Se
há algo que é verdadeiramente frustrante é quando uma ideia que tem tudo para
dar certo acaba dando errado. O cinema está repleto de casos assim como, por
exemplo, com o filme em live-action do desenho animado Mr. Magoo (1997). Afinal, Mr.
Magoo, com sua enorme miopia, é um dos personagens mais engraçados dos
desenhos animados – eu mesmo curtia muito os seus desenhos quando criança. E
seu intérprete era ninguém menos que o engraçadíssimo Leslie Nielsen (franquia Corra
Que a Polícia Vem Aí) – um comediante que eu e mais milhões de pessoas ao
redor do mundo também curtiam.
Tinha
tudo para dar certo, não tinha? Tinha, mas não deu. Apesar dos esforços de
Nielsen, o filme foi uma bomba tão grande que deu um prejuízo enorme, não
chegou a ficar duas semanas em cartaz e logo foi lançado em home vídeo para
tentar recuperar pelo menos uma parte do investimento. É bem provável que a
comédia Irmãs não siga o mesmo
caminho de Mr. Magoo, mas
infelizmente, ao se assistir o filme, percebe-se que um monte de boas ideias
que foram utilizadas acabam não funcionando como deveriam.
Na
trama, as irmãs Kate (Tina Fey, de Megamente) e Maura (Amy Poehler, de Martin & Orloff) são duas irmãs de personalidades e vidas
opostas: enquanto a primeira é barraqueira, desempregada e extrovertida, a
segunda é organizada, com um bom emprego e introvertida. Mas, apesar das
diferenças, se amam muito. Um dia, seu pais, Bucky (James Brolin, de Prenda-me,
Se For Capaz) e Deana (Dianne Wiest,
de Hannah e Suas Irmãs) contam a
Maura que eles irão vender a casa onde ela e Kate passaram sua infância e
juventude e que as irmãs devem retirar suas coisas de seus quartos. Maura conta
a Kate a má notícia e, enquanto ambas arrumam suas coisas tem a ideia de fazer
uma festa de despedida de arromba na casa convidando os seus antigos amigos.
Porém, uma antiga rival, Brinda (Maya
Rudolph, de Idiocracia),
pretende estragar tudo.
Essa
é a premissa básica. Se o leitor prestou bastante atenção, parece um roteiro
daquelas comédias adolescentes que faziam tanto sucesso na década de 1980. E,
de fato, não deixa de ser. A única diferença é que, ao invés de adolescentes,
os baladeiros são todos quarentões e quarentonas, muitos deles casados, com
filhos e levando uma vida bem burguesa. Mas, de resto, é o mesmo: sexo,
bebedeiras, um fuminho, confusões e todos torcendo para que a polícia não
apareça para estragar a balada e, principalmente, que os pais não descubram.
O
que poderia ser uma versão cômica do filme O
Reencontro (1983), para se falar da chegada da meia idade, acaba se
tornando algo etéreo, sem graça mesmo. São pouquíssimas as piadas que
funcionam. O roteiro de Paula Pell
(da série Um Maluco na TV e que
também atua no filme) não se acerta ao longo do filme, o que é surpreendente,
pois ela é uma experiente roteirista do programa de televisão Saturday Night Live, um clássico da
comédia estadunidense que já revelou comediantes como Dan Ackoyd (Cônicos e
Cômicos) e Eddie Murphy (48 Horas).
Aliás,
Irmãs parece ser um especial do Saturday
Night Live, dado o número de membros e ex-membros desse programa que
aparecem no filme. Além, de Paula, temos as atrizes principais, Maya, e os
atores Bobby Moynihan (como o
gorducho metido a engraçadinho Alex), Rachel
Dracht (Kelly), Chris Parnell
(Phil) e Kate McKinnon (Sam), apenas
para citar alguns. Atores bons e experientes como James Brolin, Dianne Wiest
e John Leguizamo (de Kick-Ass 2) acabaram sendo
desperdiçados. Sua presença poderia ter sido melhor aproveitada. Já o
praticante de luta livre John Cena, até
consegue arrancar alguns risos com o traficante Pazuzu (para quem não sabe ou
não lembra, Pazuzu é o nome do demônio do filme de terror O Exorcista. Uma piada que também poderia ser usada melhor e não
foi…).
Tina Fey e Amy Poehler
fazem o possível para salvar o filme. Mesmo com todo o talento que possuem – e
elas são realmente excelentes comediantes – são muito poucas as piadas que
conseguem fazer engrenar. Mesmo na cena em que Maura está no quarto com o seu
objeto de desejo, o jardineiro James (Ike
Barinholtz, de Vizinhos) e que
tinha tudo para ser a mais engraçada do filme, a risada sai xoxa…
A
direção de Jason Moore (A Escolha Perfeita) é extremamente
convencional, mais atrapalhando do que ajudando. A fotografia de Barry Peterson é boa, principalmente ao
mostrar belas cenas da cidade de Orlando, o destino de férias preferido dos
coxinhas brasileiros, mas também não é nada excepcional.
Apesar
de tudo, Irmãs tem tido uma
bilheteria razoável nos EUA – estreou no mesmo dia que Star Wars: O Despertar da Força – e já está prestes a dar lucro. A
explicação? Só uma: o talento e o carisma de Tina e Amy, uma das maiores duplas
cômicas da atualidade (além de já terem trabalhado como dupla no Saturday Night Live, já fizeram outras
duas comédias para o cinema) e o público gosta muito de vê-las juntas. Tina e
Amy são o maior motivo para se assistir Irmãs,
mas mesmo elas sendo comediantes fantásticas, não espere demais do filme. Vá
vê-lo em um dia que esteja de folga, sem nenhum compromisso mais importante e,
talvez, possa até se divertir um pouco, principalmente ao se passar os
letreiros finais, pois é quando aparecem os erros de gravação que, para mim,
são a parte mais engraçada do filme.