No
começo do século, Ali (2001)
estreava nos Estados Unidos no dia de Natal e o filme conquistava duas
indicações ao Oscar. A mesma tática foi usada em outra história real estrelada
por Will Smith, mas o resultado foi
outro, uma vez que todo ano alguns filmes tentam entrar na corrida dos prêmios
da Academia sem sobreviver até as indicações. Nessa edição, uma das vítimas foi
Um Homem Entre Gigantes (2015).
A
história de um homem contra um sistema sujo e opressor tem o sabor dos prêmios
da Academia: basta ver Trumbo: Lista
Negra (2015) e Spotlight: Segredos
Revelados (2015). Smith vive o médico Bennet Omalu, que descobre em suas
autopsias em jogadores de futebol americano que a prática esportiva e seus
contatos causam danos no cérebro. Ao tentar denunciar o fato, entra em guerra
com a NFL (entidade que funciona como a NBA, mas no futebol da bola oval),
cujos interesses econômicos seriam comprometidos pela descoberta científica.
Assim,
Um Homem Entre Gigantes parte de uma
fórmula que inspira engajamento do público. Essa faceta é amplificada pela boa
atuação de Smith, que incorpora o sotaque nigeriano e as idiossincrasias do
personagem: conversar com os cadáveres, ouvir música ao estilo Motown enquanto trabalha, respeitar os
mortos, etc.
Para
entrar na pele do médico, Will acompanhou pessoalmente algumas autopsias
executado pelo Omalu de verdade. Alec Baldwin (Missão: Impossível – Nação Secreta) também vive um médico e
conviveu com profissionais da área em sua preparação para o papel. A dinâmica
entre os dois é ótima. Em contrapartida, a história de amor entre Omalu e sua
futura esposa (Gugu Mbatha-Raw, de O
Destino de Júpiter) por vezes soa
excessiva e mal encaixada.
É
pelos méritos de filmes como esse que a campanha pela diversidade étnica nos
indicados ao Oscar não poderia ser considerada apenas mimimi ou o tal racismo
inverso (algo que não existe). Em tom quase premonitório, Um Homem entre Gigantes resvala na questão de que um homem negro
não combina com a ideia de brilhantismo intelectual – pelo menos na mente
pequena de pessoas preconceituosas.
Cotação: *** ½