A Billboard publicou uma matéria para relembrar o álbum Bedtime Stories, que completará 20 anos
de seu lançamento, e convidou o produtor Babyface
e a backing vocal Donna De Lory para
falarem um pouco sobre como foi realizar esse trabalho com Madonna.
Confira a tradução:
Nesse mês, há vinte anos Madonna lançava o seu sexto álbum de
estúdio, Bedtime
Stories, um clássico que saiu de uma forte encruzilhada de sua
carreira. Ela não precisava de fama em 1994 e seu álbum anterior, Erotica, teve
certas críticas devido o seu apelo. Pela primeira vez numa década de estrelato,
as pessoas não estavam mais chocadas por suas atitudes, e pior, pareciam estar
exaustas delas.
Artisticamente falando, ela gastou os últimos quatro anos
mudando e subvertendo o puritanismo sexual na América. Mas depois de lançar um
livro chamado SEX, contendo suas fotos nuas e de outras celebridades, ela não
parecia ter outro lugar para seguir.
A aparição bombástica no David Letterman em março de 1994, em que disse inúmeros palavrões ao vivo e acumulou dezenas de queixas formais de espectadores, a distanciou mais da América puritana. O filme Evita só aconteceu dois anos depois, a sexualidade explícita de Erotica crescia e quando Bedtime Stories saiu, sua carreira estava num ponto discutível.
Para ser objetivo, Bedtime Stories é liricamente e
musicalmente um álbum muito mais encantador. Ela deixou de lado algumas
palavras de duplo sentido obscenas (compare Where Life’s Begin com Inside of
Me) e focou em questões biográficas.
Enquanto Erotica tinha uma sonoridade mais fria e uma batida
pop, Bedtime colocou Madonna num território suave. Há a bela batida de Secret, a inovadorra Bedtime Story, co-escrita por
Bjork, a suingada em I’d
Rather Be Your Lover, com participação de Meshell Ndegeocello,
a balada Sanctuarycom
sample de Herbie Hancock e a exuberante orquestra R&B de Take a Bow.
Mas o som mais suave não necessariamente significa letras
suaves. Em Human
Nature Madonna
assume as críticas mais diretamente do que nunca, enquanto Survival, que abre o álbum, é uma acolhedora
canção pop R&B com uma letra também cheia de atitude.
O som convidadativo em R&B de Bedtime Stories é devido em parte ao co-produtor Dallas Austin, que a backing vocal Donna De Lory descreve como “parte da sua tribo naquela época”. Também teve produção de Nellee Hooper, Dave “Jam” Hall e claro, Babyface.
Babyface trabalhou com TLC e Toni Braxton e ele disse à
Billboard que foram esses hits que chamaram atenção de Madonna. “Madonna
era fã de uma canção que fiz chamada When Can I See You. E foi através dela que
se interessou a trabalhar comigo. Ela queria baladas exuberantes e fomos
trabalhar atrás disso.”
Ele iria trabalhar com Madonna em três canções, duas delas
foram Forbidden Love e Take a Bow, essa última que tornou-se a música de maior
duração no topo da Billboard.
“Eu não ficava pensando nas paradas. Eu acho que eu estava
mais admirado em estar trabalhando de fato com Madonna. Inicialmente foi
surreal, mas depois que você conhece um pouco mais a pessoa, você se acalma e
em seguida é só trabalhar. E o trabalho torna-se divertido”, comenta ele.
Quando Babyface tocou a primeira estrutura do que seria a
demo de Take a Bow, Madonna imediatamente gostou. “Era
só uma batida e uma acorde. A partir daí a canção foi construída. Eu vivia na
época em Beverly Hills e tinha um pequeno estúdio em casa, e Madonna ia para
escrevermos as letras.”
Quanto a “Forbidden Love”, ele recorda que o processo foi
similar. “Ela ouviu a faixa básica e tudo começou a sair em
seguida, melodias e tudo. Foi um processo muito mais fácil do que eu pensava
que seria.”
Donna De Lory no entanto, disse que não ficou surpresa com a facilidade que Bedtime Stories veio. Ela e a outra backing vocal, Niki Harris, foram chamadas para trabalhar na faixa Survival, co-escrita por Austin. Até aí, fazia sete anos que ela trabalhava com Madonna.
“No momento em que pisávamos no estúdio, já recebíamos a
letra. Essa era a atmosfera, nós não estávamos lá apenas para nos encontrar.
Era divertido, mas estávamos ali para trabalhar”, disse Donna.
E no que Madonna se propõe a fazer, é bem-sucedida. Donna
lembra que a sessão de gravação de Survival demorou apenas algumas horas e não
precisou de novas gravações.
Semelhante ao que Babyface disse, Donna descreve que trabalhar com Madonna é uma parceria criativa. “Uma vez que ela tenha explicado suas ideias, ela esta pronta para ouvir sugestões. Ela é tão específica e articulada e já tem o som que quer na sua cabeça, mas depois podemos sugerir coisas, e sempre temos ideias também. Foi assim que propusemos adicionar o “survival” de fundo numa parte da música.”
O resultado dessa sessão é perfeita para abrir o álbum. Um
sedutor hino com declaração de intenções. “Eu nunca serei um anjo, eu nunca
serei uma santa, é verdade. Estou tão ocupada sobrevivendo; se é o céu ou inferno,
eu vou vivendo para contar”, canta Madonna acenando aos críticos e deixando-os
de lado.
Falando dos críticos, o álbum recebeu muitas resenhas
positivas, especialmente quando comparados aos seus álbuns anteriores, Erotica
e I’m Breathless. E foi similar o sucesso nos charts, onde estreou na terceira
posição do Billboard 200. O primeiro single, Secret, alcançou a terceira
posição .
Mas foi o segundo single do álbum, Take a Bow, que foi o seu
maior hit. Ficou no topo da parada Hot 100 da Billboard por sete semanas
consecutivas, sendo o 11 hit da carreira e o com maior duração. Depois do
sucesso sem ressalvas de Take a Bow, os próximos dois singles foram Bedtime
Story e Human Nature e são os primeiros singles na década a não entrar o Top
40.
Madonna apresentou ao vivo a canção Take a Bow com Babyface
no American Music Awards em 1995, uma experiência que ele próprio diz ter sido
aterrorizante. “Eu estava muito nervoso! Mas ainda bem que não dava para
ver minhas pernas tremendo embaixo do terno que vestia. Quando nós acabamos,
Madonna me disse que nunca ficou tão nervosa antes. E isso foi muito louco para
mim. Fiquei pensando, “Você é a Madonna! Está toda hora no palco!”, relata ele.
Hoje em dia Madonna está gravando um novo álbum, que será
lançado em 2015, e Babyface trabalha na produção de um outro incomparável
ícone: Barbra Streisand. Olhando vinte anos atrás, ele diz que a experiência de
Bedtime Stories foi surreal. “Hoje quando penso nisso, é difícil acreditar que eu mesmo
fiz aquilo com Madonna. É sempre bom fazer parte de um álbum que é um clássico.
Mas na hora você nunca sabe quando faz parte. Só o tempo pode dizer”, revelou Babyface.
Donna De Lory parou de se apresentar com Madonna em 2007.
Hoje em dia está seguindo sua própria carreira e lançou recentemente o álbum
The Unchanging. Relembrando seu tempo com Madonna, ela ainda tem admiração pela
imersão dela durante o processo de gravação.