Após 15 anos, o grupo se reuniu
novamente para gravar novo álbum de inéditas, já disponível no mercado nacional
Os Tribalistas surgiram como um dos mais enigmáticos projetos (e
sucessos) musicais dos últimos 15 anos. Três intérpretes de fama nacional com
perfis distintos se reuniram em um combo criativo e, sem turnê de divulgação,
lançaram em 2002 um CD apostando em sonoridades acústicas e melodiosas. Em uma
época em que as rádios estavam repletas de guitarras e timbres eletrônicos, e
que a pirataria melava qualquer expectativa de boas vendas, o trio conseguiu a
façanha de ganhar um disco de diamante com mais de 2 milhões de cópias
comercializadas.
Neste
2017 das divas empoderadas – de Elza
Soares a Anitta –, Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos
Brown voltam com seu puxadinho de violões e percussões insólitas para
encontrar um lugar ao sol. Será que vai dar certo outra vez? O novo álbum já está
disponível em CD e nas plataformas de streaming, leva a crer que o estouro do
passado não se repetirá, mas que também não há fracasso à vista.
Com
o preguiçoso título de Tribalistas –
o mesmo do trabalho anterior –, o álbum não tem nenhuma faixa candidata a hit
do quilate da inaugural Já Sei Namorar,
explosão de sensualidade juvenil e independência amorosa: ¿Eu sou de todo mundo / e todo mundo é meu também¿. Ao contrário,
na flor de seus 15 anos, o trio parece ter deixado a adolescência para falar,
em Aliança: ¿Véu e grinalda / lua de mel / chuva de arroz / e tudo depois¿. E de
comportados Peixinhos: ¿Nadam, boiam / fazem bolhas / e bolinhas de sabão¿.
O
tom político, embora não partidário, é mais um dos indicativos de que os Tribalistas cresceram. Nesse sentido,
destacam-se faixas como Lutar e Vencer,
inspirada nas ocupações de escolas brasileiras, e Diáspora, sobre migrações e refugiados. Em Diáspora, eles se dão melhor, com destaque para os versos de Sousândrade (1833 – 1902) e Castro Alves (1847 – 1871) citados ao
longo da faixa, demonstrando a atemporalidade do tema. Já Lutar e Vencer tem a artificialidade de quem vê o movimento
estudantil de fora. A composição tenta ganhar originalidade ao amparar seus
versos em torno de proparoxítonas (¿víveres¿,
¿líderes¿, ¿ídolos¿, ¿símbolos¿), mas tudo desanda quando Carlinhos Brown emenda o clichê: ¿Se vencermos uns aos outros, assim não
serve, né meu velho? O negócio é vencer a si mesmo¿.
Um
dos bons momentos é Um Só, espécie de
declaração de princípios do grupo: ¿Somos
comunistas / e capitalistas / somos anarquistas / somos o patrão / somos da
quadrilha / Salve São João¿. Mas a faixa deixa uma impressão de déjà vu a
quem ouviu em 2002 a canção Tribalistas:
– ¿os Tribalistas já não querem ter razão
/ não querem ter certeza / não querem ter juízo nem religião¿.
Com
levadas simples e vozes singulares em harmonia, o álbum dificilmente cria
estranhamento ou repulsa, embora também seja pouco provável que gere grande
empatia – euforia já seria pedir demais. É um disco com sonoridade leve e
alguns versos marcantes, que pode não repetir o sucesso no anterior, mas não
vai desagradar o imenso público que já segue Marisa Monte, Arnaldo
Antunes e Carlinhos Brown.
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