Você
não percebeu a evolução dela. A artista amadureceu muito do primeiro disco até
agora. Quem não cresceu foi você. Amadurecimento é uma palavra recorrente nos
comentários desta coluna. O artista errando ou acertando, os fãs insistem em
colocar esta palavra em meio de suas sentenças. Isso é algo intrínseco. As
situações ao seu redor vão provocar esta evolução. Uns mais cedo, outros mais
tarde. É como um abacate.
Quando
escrevi sobre o último disco da Katy
Perry, na semana passada, eu quis conversar com algumas pessoas que não
concordaram com o que eu tinha escrito. O argumento, na maior parte deles, foi
que ela é uma cantora mais madura e eu não tinha entendido o álbum. Por mais
que muitos tenham se apegado aos números dos charts (o disco está indo bem), isso
é o que menos importa. A música não é uma ciência exata, na qual em cada álbum
o artista vai ficando melhor ou maduro. Se vendeu pacas e está em primeiro
lugar não significa que é bom.
Depois
de ficar ouvindo “Witness” por um
fim de semana, neste eu fiquei ouvindo apenas o “Melodrama”, da cantora Lorde.
Se formos falar de ‘amadurecimento’, o nome da neozelandesa tem que ser citado.
Ter apenas 20 anos e ter dois discos tão intensos não é para qualquer um. Aos
16 anos, eu ainda estava pensando o que fazer da minha vida e devia estar bem
longe de escrever alguma música parecida com “Royals”.
O
que funcionou em “Pure Heroine” foi
incrementado neste álbum. O verniz de músicas que parecem ter sido concebidas
em seu quarto ainda estão lá, mas com um ar mais rebuscado. Por mais que o
conteúdo das letras ainda sejam profundos, percebe-se cantigas mais animadas do
que encontramos em sua estreia. Podemos citar “Green Light”, “Homemade
Dynamite” ou “Supercut” que
poderiam figurar em uma pista de dança.
O
melodrama define-se pelo seu exagero e sensacionalismo – algo que presenciamos
todos os dias abrindo o Instagram ou ligando a televisão. Este tema abordado
por Lorde em seu segundo disco passa
por caminhos tortuosos com finais felizes e obscuros. O trabalho tem uma
atmosfera ponderada/minimalista cercado de letras confessionais que podem
servir de roteiro/guia para quem está ouvindo do outro lado. ‘Nossa, essa
música foi feita para mim <3’
Cada
um encara do seu jeito a chegada da vida adulta. Uns saindo do casulo e
tentando levar esta nova fase dando a cara a tapa como tentar sair da casa dos
pais, começar a pagar uns boletos ou fazer alguma viagem para espairecer.
Estruturar um disco como “Melodrama”
nesta transição difícil é algo bem interessante, louvável. Lorde compartilha sobre vários temas recorrentes de sua recém vida
adulta, assim como os lados bons e ruins da solidão deste período.
Após
o boom de seu disco de estreia, a cantora poderia comprar uma mansão em
Hollywood e ser vizinha de cantoras como a Katy
Perry, por exemplo. Lorde
preferiu se recolher e pisou no freio no ritmo frenético que sua vida estava em
2015. O primeiro passo foi voltar para Auckland e comprar uma casa perto de um
lago para entrar de cabeça em suas novas composições, em sua nova fase.
Desde
os seus materiais no início de sua carreira, Lorde era acompanhada de um talentoso compositor chamado Joel Little. Porém, no intervalo do
primeiro disco para este, a dupla se desfez. O novo ponto de partida da cantora
foi feito com um produtor chamado Jack
Antonoff. Ele não foi apenas a figura para ajudar nos timbres e escolhas
das faixas que iriam entrar no disco, mas um real amigo. Como disse no texto
anterior, é de suma importância uma pessoa que dê aquele toque maroto sobre o
que está fazendo se está indo bem ou não, Antonoff assumiu este papel.
Melodrama
Ao
entrar no mundo de “Melodrama”,
comecei a ler algumas entrevistas da Lorde.
Em algumas ela fala sobre esta transição da fase adulta, da cobrança em ter um
disco tão bom/relevante quanto o primeiro, mas o que chamou a minha atenção foi
quando indagaram qual ponto ela se vê no cenário da música atual. É pergunta
difícil para responder sem ser pedante. “Eu
quero ser realmente boa algum dia. Eu acho que estou indo bem agora, tive um
bom começo, mas eu quero ser como Leonard Cohen, Paul Simon ou Joni Mitchell. E
isso leva tempo”.
Tempo,
talvez seja a resposta para muitos artistas bons e ruins. Em um mundo, onde as
coisas são tudo para ontem, onde tudo é imediatista, esperar o tempo necessário
para amadurecer ideias, formatos e concepções é fundamental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário