Em
1995, quando Simone lançou 25 de
dezembro, primeiro álbum de repertório natalino de discografia iniciada em
1973, a cantora alcançou patamar inédito de vendagem, mostrando que havia
demanda no mercado fonográfico nacional por este gênero de disco tão comum nos
Estados Unidos, mas comumente desprezado no Brasil.
Batizado
com a data de aniversário da cantora, nascida no dia em que se convencionou
festejar a vinda de Jesus ao mundo
cristão, 25 de dezembro
ultrapassaria o milhão de cópias vendidas ao longo de 1996.
Decorridos
20 anos, estima-se que 25 de dezembro
tenha vendido mais de dois milhões de exemplares, contando com as cópias
comercializadas após a reedição de 1998 que adicionou à faixa-bônus Ave Maria às 10 músicas do repertório
original.
Passadas
duas décadas do lançamento, o disco resiste ao tempo e sempre volta às
prateleiras na época do Natal. Paralelamente, o álbum tem sido motivo de piada
na web, sendo execrado por milhões de detratores que provavelmente nunca
pararam para ouvir as 10 gravações. Projeto idealizado por Simone com Marcos Maynard,
executivo que comandava a gravadora então denominada PolyGram naquele ano de
1995, 25 de dezembro merece
reavaliação.
Está
longe de ser um grande disco. As interpretações de Simone soam tecnicamente corretas, mas sem a sensibilidade, a
emoção e o sentimento esperados no canto de repertório natalino. Há toda uma
grandiloquência na produção orquestral - capitaneada pelo produtor musical Max Pierre com Moogie Canázio - que põe a emoção real em segundo plano. Contudo, 25 de dezembro também está longe de ser
álbum execrável.
Mesmo
sem expor o espírito de natal no canto de Simone
e nos arranjos, o disco - envolvido em grande estratégia de marketing para
justificar a ida da artista para a PolyGram após 14 anos na gravadora CBS (Sony
Music) - tem lá bons momentos. O maior deles é a lembrança de Pensamentos (1982), canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos que havia caído no esquecimento e cuja ideologia da
letra tem tudo a ver com o espírito natalino.
De
Roberto e Erasmo, Simone também deu
voz ao hino religioso Jesus Cristo
(1970) com direto a coro gospel que se afina com o tom desse spiritual
invariavelmente interpretado pelo Rei no encerramento dos shows do cantor.
Há
equívocos também no álbum. O maior deles é envolver a tristonha Boas festas (Assis Valente, 1933) em clima de samba com o baticum da Timbalada sem levar em conta o tom
desesperançado dos versos da letra.
25 de dezembro é disco que peca por excessos e equívocos de produção.
Feito de acordo com os padrões da indústria fonográfica da época, 25 de dezembro é disco que ostenta luxo
e riqueza na ficha técnica quando algumas músicas pediam mais simplicidade e
mais sentimento no arranjo e no canto para que a mensagem natalina ficasse em
primeiro plano. Falta uma emoção real na maioria das 10 gravações. Contudo,
decorridos 20 anos do lançamento, 25 de
dezembro merece ser ouvido com mais boa vontade por cristãos de boa fé. Nem
em que seja em nome do tão falado, mas tão pouco praticado, espírito de Natal.
Não é um disco tão ruim.