Em
maio de 1991, Madonna intrigava mais
uma vez seu público com o lançamento de seu documentário “Na Cama com Madonna” (Truth
or Dare nos Estados Unidos e In Bed
with Madonna na Europa). Dirigido por Alek
Keshishian, o filme, que surgiu anos antes da popularidade dos reality
shows, explorava os bastidores da turnê Blond
Ambition, realizada em 1990 e é considerado um dos marcos na história do
cinema por retratar uma época e abordar assuntos polêmicos como
homossexualidade, religião, fama, divórcio, relacionamentos, morte e AIDS.
Inicialmente,
a ideia do longa-metragem era para ser apenas um especial da HBO. Com o tempo,
o diretor percebeu que poderia tirar muito mais daquela experiência do que a
rotina de uma megastar. Com o início da turnê no Japão, Alek começou a filmar
de tudo, exceto as conversas sobre negócios, proibidas nos momentos iniciais do
filme por uma Madonna enfurecida com
a temporada de chuvas tórridas que ocorria em Tóquio.
Logo,
foi questão de tempo para que o filme evoluísse para as relações interpessoais
de Madonna com seu pai, seus irmãos,
suas backing vocals, suas maquiadoras, seu namorado (ninguém mais ninguém menos
que Warren Beaty na época), amigos
de longa data e seus dançarinos — esses últimos a quem ela tratava no filme
como “seus filhos”.
Os
sete “filhos” eram os jovens
dançarinos Luis Camacho, Salim Gauwloos, Jose Gutierez, Kevin Stea,
Gabriel Trupin, Carlton Wilborn e (o único heterossexual deles) Oliver Crumes III. Em 2016, são eles os
protagonistas do documentário “Strike a
Pose” que visa contar a trajetória do grupo 25 anos após o lançamento do
filme que os fizeram famosos. O título sugestivo do longa é uma catch frase da
música “Vogue”, um dos hits mais
icônicos da carreira de Madonna inspirada
em um estilo de dança, chamado “voguing”,
muito conhecido na cena urbana de Nova York no final dos anos 1980 e que todos
eles dominavam muito bem.
Segundo
o crítico David Rooney do “The Hollywood Reporter”, no filme há
adoráveis momentos em que os dançarinos leem cartas e e-mails de fãs que
reconhecem a importância de ver gays autoconfiantes na tela de cinema em uma
época que a cultura ainda não tinha muita visibilidade. No entanto, o mix de
gratidão e melancolia em relação à Madonna
ainda é um tema pungente, já que ela não participa das filmagens. Afinal,
depois de tanto tempo, muitas águas rolaram.
Um
ano após o lançamento do filme “Na cama
com Madonna”, Oliver, Kevin e Gabriel processaram Madonna por invasão de
privacidade, fraude, deturpação intencional, supressão da verdade, e imposição
intencional de aflição emocional por expor suas vidas privadas no documentário.
Os três fecharam um acordo com a cantora em 1994 e nunca mais a viram
novamente. Em 1995, Gabriel Trupin
faleceu devido a complicações resultantes da AIDS.
Luis Camacho e Jose Gutierez,
que não processaram a cantora, lançaram um disco pelo antigo selo de
propriedade de Madonna, Maverick
Records. Mas de acordo com Gutierez, a diva pop não se preocupou em divulgar o
trabalho. Camacho atribui seu uso crescente de heroína como uma das razões que
levou Madonna a romper com ele e os
outros dançarinos. Já Gutierez, em entrevista ao Page Six disse que a última vez que viu Madonna foi há cinco anos na loja Macy’s de Nova York em que, por
coincidência, ela lançava o perfume “Truth
or Dare”. “Ela me viu, olhou para
mim, sorriu e foi isso”, afirmou o dançarino que depois do lançamento do
filme ainda trabalhou ocasionalmente com a artista.
Carlton Wilborn conseguiu participar novamente na turnê The Girlie Show em 1993 e assim como Salim Gauwloos, guarda boas memórias da
artista. “Minha recordação mais querida
de Madonna aconteceu em 1995, quando eu estava tendo um momento muito difícil
na minha carreira, ela se tornou ciente disso e me deixou morar alguns meses na
mansão que ela tinha em Hollywood. Sempre estarei em débito com ela. Foi um
tempo difícil e ela estendeu a mão de uma maneira que realmente não precisava”,
revelou Carlton em entrevista ao site Madonna
Tribe.
Apesar
do sentimento por Madonna se
expressar de forma diferente em cada um deles, em entrevistas todos concordam
sobre a competência profissional, disciplina e foco que a artista tinha quando
o assunto era sua carreira.
O
longa, dirigido por Ester Gould e Reijer Zwaan busca apresentar a
história de resiliência dos sete jovens que, assim como Madonna, queriam conquistar o mundo. O enredo trata de assuntos
dramáticos como a dependência em festas, o uso constante de drogas e álcool e
um deles consegue, depois de ocultar a notícia por um tempo, que é portador do
vírus HIV. Mas há também muita dança e talento em todos eles e, assim como Madonna canta em “Vogue”, apesar de todos os problemas, o melhor lugar para ir
continua sendo a pista de dança.
O
documentário seu debut no Festival
Internacional de Berlim com críticas favoráveis e contou com exibição
especial no Festival de Cinema de
Tribeca na segunda semana de abril deste ano. O filme está disponível na Netflix.
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