O
subtítulo do primeiro projeto acústico do grupo Jota Quest, Músicas para cantar
junto, explicita a conexão da banda mineira com o chamado grande público.
Muitas vezes alvo de preconceito por parte dos críticos musicais, justamente
por ter construído ao longo de 22 anos uma obra pop e popular decalcada da soul
music norte-americana, o Jota Quest pode até ser acusado de preguiça artística
por estar pondo no mercado fonográfico mais um projeto em que recicla o
repertório da banda. Mas a acusação seria injusta.
É
fato que a discografia do grupo andou redundante nos anos 2000, com excesso de
registros ao vivo de shows. Só que o recém-lançado CD/DVD Acústico Jota Quest –
Músicas para cantar junto (Sony Music, 2017) vem ao mundo após dois álbuns de
músicas inteiramente inéditas, Funky funky boom boom (2013) e Pancadélico
(2015), que se impuseram como os melhores da irregular obra fonográfica do
grupo. Foi com o fôlego renovado que o Jota Quest partiu para a primeira
gravação ao vivo de formato acústico, orquestrada sob a produção de Liminha.
Sempre
procurando manter o groove, a banda requisitou um trio de metais e enquadrou os
principais sucessos nesse formato que andava meio em desuso, mas que já
turbinou, na década de 1990 e nos 2000, carreiras em declínio. No caso do Jota
Quest, que se mantém em cena sem perda da popularidade, o acústico tem como
principal característica a transposição das músicas da guitarra para o violão
de Marco Túlio Lara. Marcio Buzelin também explora sons menos elétricos nos
teclados ao passo que PJ faz o mesmo no toque do baixo. Paulinho Fonseca
suaviza a marcação da bateria para que as músicas da banda se afinem com o
clima mais ameno, quase de luau, de projetos acústicos.
O
que permanece é o inegável apelo pop do repertório do Jota Quest, reiterado nas
inéditas A vida e outras histórias (Marco Túlio Lara, Tibless, Simões e Leoni),
Morrer de amor (Alexandre Carlo) e Você precisa de alguém (Marcelo Falcão). Na
gravação dessa música, o Jota Quest se junta ao autor da composição, Marcelo
Falcão, conhecido por ser a voz do grupo carioca O Rappa. Com o detalhe de que
é Falcão que se conecta com o universo do Jota Quest, e não o contrário.
Já
a participação de Milton Nascimento em O sol (Antônio Júlio Nastácia, 2003) dá
brilho especial a uma música já tantas vezes gravada pelo grupo em registros ao
vivo. Sem falar que a simples presença de Milton, maior nome da música
associada ao estado de Minas Gerais, por si só já enobrece o acústico do Jota
Quest.
Enfim,
por mais que seja (outro) passo retroativo da banda, a gravação ao vivo feita
em maio, na cidade de São Paulo (SP), celebra e refaz a comunhão do Jota Quest
com o público, dando tempo para a banda arquitetar um álbum de músicas inéditas
que, espera-se, venha à altura dos recentes Funky funky boom boom e
Pancadélico. Por ora, o que temos para hoje – e para os próximos meses – é um
punhado de músicas para cantar junto no clima habitualmente celebrativo e
retrospectivo dos acústicos.
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