Antes de qualquer coisa, preciso fazer
uma confissão. Eu tentei. De verdade, eu juro que tentei. Por mais que não
acredite nesta tal de “imparcialidade” (ser imparcial, para mim, é exatamente o
contrário do que é ser crítico, mas esta discussão fica pra depois), eu tentei
despir minha mente e meu coração de quaisquer preconceitos assim que começou a
audição de Ghost Stories, o novo
disco do Coldplay. Fui totalmente
aberto.
Mas
quando dei o play e a faixa de abertura, Always
in My Head, entregou uma vibração etérea, quase Enya, tudo foi por água abaixo. Falhei miseravelmente. E já passei
a odiar o disco logo de cara. Não fui capaz. Mesmo assim, fui persistente. E
ouvi o diacho até o final. Passei a ter muito orgulho de mim mesmo. Porque foi
uma tarefa árdua.
Juro
que não consigo entender o Coldplay,
por mais que eu tente. Não que toda a carreira deles seja um fracasso. Sou
absolutamente capaz de enxergar alguns bons momentos. Mas o meu ponto é que
eles são apenas “alguns”. E Ghost
Stories não está, definitivamente, entre eles. Estamos diante daquele que
deve ser um dos discos mais esquecíveis da trajetória de Chris Martin e seus comandados.
Se
ele simplesmente não tivesse sido lançado, em nada mudaria a discografia dos
caras. Todas as músicas se parecem demais, sem sabor, sem brilho, misturadas. A
necessidade de ser sempre meio místico, misterioso, cantando sussurrado, doce e
fofo, com estrelinhas brilhando ao redor, chega a ser cansativa. Tudo fica com
um sabor de balada açucarada, por mais que a letra aborde qualquer outro
assunto mais espinhoso, mais complicado, mais desafiador.
É
um disco de uma banda de rock no qual falta, vejam os senhores e as senhoras, rock.
Porque, por mais fofa que uma banda queira ser, ela precisa se entregar,
precisa mergulhar na canção, na performance. Ou então vira uma coisa blasé, do
tipo “não me importo, não estou sentindo
nada, mas sou uma gracinha de bom moço”.
Em
uma das edições do finado Top Top, um dos meus programas favoritos nas últimas
encarnações da MTV, a simpática
irlandesa Enya era definida como
“não-música”. Eles diziam que tudo que ela fazia era reunir meia-dúzia de
suspiros, uns cantos de passarinhos e 1/3 de sons de água correndo e pronto.
Tava resolvido. É exatamente isso que o Coldplay
faz em O, a canção de encerramento da
bolacha. Vira trilha-sonora para fazer yoga, podendo facilmente ser encaixada
em qualquer um daqueles discos do tipo Sons da Natureza.
O
restante das canções, honestamente, ajuda bem pouco. Em Magic, os minutos finais trazem um violão acústico que dá uma
aceleradinha, dando um sabor mais especial. Mas fica nisso – e a música não
consegue sair do 0 x 0. O single A Sky
Full Of Stars ainda consegue ganhar um respiro, com um interlúdio tipo
balada do David Guetta. Acaba
criando uma sensação sonora absolutamente genérica, mas pelo menos consegue
injetar um mínimo de animação no disco. Isso porque nem vou mencionar a
insuportável Midnight, talvez uma das
composições mais pentelhas do ano, com uma coleção de irritantes e
intermináveis efeitinhos eletrônicos.
Num
mundo digital e sem fronteiras, no qual é possível descobrir todos os dias
dezenas de novas bandas, dispostas a experimentar, a dar a cara para bater,
como diabos alguém ainda perde tempo com o Coldplay?
E como diabos o Coldplay ainda perde
tempo lançando uma bobagem como Ghost
Stories em meio a uma indústria fonográfica em constante ebulição?
Juro
que não dá pra entender.
Como
eu disse, não consegui. Perdão.
Tracklist:
Por: Malu Alencar