segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Aos 66, Simone faz show a R$ 1 e diz: ‘Sofri bullying com Então é Natal’

A cantora Simone anda batendo panelas na janela de sua casa em São Conrado, mas rejeita a obrigação de se posicionar politicamente. Aos 66 anos de idade, acha que mulher “tem que se masturbar mesmo’’ e que o que importa numa relação é mais o amor e a cumplicidade e menos a orientação sexual dos envolvidos. Também conta que nunca pintou o cabelo, mas confessa já ter feito três plásticas. Patrocinada por uma seguradora desde 2009, ela voltou ao palco do Vivo Rio nesta última sexta-feira, trazendo a turnê “É melhor ser’’, com entrada a R$ 1.

Aos 43 anos de carreira, defende o ingresso barato. Porém, diz que não se sente preparada para debater a Lei Rouanet. Na reta final da recuperação de uma hepatite que a fez suspender dois de seus maiores prazeres por alguns meses — os shows e o vinho tinto —, defende que quer viver o hoje. “Não estou nem aí para o que falam de mim. Já liguei o...’’ (ela não termina a frase).


Como é possível fazer uma turnê com ingressos a R$ 1?
É uma briga minha há pelo menos 20 anos. Tem gente que pode pagar, mas muito mais gente não pode. Sem patrocínio, eu não conseguiria. A casa de shows cobra 50% da bilheteria, vamos percorrer 20 cidades, o cenário é do Hélio Eichbauer, a direção é da Christiane Torloni...

Após tanto tempo patrocinada, o que você acha das críticas à Lei Rouanet?
Não tenho capacidade para debater esse assunto a fundo. Sou patrocinada desde 2009. Não sou produtora, apenas uma cantora que batalha. E esta temporada acabou vindo numa hora importante, uma crise horrorosa.

O que acha da atual situação política?
Eu acho uma sacanagem, uma escrotidão, uma filha da putice o que estão fazendo com o país e com o povo. Nós temos uma parcela de culpa nas pequenas corrupções do dia a dia, mas os dirigentes do país são os verdadeiros culpados.

O que seriam as pequenas corrupções do seu dia a dia?
Já pedi que amigos comprassem ingressos para não ter que entrar na fila...

Artista tem obrigação de se posicionar politicamente, de declarar voto?
Não acho que por ser artista devo fazer tal coisa. Os tempos estão muito quentes.

Você já declarou voto no passado?
Já. Acompanhei a Arena, o PMDB. Nunca votei no PT.

Alguns artistas estão se mobilizando para as manifestações convocadas para este domingo. Você está entre eles?
Não. Mas dia 13 estarei na rua. Minha panela tem sido batida na janela. Mas meus tempos são outros. Só quero cantar e, de vez em quando, ver “House of cards”.

Além de assistir a séries, o que você gosta de fazer para se divertir?
‘Sou antiga. Não gosto nem de mensagem de texto ou voz. Mas sei que existem ótimos perfis falsos meus, que sabem mais coisas minhas do que eu. E sei que sofri muito bullying com a música “Então é Natal” (1995).’
Ver filmes. Da última leva, o que mais gostei foi “Carol’’. Também gostei de “Spotlight’’ e “A garota dinamarquesa’’. Não vi “O menino e o mundo’’, mas quero ver.

Você vai ao cinema ou baixa os filmes na internet?
Não sei baixar nada... A única vez que em tentei entrou um filme de sacanagem (risos).

Por falar da última leva de filmes, a atriz Gloria Pires virou alvo de muitos memes por sua atuação como comentarista do Oscar. Como você vê essa resposta implacável das redes sociais? Você usa Facebook, Twitter ou Instagram?
Sou antiga. Não gosto nem de mensagem de texto ou voz. Mas sei que existem ótimos perfis falsos meus, que sabem mais coisas minhas do que eu. E sei que sofri muito bullying com a música “Então é Natal” (1995). Fizeram campanha na internet, queriam proibir de tocar, uma coisa horrível e ditatorial. Com uma música que as pessoas adoram e que vendeu 1 milhão de cópias...

Você se arrepende de tê-la gravado?
Não matei, não roubei, vou ter vergonha de uma música que fez sucesso na minha voz? Tive a ideia de gravar um disco de canções natalinas durante uma viagem a Nova York, quando entrei numa loja de discos e vi que vários cantores americanos tinham feito. Além disso, nasci no dia 25 de dezembro. E minha relação sempre foi de ódio e amor com o Natal. É difícil ter Jesus Cristo como concorrente.

No próximo 25 de dezembro você completa 67 anos...
Sou uma senhora, mas não tenho espírito de senhora. Aliás, queria que você botasse aí que acho um absurdo a maneira como representam a pessoa como mais de 65 anos no cartão de gratuidade de estacionamento para idoso (ela pede para pegar o papel que carrega no carro e mostra a figura de um boneco curvado, com bengala e mão na lombar). Fico revoltada.

Aos 66 anos, como fica a sexualidade?
Ativíssima. Sou saudável. Acho que mulher tem que se masturbar mesmo. Não pode ficar parada. Para mim, quando o olhar bate, não importa se é homem ou mulher. Já tive muitos problemas com isso quando namorei uma mulher pela primeira vez, aos 18 anos. Hoje lido bem. Também já namorei homens. Não levanto bandeira, mas nunca escondi nada. Acho que uma relação trata de amor, desejo, cumplicidade. Isso é o que importa.

Você é vaidosa?
Não sei. Lavo o cabelo em todos os banhos, não uso maquiagem, mas gosto de estar sempre cheirosa.

Já fez plástica?
Tirei gordura sob os olhos, ajustei o pescoço e diminuí os seios, que cresceram muito com a menopausa. A ampulheta já virou... Quero viver o agora. Passei por momentos difíceis, lutas internas. Hoje sou feliz. Não estou nem aí para o que falam de mim. Já liguei o... (ela não termina a frase). Isso tem a ver com este meu disco (lançado em 2013). Canto o que ouço, o que gosto, o que me faz feliz.

O disco em que se baseia o show tem apenas músicas compostas por mulheres, inclusive uma parceria sua com a atriz Fernanda Montenegro...
A Fernanda me mandou uma carta de amizade, que ficava na parede. Um dia, pensei: “Isto é música’’. Fiz a melodia e mandei para ela. Assim nasceu “A proposta’’. O disco é um agradecimento às compositoras contemporâneas. Vivo cercada de mulheres densas e intensas.

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