A
cantora Simone anda batendo panelas
na janela de sua casa em São Conrado, mas rejeita a obrigação de se posicionar
politicamente. Aos 66 anos de idade, acha que mulher “tem que se masturbar mesmo’’ e que o que importa numa relação é
mais o amor e a cumplicidade e menos a orientação sexual dos envolvidos. Também
conta que nunca pintou o cabelo, mas confessa já ter feito três plásticas.
Patrocinada por uma seguradora desde 2009, ela voltou ao palco do Vivo Rio nesta última sexta-feira,
trazendo a turnê “É melhor ser’’,
com entrada a R$ 1.
Aos
43 anos de carreira, defende o ingresso barato. Porém, diz que não se sente
preparada para debater a Lei Rouanet.
Na reta final da recuperação de uma hepatite que a fez suspender dois de seus
maiores prazeres por alguns meses — os shows e o vinho tinto —, defende que
quer viver o hoje. “Não estou nem aí para
o que falam de mim. Já liguei o...’’ (ela não termina a frase).
Como é possível fazer uma turnê com
ingressos a R$ 1?
É uma briga minha há pelo menos 20
anos. Tem gente que pode pagar, mas muito mais gente não pode. Sem patrocínio,
eu não conseguiria. A casa de shows cobra 50% da bilheteria, vamos percorrer 20
cidades, o cenário é do Hélio Eichbauer, a direção é da Christiane Torloni...
Após tanto tempo patrocinada, o que
você acha das críticas à Lei Rouanet?
Não tenho capacidade para debater esse
assunto a fundo. Sou patrocinada desde 2009. Não sou produtora, apenas uma
cantora que batalha. E esta temporada acabou vindo numa hora importante, uma
crise horrorosa.
O que acha da atual situação política?
Eu acho uma sacanagem, uma escrotidão,
uma filha da putice o que estão fazendo com o país e com o povo. Nós temos uma
parcela de culpa nas pequenas corrupções do dia a dia, mas os dirigentes do
país são os verdadeiros culpados.
O que seriam as pequenas corrupções do
seu dia a dia?
Já pedi que amigos comprassem
ingressos para não ter que entrar na fila...
Artista tem obrigação de se posicionar
politicamente, de declarar voto?
Não acho que por ser artista devo
fazer tal coisa. Os tempos estão muito quentes.
Você já declarou voto no passado?
Já. Acompanhei a Arena, o PMDB. Nunca
votei no PT.
Alguns artistas estão se mobilizando
para as manifestações convocadas para este domingo. Você está entre eles?
Não. Mas dia 13 estarei na rua. Minha
panela tem sido batida na janela. Mas meus tempos são outros. Só quero cantar
e, de vez em quando, ver “House of cards”.
Além de assistir a séries, o que você
gosta de fazer para se divertir?
‘Sou antiga. Não gosto nem de mensagem
de texto ou voz. Mas sei que existem ótimos perfis falsos meus, que sabem mais
coisas minhas do que eu. E sei que sofri muito bullying com a música “Então é
Natal” (1995).’
Ver filmes. Da última leva, o que mais
gostei foi “Carol’’. Também gostei de “Spotlight’’ e “A garota dinamarquesa’’.
Não vi “O menino e o mundo’’, mas quero ver.
Você vai ao cinema ou baixa os filmes
na internet?
Não sei baixar nada... A única vez que
em tentei entrou um filme de sacanagem (risos).
Por falar da última leva de filmes, a
atriz Gloria Pires virou alvo de muitos memes por sua atuação como comentarista
do Oscar. Como você vê essa resposta implacável das redes sociais? Você usa
Facebook, Twitter ou Instagram?
Sou antiga. Não gosto nem de mensagem
de texto ou voz. Mas sei que existem ótimos perfis falsos meus, que sabem mais
coisas minhas do que eu. E sei que sofri muito bullying com a música “Então é
Natal” (1995). Fizeram campanha na internet, queriam proibir de tocar, uma
coisa horrível e ditatorial. Com uma música que as pessoas adoram e que vendeu
1 milhão de cópias...
Você se arrepende de tê-la gravado?
Não matei, não roubei, vou ter
vergonha de uma música que fez sucesso na minha voz? Tive a ideia de gravar um disco
de canções natalinas durante uma viagem a Nova York, quando entrei numa loja de
discos e vi que vários cantores americanos tinham feito. Além disso, nasci no
dia 25 de dezembro. E minha relação sempre foi de ódio e amor com o Natal. É
difícil ter Jesus Cristo como concorrente.
No próximo 25 de dezembro você
completa 67 anos...
Sou uma senhora, mas não tenho
espírito de senhora. Aliás, queria que você botasse aí que acho um absurdo a
maneira como representam a pessoa como mais de 65 anos no cartão de gratuidade
de estacionamento para idoso (ela pede para pegar o papel que carrega no carro
e mostra a figura de um boneco curvado, com bengala e mão na lombar). Fico
revoltada.
Aos 66 anos, como fica a sexualidade?
Ativíssima. Sou saudável. Acho que
mulher tem que se masturbar mesmo. Não pode ficar parada. Para mim, quando o
olhar bate, não importa se é homem ou mulher. Já tive muitos problemas com isso
quando namorei uma mulher pela primeira vez, aos 18 anos. Hoje lido bem. Também
já namorei homens. Não levanto bandeira, mas nunca escondi nada. Acho que uma
relação trata de amor, desejo, cumplicidade. Isso é o que importa.
Você é vaidosa?
Não sei. Lavo o cabelo em todos os
banhos, não uso maquiagem, mas gosto de estar sempre cheirosa.
Já fez plástica?
Tirei gordura sob os olhos, ajustei o
pescoço e diminuí os seios, que cresceram muito com a menopausa. A ampulheta já
virou... Quero viver o agora. Passei por momentos difíceis, lutas internas.
Hoje sou feliz. Não estou nem aí para o que falam de mim. Já liguei o... (ela
não termina a frase). Isso tem a ver com este meu disco (lançado em 2013).
Canto o que ouço, o que gosto, o que me faz feliz.
O disco em que se baseia o show tem
apenas músicas compostas por mulheres, inclusive uma parceria sua com a atriz
Fernanda Montenegro...
A Fernanda me mandou uma carta de
amizade, que ficava na parede. Um dia, pensei: “Isto é música’’. Fiz a melodia
e mandei para ela. Assim nasceu “A proposta’’. O disco é um agradecimento às
compositoras contemporâneas. Vivo cercada de mulheres densas e intensas.
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