sábado, 20 de setembro de 2014

Vestido pra Casar | O fundo do poço tem porão


Permitam-me uma rápida reflexão antes de entrarmos nos pormenores de ”Vestido pra Casar”. Nos últimos anos, nos acostumamos a comparar os longas nacionais de (aham) “comédia” a especiais de TV produzidos por uma emissora brasileira apelidada carinhosamente de Vênus Platinada. No entanto, tal comparação é um insulto, visto que a telinha vem nos brindado com obras que, tecnicamente, não deixam a desejar aos bons exemplares cinematográficos, vide “O Canto da Sereia” ou o recente “O Rebu”.

Mesmo voltando no tempo, temos episódios de “A Comédia da Vida Privada” que, em formato, montagem, texto e atuação, se destacariam facilmente frente às obras que inundam nossas telas de cinema passando-se por “comédia”. Então, é impossível dizer que “Vestido pra Casar” tenha um nível de produção televisivo, por qualquer ângulo que o filme de Gerson Sanginitto e Paulo Aragão seja visto.

O fato é que esta película não funciona. Seja estética ou tematicamente falando, nada ali decola. O roteiro de Cláudio Torres Gonzaga, Audemir Leuzinger e Celso Taddei não passa de um punhado de gags recicladas amarradas por um fiapo de história, usando o humor de constrangimento para tentar causar o riso.

Até o “fiapo de história” que conecta as situações de humor é batido. O mentiroso compulsivo Fernando (Leandro Hassum) está prestes a se casar com a doce Nara (Fernanda Rodrigues). Mas o atrapalhado homem acaba se envolvendo em uma confusão crescente, envolvendo uma ex-BBB (Renata Dominguez) e o amante dela (Marcos Veras), que pode colocar tudo a perder.

Mesmo com as mentiras de Fernando atingindo níveis insanos (algo que o próprio roteiro ressalta, em dado ponto), as piadas e seus ganchos podem ser previstos a quilômetros de distância, até por se tornarem repetitivas dentro da própria narrativa (“O casamento está acabado!”), acabam por não ter graça. Com o nível rocambolesco das situações propostas pelo filme, torna-se impossível uma conexão entre o público e aquelas figuras cartunescas que surgem em cena, em qualquer nível.

O arco do personagem de Leandro Hassum aqui é idêntico àquele de seu Tino na franquia “Até Que a Sorte nos Separe”. Até mesmo os trejeitos do ator não mudam. Aliás, ele coloca a mão na orelha toda vez que mente, informação que o filme nos passa várias e várias vezes, chamando basicamente o espectador de desatento (para não usar outra palavra).

Se já é complicado hoje em dia aguentar comediantes usando do recurso do bordão em esquetes semanais, imagine ter de suportar o mesmo bordão sendo usado repetidas vezes em um espaço curto de tempo. Pois é o que André Mattos acaba tendo de fazer aqui, em uma caracterização que remete a um mafioso meio paranaense, meio italiano, que não decide qual sotaque usar para dizer “O casamento está acabado” ad nauseum.

Fernanda Rodrigues tem pouco a fazer além de falar de maneira interiorana e parecer bonita na tela (um feito, considerando a fotografia horrorosa do filme). Podemos ainda citar os “policiais” que surgem em tela, com figurinos que mais parecem fantasias de festa infantil e atuações que remetem a teatro amador, o Luan Santanna cover na figura do primo Pompilho (George Sauma) ou mesmo, no geral, a péssima direção de atores, que parecem mais perdidos que cegos em tiroteio na tela.
No final, o que temos é a prova de que o fundo do poço tem porão no que tange às “comédias” nacionais. Sanginitto e Aragão entregaram um filme que não só é visualmente feio, mas que também consegue torcer as leis da física, transformando 90 minutos em quase 90 horas de tão insuportável.
NOTA: 2,2