segunda-feira, 17 de abril de 2017

Documentário “Strike a Pose” mostra a vida dos dançarinos de Madonna

Em maio de 1991, Madonna intrigava mais uma vez seu público com o lançamento de seu documentário “Na Cama com Madonna” (Truth or Dare nos Estados Unidos e In Bed with Madonna na Europa). Dirigido por Alek Keshishian, o filme, que surgiu anos antes da popularidade dos reality shows, explorava os bastidores da turnê Blond Ambition, realizada em 1990 e é considerado um dos marcos na história do cinema por retratar uma época e abordar assuntos polêmicos como homossexualidade, religião, fama, divórcio, relacionamentos, morte e AIDS.

Inicialmente, a ideia do longa-metragem era para ser apenas um especial da HBO. Com o tempo, o diretor percebeu que poderia tirar muito mais daquela experiência do que a rotina de uma megastar. Com o início da turnê no Japão, Alek começou a filmar de tudo, exceto as conversas sobre negócios, proibidas nos momentos iniciais do filme por uma Madonna enfurecida com a temporada de chuvas tórridas que ocorria em Tóquio.
Logo, foi questão de tempo para que o filme evoluísse para as relações interpessoais de Madonna com seu pai, seus irmãos, suas backing vocals, suas maquiadoras, seu namorado (ninguém mais ninguém menos que Warren Beaty na época), amigos de longa data e seus dançarinos — esses últimos a quem ela tratava no filme como “seus filhos”.

Os sete “filhos” eram os jovens dançarinos Luis Camacho, Salim Gauwloos, Jose Gutierez, Kevin Stea, Gabriel Trupin, Carlton Wilborn e (o único heterossexual deles) Oliver Crumes III. Em 2016, são eles os protagonistas do documentário “Strike a Pose” que visa contar a trajetória do grupo 25 anos após o lançamento do filme que os fizeram famosos. O título sugestivo do longa é uma catch frase da música “Vogue”, um dos hits mais icônicos da carreira de Madonna inspirada em um estilo de dança, chamado “voguing”, muito conhecido na cena urbana de Nova York no final dos anos 1980 e que todos eles dominavam muito bem.
Segundo o crítico David Rooney do “The Hollywood Reporter”, no filme há adoráveis momentos em que os dançarinos leem cartas e e-mails de fãs que reconhecem a importância de ver gays autoconfiantes na tela de cinema em uma época que a cultura ainda não tinha muita visibilidade. No entanto, o mix de gratidão e melancolia em relação à Madonna ainda é um tema pungente, já que ela não participa das filmagens. Afinal, depois de tanto tempo, muitas águas rolaram.

Um ano após o lançamento do filme “Na cama com Madonna”, Oliver, Kevin e Gabriel processaram Madonna por invasão de privacidade, fraude, deturpação intencional, supressão da verdade, e imposição intencional de aflição emocional por expor suas vidas privadas no documentário. Os três fecharam um acordo com a cantora em 1994 e nunca mais a viram novamente. Em 1995, Gabriel Trupin faleceu devido a complicações resultantes da AIDS.

Luis Camacho e Jose Gutierez, que não processaram a cantora, lançaram um disco pelo antigo selo de propriedade de Madonna, Maverick Records. Mas de acordo com Gutierez, a diva pop não se preocupou em divulgar o trabalho. Camacho atribui seu uso crescente de heroína como uma das razões que levou Madonna a romper com ele e os outros dançarinos. Já Gutierez, em entrevista ao Page Six disse que a última vez que viu Madonna foi há cinco anos na loja Macy’s de Nova York em que, por coincidência, ela lançava o perfume “Truth or Dare”. “Ela me viu, olhou para mim, sorriu e foi isso”, afirmou o dançarino que depois do lançamento do filme ainda trabalhou ocasionalmente com a artista.

Carlton Wilborn conseguiu participar novamente na turnê The Girlie Show em 1993 e assim como Salim Gauwloos, guarda boas memórias da artista. “Minha recordação mais querida de Madonna aconteceu em 1995, quando eu estava tendo um momento muito difícil na minha carreira, ela se tornou ciente disso e me deixou morar alguns meses na mansão que ela tinha em Hollywood. Sempre estarei em débito com ela. Foi um tempo difícil e ela estendeu a mão de uma maneira que realmente não precisava”, revelou Carlton em entrevista ao site Madonna Tribe.


Apesar do sentimento por Madonna se expressar de forma diferente em cada um deles, em entrevistas todos concordam sobre a competência profissional, disciplina e foco que a artista tinha quando o assunto era sua carreira.

O longa, dirigido por Ester Gould e Reijer Zwaan busca apresentar a história de resiliência dos sete jovens que, assim como Madonna, queriam conquistar o mundo. O enredo trata de assuntos dramáticos como a dependência em festas, o uso constante de drogas e álcool e um deles consegue, depois de ocultar a notícia por um tempo, que é portador do vírus HIV. Mas há também muita dança e talento em todos eles e, assim como Madonna canta em “Vogue”, apesar de todos os problemas, o melhor lugar para ir continua sendo a pista de dança.

O documentário seu debut no Festival Internacional de Berlim com críticas favoráveis e contou com exibição especial no Festival de Cinema de Tribeca na segunda semana de abril deste ano. O filme está disponível na Netflix.

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