Permitam-me uma rápida reflexão antes de entrarmos
nos pormenores de ”Vestido pra Casar”.
Nos últimos anos, nos acostumamos a comparar os longas nacionais de (aham)
“comédia” a especiais de TV produzidos por uma emissora brasileira apelidada
carinhosamente de Vênus Platinada. No entanto, tal comparação é um insulto,
visto que a telinha vem nos brindado com obras que, tecnicamente, não deixam a
desejar aos bons exemplares cinematográficos, vide “O Canto da Sereia” ou o recente “O Rebu”.
Mesmo voltando no tempo, temos episódios de “A Comédia da Vida Privada” que, em formato,
montagem, texto e atuação, se destacariam facilmente frente às obras que
inundam nossas telas de cinema passando-se por “comédia”. Então, é impossível
dizer que “Vestido pra Casar” tenha
um nível de produção televisivo, por qualquer ângulo que o filme de Gerson Sanginitto e Paulo Aragão seja visto.
O fato é que esta película não funciona. Seja
estética ou tematicamente falando, nada ali decola. O roteiro de Cláudio Torres Gonzaga, Audemir Leuzinger e Celso Taddei não passa de um punhado de gags recicladas amarradas por um fiapo de
história, usando o humor de constrangimento para tentar causar o riso.
Até o
“fiapo de história” que conecta as situações de humor é batido. O mentiroso
compulsivo Fernando (Leandro Hassum)
está prestes a se casar com a doce Nara (Fernanda
Rodrigues). Mas o atrapalhado homem acaba se envolvendo em uma confusão
crescente, envolvendo uma ex-BBB (Renata
Dominguez) e o amante dela (Marcos
Veras), que pode colocar tudo a perder.
Mesmo com as mentiras de Fernando atingindo níveis
insanos (algo que o próprio roteiro ressalta, em dado ponto), as piadas e seus
ganchos podem ser previstos a quilômetros de distância, até por se tornarem
repetitivas dentro da própria narrativa (“O casamento está acabado!”),
acabam por não ter graça. Com o nível rocambolesco das situações propostas pelo
filme, torna-se impossível uma conexão entre o público e aquelas figuras
cartunescas que surgem em cena, em qualquer nível.
O arco do personagem de Leandro Hassum aqui é idêntico àquele de seu Tino na franquia “Até Que a Sorte nos Separe”. Até mesmo os trejeitos do
ator não mudam. Aliás, ele coloca a mão na orelha toda vez que mente,
informação que o filme nos passa várias e várias vezes, chamando basicamente o
espectador de desatento (para não usar outra palavra).
Se já é complicado hoje em dia aguentar comediantes
usando do recurso do bordão em esquetes semanais, imagine ter de suportar o
mesmo bordão sendo usado repetidas vezes em um espaço curto de tempo. Pois é o
que André Mattos acaba tendo de
fazer aqui, em uma caracterização que remete a um mafioso meio paranaense, meio
italiano, que não decide qual sotaque usar para dizer “O casamento está acabado” ad nauseum.
Fernanda Rodrigues tem pouco a fazer além de falar de maneira
interiorana e parecer bonita na tela (um feito, considerando a fotografia
horrorosa do filme). Podemos ainda citar os “policiais” que surgem em tela, com
figurinos que mais parecem fantasias de festa infantil e atuações que remetem a
teatro amador, o Luan Santanna cover
na figura do primo Pompilho (George
Sauma) ou mesmo, no geral, a péssima direção de atores, que parecem mais
perdidos que cegos em tiroteio na tela.
No
final, o que temos é a prova de que o fundo do poço tem porão no que tange às
“comédias” nacionais. Sanginitto e Aragão entregaram um filme que não só é
visualmente feio, mas que também consegue torcer as leis da física,
transformando 90 minutos em quase 90 horas de tão insuportável.
NOTA: 2,2