Se
nos anos 70 os atiradores de elite só podiam disparar por trás das barricadas
criadas com poesia e metáforas, na década seguinte eles foram para o front.
Mais distantes do AI-5 de 1968 do que a MPB de Geraldo Vandré e Chico
Buarque, bem mais próximos da abertura política e das Diretas Já!, a
geração dos meninos que criaram as estruturas mais firmes para a existência de
um rock nacional sentiu o peso do engajamento. A era de atuação política mais
visível na música brasileira girou em torno de um punhado de bandas sobretudo
cariocas, paulistas e brasilienses que, há 30 anos, acreditaram que poderiam
mudar se não o mundo, ao menos o seu País.
Os Paralamas do Sucesso bateram nos “300
picaretas do Congresso” apontados por Lula,
em 1995, oito anos antes de o ex-metalúrgico se tornar presidente da República.
A música 300 Picaretas espancava o
que havia sobrado de moral nos políticos envolvidos no chamado Escândalo do
Orçamento. Um dos versos dava nome aos bois:
“Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão
/ Pra roubar, renunciar, voltar na próxima eleição / Se eu fosse dizer nomes, a
canção era pequena / João Alves, Genebaldo, Humberto Lucena / De exemplo em
exemplo aprendemos a lição / Ladrão que ajuda ladrão ainda recebe concessão /
De rádio FM e de televisão / Rádio FM e televisão... Luiz Inácio falou, Luiz
Inácio avisou.”
Apenas
três anos depois de Luiz Inácio
assumir a presidência ao som de 300
Picaretas tocada ao vivo, e de os Paralamas receberam o título de Cidadãos Honorários de Brasília, os
ânimos do rock sofreriam um novo golpe. O mesmo partido que contava com o apoio
de grande parte da classe artística politizada pagava propina aos parlamentares
para que eles votassem a favor de projetos do governo Lula.
Os
corredores de Brasília estavam contaminados pelo Mensalão. Sem o mesmo poder de
fogo dos anos 80, o rock voltou ao combate com os Titãs, que lançaram Vossa
Excelência.
“Estão nas mangas / dos senhores ministros /
nas capas / dos senhores magistrados / Nas golas / dos senhores deputados / nos
fundilhos / dos senhores vereadores / nas perucas / dos senhores senadores...”
O refrão era um desabafo: “Senhores! Senhores! Senhores! / Minha Senhora! /
Senhores! Senhores! ; Filho da P...! Bandido! Corrupto! Ladrão! Senhores!”
O
tempo não parece vencer canções que preferiram não citam nomes. Em 1978, Renato Russo escreveu o mais regravado
dos libelos, Que País É Esse, que a Legião Urbana só lançaria em 1987.
“Nas favelas, no Senado / Sujeira pra todo
lado / Ninguém respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da Nação".
A
censura ainda tinha garras longas o suficiente para impedir que Que País é Este e as faixas Faroeste Caboclo, Conexão Amazônica e Mais do
Mesmo fossem tocadas nas rádios.
Sem
citar um fato específico, o Ultraje a
Rigor parecia citar todos os fatos ao mesmo tempo ao lançar Inútil, em 1985 (um EP havia sido
lançado dois anos antes com Mim Quer
Tocar do outro lado) – primeiro ano da era José Sarney depois de seis nas mãos do último general, João Baptista Figueiredo. Inútil, em sua mescla de crítica
política e autocrítica social, soa com uma contemporaneidade de estremecer:
“A gente não sabemos escolher presidente / A
gente não sabemos tomar conta da gente / A gente não sabemos nem escovar os
dente / Tem gringo pensando que nóis é indigente / Inútil, a gente somos
inútil...” “A gente faz música e não consegue gravar / A gente escreve livro e
não consegue publicar / A gente escreve peça e não consegue encenar / A gente
joga bola e não consegue ganhar.”
Cinco
músicas politizadas da geração mais indignada do rock nacional:
Legião Urbana - Que País É
Esse?
Ultraje a Rigor - Inútil
Plebe Rude - Até Quando
Esperar
Paralamas do Sucesso - 300 picaretas
Titãs - Vossa
Excelência
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