiliense. Foi ainda em 1986 o que RPM arrastou multidões para o show pirotécnico dirigido por Ney Matogrosso que elevou o tecnopop do grupo paulistano à máxima potência - tecnopop revelado no antológico primeiro álbum do quarteto, gravado em estúdio e lançado em 1985 - e para as lojas para comprar o precoce LP Rádio pirata ao vivo (CBS) com o registro do espetáculo.

Foi também em 1986 que o grupo paulistano Ira! avançou ao lançar o segundo álbum, Vivendo e não aprendendo (Warner Music). Foi ainda em 1986 que o grupo carioca Barão Vermelho seguiu em frente sem a voz e letras de Cazuza (1958 - 1990) com o álbum Declare guerra (Som Livre).

Foi, por fim, em 1986 que o grupo punk paulistano Inocentes lançou o virulento Pânico em SP (Warner Music), EP rotulado na época como mini-LP. Enfim, tudo ao mesmo agora, ou melhor, naquele ano áureo de 1986 em que o rock brasileiro se consolidou no mercado fonográfico que, após 30 anos, parece desprezá-lo.

Viva o rock!