quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Os dois lados da moeda do retorno de Britney Spears com o 'Blackout', em 2007

Logo após o lançamento do "In The Zone", o quarto álbum de estúdio de Britney Spears, que ajudou de forma direta a consolidar a cantora no mercado, rendendo seu único Grammy, de "Melhor Canção Dance" para "Toxic", Britney viveu aquele momento que todo mundo está careca de saber. Super exposta pela mídia, a cantora acabou caindo numa clínica de reabilitação onde protagonizou momentos icônicos como a briga do guarda-chuva e o raspar do seu cabelo.

No momento em que a Princesa do Pop afunda pessoalmente após um casamento fracassado, a internação em clínica de reabilitação e fotos tiradas em público sem calcinha, seu próximo passo na carreira tinha todos os holofotes à disposição, para o bem ou para o mal. Sua imagem estava desgastada e ela precisaria se reinventar para poder ganhar os braços do público novamente, ainda perplexo ao lembrar que sonho americano de "...Baby One More Time" havia se tornado aquilo.

Pois bem, assim foi o parto do "Blackout". Era o tudo ou nada. O primeiro passo então foi o VMA de 2007, onde Britney faria seu retorno triunfal com o lead single do material numa das maiores premiações do mundo como performance de abertura. Era o cenário perfeito. Só que... todo mundo sabe o que aconteceu. A performance foi um fiasco, mundialmente massacrada pelos críticos e abismou o mundo. Foi com ela, inclusive, que nasceu o vídeo "Leave Britney Alone" do Chris Crocker.

Essa foi a única performance de divulgação do "Blackout", que nem turnê ganhou. O álbum também quebrou a sequência de #1 na Billboard 200, estreando em #2. Tudo conspirava para que o álbum fosse um desastre, porém, nem mesmo todos esses fatores foram capaz de diminuir o material, como veremos a seguir.


1. GIMME MORE
It's Britney, bitch! Se Lady Gaga possui o "I'm free bitch, baby" como "frase tema", Britney possui o primeiro verso de "Gimme More". O lead single do "Blackout" é uma mistura de dance-pop com funk e electro, vocais robóticos e batidas insinuantes que convidam qualquer um a se jogar num poledance. O refrão grudento na maior potência possível, intercalado com o vocal masculino (de Danja, produtor da faixa) que geme "mooooore" ao fundo é uma verdadeira pérola. Você pode gostar ou não de Britney, mas é inegável: você já se jogou com esse hino. "The legendary Miss Britney Spears".


2. PIECE OF ME
Britney possui diversos singles memoráveis que a ajudaram a ser quem ela é hoje, mas é "Piece of Me" a detentora do cargo que ser a música mais Britney. "Eu sou a Miss Sonho Americano desde os 17 anos. Eles ainda vão colocar fotos da minha bunda na revista" canta Brit da forma mais cínica possível, num verdadeiro desabafo sobre o circo midiático que a parasita desde os primórdios. Perde alguns pontos por não ser escrita pela própria cantora, mas nada que comprometa a dimensão que essa música tem até hoje, com o clipe vencedor do VMA de "Vídeo do Ano" em 2008. Ah, e tem backing vocals da Robyn!


3. RADAR
A faixa que saiu sendo jogada de um lado pro outro, indo parar como faixa bônus (e single) do "Circus", "Radar" é uma canção esperta e divertida com efeitos sonoros de radar pontuando-a do começo ao fim. Costurada de forma exemplar (note como o vocal principal é intercalado com o backing vocal no refrão) e com uma letra sexy e certeira ("Eu estou checando tanto, me pergunto se você sabe que está no meu radar"), foi ótimo ter a faixa reciclada para virar single mesmo depois de certo tempo.


4. BREAK THE ICE
"Radar" seria o terceiro single do "Blackout" logo depois de "Piece of Me", porém Britney abriu uma enquete em seu site para os fãs escolherem sua favorita e deu "Break The Ice". Amém. A faixa é a mais matadora de todo o álbum, um hino pós-apocalíptico cheio de sintetizadores épicos que ditam o tom antológico. Futurista tanto na sua concepção quanto no seu clipe, o refrão com gosto de ferro é de arrepiar: "Baby I can make you feel HOT! HOT! HOT! HOT!". Os backing vocals no refrão são de Keri Hilson, quase se tornando um feat, e o "I like this part" é uma referência ao "I love this part" de Janet Jackson em "Nasty".


RESUMINDO: Britney Spears veio vestida para matar com o "Blackout": músicas grudentas, cheias de efeitos, ótimas produções e diretas ao ponto: sexo, amor, paixão, tudo sem pudores e recheada de confiança, contrariando aqueles que achavam que sua estima estaria destruída após críticas tão pesadas. Fazendo um álbum em resposta à mídia (abri-lo ao som do sonoro "It's Britney, bitch" é só um alerta: vocês sabem com quem estão lidando), é realmente uma pena ver algo tão incrível sem a devida divulgação (foi o primeiro álbum da cantora a não receber divulgação pesada), entretanto, não é de divulgação que vive um álbum, é de legado, e o legado do "Blackout", tanto para a própria cantora, que jamais viria a fazer um álbum tão bom, quanto pro mundo pop, é enorme.


"Blackout" completou sete anos e podemos afirmar sem medo: se ele fosse lançado hoje soaria atual, fresh e seria um dos melhores álbuns do ano. Não, o "Blackout" não é perfeito, tem sim auto-tune em demasia e, apesar de a cantora ser creditada como "produtora executiva", é um álbum completamente feito por seus produtores (perceba que músicas sobre a vida de Britney foram escritas por outras pessoas), mas nada nem ninguém é capaz de subjugar o poder dessas doze faixas, que juntas formam um capítulo concreto da grande bíblia do pop.