Três
décadas depois, o mundo volta a ser um lugar estranho e de futuro incerto, mas
entre suas certezas está a de que o U2
se tornou uma das maiores bandas de todos os tempos.
A
busca da espiritualidade e as raízes de um mundo turbulento inspiraram o U2 a criar um dos álbuns mais
importantes da história da música, The
Joshua Tree, cujas influências ainda são sentidas 30 anos depois.
O
quinto disco do quarteto formado por Bono
(Paul Hewson), The Edge (David
Evans), Larry Mullen e Adam Clayton chegou ao mercado em 9 de
março de 1987 com o objetivo não apenas de superar o sucesso alcançado três
anos antes com The Unforgetable Fire,
mas de levar aqueles jovens dublinenses na faixa dos 20 anos ao ponto mais alto
do pop e do rock mundial.
Três
décadas depois, o mundo volta a ser um lugar estranho e de futuro incerto, mas
entre suas certezas está a de que o U2
se tornou, como queria desde The Joshua
Tree, uma das maiores bandas de todos os tempos.
Numa
era de dirigentes populistas e autoritários, de conflitos armados que tomam o
relevo dos sofridos pelo Ulster ou pela América Latina nos anos 1980, parece
justo, ainda, que o U2 feche o
círculo iniciado com esse álbum lendário com uma oportuna turnê mundial para
comemorar neste ano esse aniversário.
Voltarão
a ser ouvidos nos próximos meses nos grandes estádios os acordes de With or Without You, primeiro single do
álbum, ou da contagiante I Still Haven’t
Found What I’m Looking For, que Bono
suspeitava que seria arrasadora antes mesmo de terminá-la.
“Há uma, em particular, que é incrível”,
disse o cantor durante uma festa na casa de The Edge em 1986 ao jornalista Niall
Stokes, fundador da revista de música dublinense Hot Press e testemunha do início da banda nos bares da capital
irlandesa.
I Still Haven’t... foi o segundo single da banda e chegou ao primeiro lugar
nos Estados Unidos logo que ganhou a rua após receber forma definitiva no álbum
produzido por Daniel Lanois e Brian Eno, colaboradores habituais do U2.
Para
alguns especialistas de visão curta, com The
Joshua Tree o U2 tentou vender a
alma ao diabo para entrar no mercado americano e no lucrativo circuito da
música comercial – segundo eles, com canções perfeitamente empacotadas,
piscadelas à cultura americana e atrativos fáceis para as rádios.
“Não é absolutamente o caso por dois motivos”,
escreveu o falecido Bill Graham na
primeira crítica do álbum, em Hot Press,
na qual só falhou ao não prever a magnitude do êxito comercial alcançado em
todo o mundo, com venda de 25 milhões de cópias.
“Primeiro” – disse Graham –, “porque Bono nunca cantou com tanta precisão
emocional; segundo, porque esse é um álbum enganador que navega no convencional
e, ao mesmo tempo, repudia seus valores mais repulsivos.”
De
fato, os temas impregnados de blues, folk, pop, soul e gospel são acompanhados
de textos que retratam As Duas Américas
– um dos títulos em que a banda pensou para o disco – e a amargura dos que
viram passar ao longe o sonho do país do dólar.
Bono
também não se esqueceu dos americanos do centro e do sul do continente.
Os
bombardeios americanos na guerra civil de El Salvador o levaram a escrever Bullet The Blue Sky. Já a repressão no
Chile refletiu-se em Mothers of the
Disappeared, um tema assustador que faz pensar nos horrores da ditadura do
general Augusto Pinochet, apoiada
por Washington.
Sob
todos os aspectos, The Joshua Tree
foi, além disso, um trabalho redondo, desde a música, obra principalmente do
guitarrista The Edge, e do
romantismo religioso das letras de Bono,
até a famosa capa em branco e preto que mostra o quarteto ante uma simbólica
árvore-de-josué captada pelo fotógrafo Anton
Corbijn no onírico deserto californiano.
Três
décadas depois, “as canções nos parecem
relevantes e proféticas dos tempos em que vivemos”, disse o carismático
vocalista Bono ao anunciar em
janeiro desse ano o Tour 2017.
Em
suma, The Joshua Tree é um álbum “de grande generosidade moral” e “cheio de qualidades muito humanas, como
dúvida e ansiedade”, afirmou Nialls
Stokes em seu livro U2: The Stories
Behind Every Song. Por tudo isso, diz ele, seu legado do é “poderoso, duradouro e afirmativo”, como
a trilha sonora de uma história de amor de um casal nascido no bairro
dublinense de Fairview ou no Clarence Hotel do U2.
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