quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Interview with... Hélio Rocha


O site Todos Os Discos Que Ouvi está no ar há 3 anos e já vem ganhando cada vez mais espaço entre os aficionados por CDs, blu-rays, Vinis e DVDs originais, em sua grande parte importados. Aqueles que não chegam ao Brasil ou vem com tiragem limitada.

O responsável por gerir essa empresa é o comunicador, em processo, Hélio Rocha, residente na cidade Natal, Rio Grande do Norte.

O Ponto Zzero, claro, não poderia deixar de entrevista-lo, para alegria de vocês, principalmente aqueles que ainda, como alguns de nossa equipe, consumem esse material original.


PZ - Olá Hélio! O site de compras online Todos Os Discos Que Ouvi está prestes a completar 3 anos de existência. Como surgiu a ideia de montarem uma loja especializada em CDs, DVDs, Vinis e blu-ray, e como foi o início deste trabalho?

A minha geração é a geração do cd, da época em que os álbuns vendiam milhões de cópias. Eu cresci consumindo. Natal sempre teve muitos sebos, mas é aquele caos, poeira e itens sem preços que são estipulados de acordo com a alegria do cliente em encontrá-lo. Passei minha adolescência transitando nesse ambiente, até que por volta do ano 2000 eu descobri uma loja especializada em cds nacionais e importados chamada Velvet Discos que ficava ali na Hermes da Fonseca. No primeiro dia que entrei na loja fiquei impressionado com o carinho do dono, com a limpeza, com os títulos e de cara achei um cd raro do Pato Fu que eu pensei que nunca acharia. Fiquei amigo do dono e passava as minhas tardes lá conversando sobre música (internamente eu tinha uma esperança de ser chamado pra trabalhar lá). Com a popularização do MP3 e a proibição do estacionamento na avenida Hermes da Fonseca, a Velvet foi cada vez perdendo mais clientes até fechou. Mas essa vontade de ter/estar numa loja de discos sempre permaneceu em mim. Em 2008 comecei a importar para minha coleção pessoal. Em 2011 saí do emprego formal que tinha e comecei a vender cds pros meus amigos que sempre comentavam sobre a minha coleção. E assim foi, comecei vendendo cds pros meus amigos e agora faço amigos vendendo cds.

PZ - Nesse período, quais foram as principais dificuldades encontradas por você, e quais foram os principais objetivos alcançados?

A principal dificuldade era conseguir uma cartela de clientes fieis que estivesse fora do âmbito das minhas amizades, no começo vendíamos pouco por ainda não ter um nome feito nesse mercado. Outra dificuldade inicial que enfrentamos era que os itens à venda eram necessariamente coisa que eu gostava, e isso muitas vezes era pouco vendável,  aos poucos fazendo as pesquisas de mercado necessárias, fomos vendo o que o mercado queria e inserimos vários outros estilos e renovamos o foco de uma loja de indie, rock e mpb para uma loja de discos "selecionados" com o foco na boa música independente de gênero. O principal objetivo atingido, o que mais me deixa feliz, é o fato de ter clientes fixos em todos os cantos do Brasil, de Porto Alegre à Manaus. 

PZ - Um dos grandes diferenciais do site de compras online Todos Os Discos Que Ouvi foi o atendimento e a relação próxima sua com os clientes. Você já criou a loja com a intenção de ter esse diferencial, ou foi um processo que ocorreu com o passar do tempo e a experiência no ramo?

Acho que como no início da loja vendíamos apenas pros amigos, acabou que continuamos tratando como amigos todos os clientes que nos procuravam. Isso foi um processo natural, e também, muito influenciado pelo o que eu via do tratamento da Velvet Discos com os clientes. Claro que tem gente que as vezes abusa, não só vendemos como também fazemos consultoria, e essa consultoria é só um "plus" pra ajudar a concretizar a venda. Mas às vezes aparecem pessoas que tomam horas do nosso tempo fazendo consultoria sobre álbuns e depois vão comprar em outro lugar, mas Jesus tá vendo.

PZ - Você foi um dos pioneiros no atendimento “virtual” do Rio Grande do Norte, e até hoje é referência nas vendas online à distância, com um site completo, fã-page atualizados, e de fácil acesso. Como foi o início deste tipo de serviço, e como ele evoluiu até a atual loja virtual?

Tudo começou com um blog que levava o nome da loja, era um blog sobre música e eventos que rolavam pela cidade e tinha uma pequena área de vendas, mas o tempo foi ficando curto para pesquisa e alimentação do blog e migrei a loja para o Facebook. O site acaba servindo apenas como suporte para o cliente visualizar o estoque completo. O grande trunfo mesmo é a página no Facebook onde tudo pode ser negociado em tempo real.

PZ - Além da música, o Todos Os Discos Que Ouvi sempre esteve intimamente ligado com a cultura em geral. Lembramos que a própria versão anterior do site possuía resenhas sobre artistas do mundo musical, sem esquecer que você já colaborou com o Ponto Zzero em 2012. Como você vê a cultura do pop e rock em geral no mundo atual, tanto na música, como fora dela?

Parafraseando Caetano Veloso "eu acho lindo". A cultura pop e rock se misturam com o nosso dia a dia, positivamente e negativamente, não vejo muita diferença entre agora e nos anos 70. As tendências continuam indo e vindo, sendo revisitadas, misturadas, descontruídas. Artistas novos do chamado indie rock br, por exemplo o Thiago Pethit, eles não querem só  fazer música, eles querem fazer moda, fazer cinema, misturar estéticas.

PZ - Além da loja virtual, você tem planos para expandir a empresa Todos Os Discos Que Ouvi montando uma loja física?

Desde o início da loja a proposta foi ter o melhor preço possível para os nossos clientes. As vezes conseguimos fazer até 50% mais barato que nossos concorrentes importadores, sempre itens com qualidade. A expansão que pretendemos é a construção de site que tenha a cara da loja, melhor estruturado,  onde possamos também oferecer para o cliente uma maior possibilidade de formas de pagamento. A expansão para uma loja física é algo que não está nos planos pelo alto custo que um estabelecimento comercial físico tem, isso faria com que tivéssemos de repassar esses custos no valor dos produtos e encarecer nosso ticket de venda não é algo de interesse da loja.

PZ - Você acredita que atingiu os objetivos que buscou com este projeto? A repercussão foi a esperada?

Acho que estou atingindo e que sempre dá pra gente conquistar mais pessoas. Lidar com colecionismo é lidar com uma particularidade muito especial. Quem compra um item comigo geralmente já rodou muito pra achar, pode até ter achado, mas à preços astronômicos, e fica realmente feliz em eu conseguir aquilo por um preço honesto. Eu sinto uma alegria imensa toda vez que vejo algum depoimento de um cliente/amigo satisfeito. Isso repercute no boca a boca nas redes sociais.. Acho que não tem limite pra crescer. Tenho foco no meu trabalho e principalmente amor pela música. Esse é o caminho.

PZ - Você tem planos para algum novo projeto dessa magnitude?

Os planos são de crescimento da loja, o foco central é esse. Aumento de estoque, investir em novas práticas de divulgação e apoios culturais, campanhas e promoções. 

PZ - O mercado fonográfico mundial passou por grandes transformações na última década, principalmente com o surgimento do MP3 e dos downloads ilegais de músicas, com muitas pessoas afirmado que os dias dos álbuns “físicos” estavam contados, com grandes lojas de discos fechando devido a extrema queda nas vendas. Contudo, parece que o pop não foi tão afetado, pois os fãs, apesar de não serem fieis, e continuam adquirindo o material dos grupos e cantores que gostam, e os lançamentos não param de sair. Como você observa esse novo cenário, e como passou por esta nova tendência do mercado musical, mantendo-se firmes até hoje?

Muito interessante essa pergunta. De fato, os fãs de artistas POP não deixaram de comprar, assim como os fãs de artistas de rock clássico também não. São dois gêneros bem distantes, mas que mantém essa prática. Nos anos 90 se vendia 20 milhões do unidade de um mesmo álbum, cito aqui essa vendagem de um dos álbuns das Spice Girls, porque essa era a única forma de ouvir as músicas que se gostava, era assim ou esperar tocar na rádio, hoje em dia não há mais essa necessidade. Com a queda da venda de discos muitas gravadoras decretaram falência e todo o mercado teve que se reestruturar, tirando artistas como Madonna, Gaga, Britney nada é mais "big" e até essas divas pop passaram por dificuldades nos últimos anos. Inventaram até uma palavra que eu detesto chamada "flop" pra identificar que um álbum que não vai bem na parada. Mas acredito que não seja o álbum que não vá bem, é a própria parada que não vai bem.

PZ - A Galera do Rock também vem passando por grandes mudanças nos últimos tempos, tanto visuais como estruturais, e você sempre foi bastante crítico quanto a isso. Como encara essa nova fase, e qual sua relação com todas essas mudanças?

Acho que a pior coisa que eu escuto sobre isso, algo que me dá vergonha alheia é quando dizem que não existe mais rock br novo, dá vontade de dizer "você que é ignorante e preguiçoso que ficava esperando ver as bandas de rock no Faustão pra julgar que aquilo é que era bom". O mercado mudou. A ultima banda grande que surgiu no rock brasileiro foi o Los Hermanos depois deles todas as bandas assumem porte mediano, e para ouvir essas bandas você tem que ir atrás e não simplesmente ficar sentado na sua cadeira esperando que toque na tv ou no rádio. Em relação ao rock internacional as coisas são um pouco diferentes, na música gringa existem essas bandas de rock que aparecem e viram super importantes, lá o apoio das gravadoras para o rock é maior. Preguiça de gente que acha que o rock acabou nos anos 70. 

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