segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

'25 de dezembro', o disco natalino de Simone, pede reavaliação após 20 anos

Em 1995, quando Simone lançou 25 de dezembro, primeiro álbum de repertório natalino de discografia iniciada em 1973, a cantora alcançou patamar inédito de vendagem, mostrando que havia demanda no mercado fonográfico nacional por este gênero de disco tão comum nos Estados Unidos, mas comumente desprezado no Brasil.

Batizado com a data de aniversário da cantora, nascida no dia em que se convencionou festejar a vinda de Jesus ao mundo cristão, 25 de dezembro ultrapassaria o milhão de cópias vendidas ao longo de 1996.

Decorridos 20 anos, estima-se que 25 de dezembro tenha vendido mais de dois milhões de exemplares, contando com as cópias comercializadas após a reedição de 1998 que adicionou à faixa-bônus Ave Maria às 10 músicas do repertório original.

Passadas duas décadas do lançamento, o disco resiste ao tempo e sempre volta às prateleiras na época do Natal. Paralelamente, o álbum tem sido motivo de piada na web, sendo execrado por milhões de detratores que provavelmente nunca pararam para ouvir as 10 gravações. Projeto idealizado por Simone com Marcos Maynard, executivo que comandava a gravadora então denominada PolyGram naquele ano de 1995, 25 de dezembro merece reavaliação.

Está longe de ser um grande disco. As interpretações de Simone soam tecnicamente corretas, mas sem a sensibilidade, a emoção e o sentimento esperados no canto de repertório natalino. Há toda uma grandiloquência na produção orquestral - capitaneada pelo produtor musical Max Pierre com Moogie Canázio - que põe a emoção real em segundo plano. Contudo, 25 de dezembro também está longe de ser álbum execrável.

Mesmo sem expor o espírito de natal no canto de Simone e nos arranjos, o disco - envolvido em grande estratégia de marketing para justificar a ida da artista para a PolyGram após 14 anos na gravadora CBS (Sony Music) - tem lá bons momentos. O maior deles é a lembrança de Pensamentos (1982), canção de Roberto Carlos e Erasmo Carlos que havia caído no esquecimento e cuja ideologia da letra tem tudo a ver com o espírito natalino.

De Roberto e Erasmo, Simone também deu voz ao hino religioso Jesus Cristo (1970) com direto a coro gospel que se afina com o tom desse spiritual invariavelmente interpretado pelo Rei no encerramento dos shows do cantor.

Há equívocos também no álbum. O maior deles é envolver a tristonha Boas festas (Assis Valente, 1933) em clima de samba com o baticum da Timbalada sem levar em conta o tom desesperançado dos versos da letra.

25 de dezembro é disco que peca por excessos e equívocos de produção. Feito de acordo com os padrões da indústria fonográfica da época, 25 de dezembro é disco que ostenta luxo e riqueza na ficha técnica quando algumas músicas pediam mais simplicidade e mais sentimento no arranjo e no canto para que a mensagem natalina ficasse em primeiro plano. Falta uma emoção real na maioria das 10 gravações. Contudo, decorridos 20 anos do lançamento, 25 de dezembro merece ser ouvido com mais boa vontade por cristãos de boa fé. Nem em que seja em nome do tão falado, mas tão pouco praticado, espírito de Natal. Não é um disco tão ruim.