sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Tatuagem, o filme brasileiro mais premiado de 2013


Ontem (28/08) parei para assistir “Tatuagem”, longa-metragem de Hilton Lacerda, que por incrível que parece, passou despercebido por mim na época de seu lançamento em escala nacional.

Vencedor de quatro Kikitos no Festival de Gramado, incluindo o de melhor filme, e de cinco Redentores no Festival do Rio, o filme, primeiro longa de ficção de Hilton Lacerda, foi a grande sensação do circuito alternativo dos cinemas brasileiros em 2013, levando sete anos para ser realizado.

Dizer que hoje é mais simples fazer cinema por causa da facilidade de suportes não é verdade. Até porque a banalização compromete o bom resultado”, afirma o diretor.

O pernambucano diz que o longa de ficção está na pauta do que ele gosta de fazer, “estabelecer um olhar periférico. Gosto do menor no lugar do maior, você vê isso em Febre do rato (2011), Amarelo manga (2002) e Baixio das bestas (2006) – filmes que ele roteirizou, os três com direção de Cláudio Assis.

Em Tatuagem, no Recife de 1978, Clécio Wanderley (Irandhir Santos) é o líder da trupe teatral Chão de Estrelas, que realiza shows repletos de deboche e com cenas de nudez. A principal estrela da equipe é Paulete (Rodrigo Garcia), com quem Clécio mantém um relacionamento.

Um dia, Paulete recebe a visita de seu cunhado, o jovem Fininha (Jesuíta Barbosa), que é militar. Encantado com o universo criado pelo Chão de Estrelas, ele logo é seduzido por Clécio. Não demora muito para que eles engatem um tórrido relacionamento, que o coloca em uma situação dúbia: ao mesmo tempo em que convive cada vez mais com os integrantes da trupe, ele precisa lidar com a repressão existente no meio militar em plena ditadura.

O longa nasceu, como conta Hilton Lacerda, de uma conversa como escritor, dramaturgo e cineasta João Silvério Trevisan.

Surgiu a ideia de partir de um grupo de teatro que foi importante para uma geração inteira, o Vicencial, que teve força de 1972 a 1979.


Anarquistas, eles colocavam discussões de gênero, inquietações políticas, tudo com muita irreverência.

Como o filme se passa em 1978, uma questão importante, ele explica, “era como estabelecer um olhar contemporâneo naquela época. Então, os personagens pensam no futuro que imaginam. No discurso de um deles está a ficção científico-filosófica, eles enxergam o presente e todas as caretices que vivemos hoje,” explica.

Hilton acredita que a sociedade atual está escrava “de consequências de políticas conservadoras”, o que tem levado a manifestações recorrentes em todo o país e principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo.

No Festival do Rio, onde recebeu cinco prêmios (entre eles o de Melhor Filme do Voto Popular e Especial do Júri), Tatuagemacabou tendo sua sessão transferida para outro local em consequência de manifestações. O diretor não se importou e disse que, no fim das contas, o que está ocorrendo, afetou o evento e vem mobilizando a sociedade tem tudo a ver com o que está sendo abordado no seu filme.


NOTA: 10