A
trama principal é simples: Newt Scamander (Eddie
Redmayne) é um magizoologista que vai à Nova York buscar uma criatura rara.
Lá, alguns de seus animais fantásticos escapam pelas ruas da Grande Maçã e cabe
a ele recuperá-los.
O
que poderia ser uma aventura sem sal e repetitiva, pela premissa simples, acaba
se tornando peça essencial na construção de um arco maior, que vai ser mostrado
nos próximos quatro filmes da saga. Logo na primeira cena, por exemplo, repleta
de manchetes de jornais, já é estabelecida a presença maléfica de Grindelwald (Johnny Depp), o maior bruxo das trevas
antes de Lord Voldemort.
Dualidades
Visualmente,
o longa consegue apresentar de forma eficaz o contraste entre a jornada de Newt
e o destino do mundo bruxo, misturando cenas com muita luz e outras que possuem
uma atmosfera densa e sombria. Isso fica muito claro na sequência onde Jacob (Dan Fogler) passeia por dentro da
maleta de Scamander e anda por florestas bem iluminadas, encontrando criaturas
com muitas cores, até achar o Obscurus, uma besta das trevas que se assemelha
com o monstro de fumaça de Lost.
O
roteiro de Rowling também proporciona alguns “choques de realidade” em momentos de deslumbre. Em um segundo
estamos maravilhados com aquela nova face do Mundo Bruxo e no outro vemos os
personagens tendo de lidar com situações que evocam os piores preconceitos e
discursos de ódio do nosso mundo real.
Aliás,
o tom político que é evidente na saga Potter, também se faz presente no longa.
O interessante é que a trama preferiu não explorar a jornada de Grindelwald em
busca de uma raça pura: decidiu seguir pelo caminho inverso, mostrando o
preconceito dos no-maj (a denominação americana para “trouxas”) contra a
comunidade bruxa. O preconceito se torna parte essencial do arco de Graves (Colin Farrell) e Credence (Ezra Miller), personagens que
fundamentam o que veremos daqui para frente.
O
elenco também faz um ótimo trabalho. Redmayne constrói Newt de uma forma cômica
e ao mesmo tempo levemente melancólica, o que é explicado por alguns de seus
erros passados. Farrell consegue dar a Graves um ar misterioso e pesado (o que
é potencializado por algumas escolhas de posicionamento de câmera que fazem ele
parecer maior do que é). Miller se apresenta como uma figura esquisita que
transmite boa parte de seus sentimentos apenas com expressões corporais. Já Johnny Depp aparece brevemente como
Grindelwald, porém (e infelizmente), já é possível prever que o ator vai
empregar mais uma vez seus maneirismos de sempre e construirá o personagem como
uma versão do mal e com poderes de Jack
Sparrow.
Apesar
de muitos méritos, nem tudo é perfeito. O filme escorrega em seu ato final,
quando mostra diversas cenas que poderiam encerrar o longa mas que servem
apenas de gancho para puxar outra cena. O desfecho verdadeiro acaba sendo
anticlimático. Sabe O Senhor dos Anéis:
O Retorno do Rei com suas várias “cenas
finais”? Então. Mais ou menos isso.
Experiência emocional
O
longa também faz algumas referências à saga que já conhecemos. Rowling soube
usá-las na medida certa: fazem sentido dentro da narrativa e servem também como
um serviço aos fãs.
Animais Fantásticos e Onde Habitam pode ser definido como uma experiência que se encaixa
de forma coesa no universo criado por Rowling e também abre muitas portas, com
potencial de cativar uma nova geração de fãs que estão descobrindo a magia
agora.
Voltar
ao Mundo Bruxo, cinco anos depois do último filme da saga de Harry Potter ter sido lançado, depois
de ter lido e relido os livros, é perceber que eu mudei, as pessoas ao meu
redor mudaram, o mundo mudou e as situações são outras.
É
também saber que todas as experiências que vivemos ao lado do bruxo com a
cicatriz na testa já se foram para sempre, mas estarão lá no coração. De vez em
quando, podemos voltar à elas e dar um alô, mas seguindo em frente. Talvez esse
seja o grande mérito das boas fantasias: nos ensinar sobre a vida usando
mágica, seja você uma criança em 2001 ao lado da mãe, ou um jornalista na
cabine de imprensa.
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