quarta-feira, 2 de março de 2016

Um Homem entre Gigantes: Soma emotiva

No começo do século, Ali (2001) estreava nos Estados Unidos no dia de Natal e o filme conquistava duas indicações ao Oscar. A mesma tática foi usada em outra história real estrelada por Will Smith, mas o resultado foi outro, uma vez que todo ano alguns filmes tentam entrar na corrida dos prêmios da Academia sem sobreviver até as indicações. Nessa edição, uma das vítimas foi Um Homem Entre Gigantes (2015).

A história de um homem contra um sistema sujo e opressor tem o sabor dos prêmios da Academia: basta ver Trumbo: Lista Negra (2015) e Spotlight: Segredos Revelados (2015). Smith vive o médico Bennet Omalu, que descobre em suas autopsias em jogadores de futebol americano que a prática esportiva e seus contatos causam danos no cérebro. Ao tentar denunciar o fato, entra em guerra com a NFL (entidade que funciona como a NBA, mas no futebol da bola oval), cujos interesses econômicos seriam comprometidos pela descoberta científica.

Assim, Um Homem Entre Gigantes parte de uma fórmula que inspira engajamento do público. Essa faceta é amplificada pela boa atuação de Smith, que incorpora o sotaque nigeriano e as idiossincrasias do personagem: conversar com os cadáveres, ouvir música ao estilo Motown enquanto trabalha, respeitar os mortos, etc.

Para entrar na pele do médico, Will acompanhou pessoalmente algumas autopsias executado pelo Omalu de verdade. Alec Baldwin (Missão: Impossível – Nação Secreta) também vive um médico e conviveu com profissionais da área em sua preparação para o papel. A dinâmica entre os dois é ótima. Em contrapartida, a história de amor entre Omalu e sua futura esposa (Gugu Mbatha-Raw, de O Destino de Júpiter) por vezes soa excessiva e mal encaixada.

É pelos méritos de filmes como esse que a campanha pela diversidade étnica nos indicados ao Oscar não poderia ser considerada apenas mimimi ou o tal racismo inverso (algo que não existe). Em tom quase premonitório, Um Homem entre Gigantes resvala na questão de que um homem negro não combina com a ideia de brilhantismo intelectual – pelo menos na mente pequena de pessoas preconceituosas.


Cotação: *** ½