sábado, 21 de novembro de 2015

Com novas versões a cada mês, o mercado de bíblias continua no topo

O livro sagrado dos cristãos ainda é o mais vendido do mundo

Os mais velhos se lembram bem do ofício de homens como José Maria Nogueira Lira. Há mais de 30 anos, ele andava pelas ruas de Fortaleza, batendo de porta em porta. Dali, empenhou-se e abriu uma loja. Depois foram mais sete espaços físicos e ainda um ambiente virtual, este lançado há sete anos, até Nogueira Lira se tornar um empresário reconhecido por vender variações de um único produto que parece não ser afetado por crises (e nem sair de moda): a Bíblia.

Fundador da empresa Casa da Bíblia, Nogueira Lira está no centro de um mercado do livro que, além de ser o mais vendido de todos os tempos, provavelmente ainda é o mais vendido em todos os anos. Em 2014, foram distribuídas 34 milhões de unidades só das entidades ligadas a Sociedades Bíblicas Unidas (SBU), uma associação que atua em 200 países e que recém-divulgou e seu relatório anual. O número significou um crescimento de 6% em relação a 2013. Só no Brasil, foram 7,6 milhões de volumes editados pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), ligada à SBU.

— É tranquilamente o livro mais distribuído do mundo — afirma Erní Seibert, secretário de Comunicação, Ação Social e Arrecadação da SBB. — É um patrimônio da Humanidade. Se você viajar para a Europa e quiser entender a arquitetura, precisa conhecer a fé cristã. Se quiser entender a obra do Aleijadinho no Brasil, precisa do texto bíblico. Não é um livro apenas para religiosos.

ONZE MILHÕES DE BÍBLIAS NO BRASIL

A SBB atua majoritariamente no ramo evangélico e é o maior entre os mais de 50 membros da Associação de Editores Cristãos do Brasil (Asec). A diferença entre as bíblias evangélica e católica está apenas na exclusão de sete livros do Antigo Testamento por parte da primeira, além das traduções que diferem por editoras. Já os livros que interpretam o texto conforme determinadas doutrinas religiosas são chamados de “bíblias de estudo”, nada mais do que uma tradução acompanhada por comentários.

O texto bíblico é sempre o mesmo, independentemente da denominação cristã. Mas há mais de uma dezena de traduções para o português — afirma Emílio Fernandes Júnior, presidente da Asec. — Infelizmente, ainda não há dados oficiais de venda deste segmento no Brasil. Recentemente a Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato dos Editores de Livros passaram a incluir o segmento de Bíblias na pesquisa do mercado editorial e essa distribuição começa a aparecer. Estima-se que em 2014, no Brasil, tenham sido distribuídos 11 milhões de Bíblias, tanto católicas quanto evangélicas.

A Bíblia original, escrita em aramaico, grego e hebraico, está em domínio público, o que significa que qualquer pessoa pode traduzir e publicar o livro — e aí, sim, haverá proteção de direitos, por 70 anos a partir da morte do tradutor. As diferentes traduções diferem basicamente na linguagem. Uma das mais conhecidas foi feita pelo português João Ferreira de Almeida (1628-1691) e é muito utilizada, sobretudo por doutrinas protestantes.

— Os tradutores são considerados como autores, porque são responsáveis pelo que se chama de obra derivada — explica o monsenhor Jamil Alves, diretor editorial das Edições CNBB, criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em 2005. — Desde a sua criação, a Edições CNBB já produziu mais de um milhão de bíblias.

Já a editora Ave-Maria, uma das maiores no segmento de bíblias católicas, tem no mercado obras como “A Bíblia infantil”, “Bíblia católica do jovem”, “Minha primeira Bíblia com a Turma da Mônica” e a tradicional “Bíblia sagrada”. Desde 1959, já publicou 200 edições de bíblias, numa média anual de 600 mil volumes vendidos.

PUBLICIDADE

— Quando há incoerência nos textos, a Igreja intervém por meio da Congregação para a Doutrina da Fé — afirma Aliston Monte, gerente de Marketing da Ave-Maria. — O maior consumidor são as paróquias. Em muitos municípios do país não há livraria, mas paróquia sempre tem. E também há empresas que compram para presentear funcionários e clientes.

Segundo a última edição do Guinness Book, a Bíblia já foi traduzida para 349 idiomas e é o livro mais vendido do mundo. Os números absolutos, porém, são incertos. O Guinness cita estimativas de que mais de cinco bilhões de cópias de bíblias foram distribuídas desde o século XIX. Como comparação, os sete volumes da série “Harry Potter”, bem mais jovem que a Bíblia, mas uma sensação desde 1997, venderam 450 milhões.

— Todos os meses são lançadas bíblias novas — conta Ossian Carlos Vital, gerente administrativo da Casa da Bíblia virtual, aquela fundada pelo ex-vendedor Nogueira Lira. — Mesmo quando as editoras não têm algo novo, mudam a capa, o design. O mercado está sempre movimentado.