ESTREIA: OZ – MÁGICO E PODEROSO (Oz –
The Great and Powerful)
Há
mais de 70 anos um dos mais prestigiados trabalhos do Technicolor, O Mágico de Oz, encanta diferentes
gerações com seus personagens e fantasias. Baseado na obra de L. Frank Braum, o filme americano de
1939 traz Judy Garland no papel de
Dorothy, a menina que, vítima de um tornado, acaba chegando à encantada terra
de Oz onde, entre bruxas e animais falantes, enfrenta grandes desafios e tem
seus valores testados. O filme foi dirigido por Victor Fleming que, no mesmo ano da estreia deste, encabeçou outro
grande sucesso do cinema, E O Vento Levou.
O Mágico de Oz recebeu 6 indicações
ao Oscar de 1940.
Entretanto,
o clássico retrata apenas parte da obra de Braum e óbvio que nesta nova onda do
cinema em produzir remakes, reboots e prelúdios, alguma produtora iria rodar
algum tipo de adaptação. Uma que adora mexer com os próprios clássicos e os de
outras produtoras, vide Star Wars, é
a Disney. Dito e feito. A produtora tomou o comando de Oz: Mágico e Poderoso, que teve estreia nesta última sexta feira
(08/03), e para assumir a direção chamou Sam
Raimi, que ironicamente terá seu clássico Evil Dead em nova versão neste ano.
O
longa se passa antes de a inesquecível Dorothy chegar à Oz. Na verdade, ele
conta um pouco da história do mágico farsante Oscar que, assim como a
garotinha, é vítima de uma tempestade no Kansas que acaba o levando até o mundo
encantado. Lá, o inescrupuloso mágico descobre que é aguardado para assumir o
trono do Reino de Oz, mas antes disso ele precisa destruir a Bruxa Má. Oscar
conhece Theodora, Evanora e Glinda, três bruxas entre as quais está o seu alvo.
Para isso, o protagonista conta com a companhia do macaquinho Finley e da
Menina de Porcelana.
E
a partir de uma sinopse como esta, como esperar algo adulto no enredo? De fato,
o roteiro de Mitchell Kapner e David Lindsay-Abaire é todo recheado de gags
ingênuas e diálogos super declarados para qualquer criança entender. Talvez por
ser tão infantil, muito do script pode ser relevado, mas é impossível não
questionar a falta de criatividade no desenvolvimento dos personagens. Foi-se o
tempo em que as crianças só estavam preparadas para maniqueísmos que gerassem
algum tipo de moral. Tudo bem, moral até é bem vinda em certos casos, mas as
novas animações e longas voltados para este público já trabalham com
personagens suficientemente complexos para escapar de certas caricaturas.
E
isso é perceptível nas atuações. O Oscar de James Franco parece ser o mais interessante dentre os personagens
‘humanos’. Acertadamente canastrão, Franco concebe o protagonista de maneira a
enfatizar seu lado oportunista e também solidário, e a dualidade do papel acaba
funcionando muito bem, ainda mais se considerado o público alvo. O mesmo não se
pode dizer de Mila Kunis, Rachel Weisz e Michelle Williams, três renomadas atrizes que, aqui, se veem presas
em personagens extremamente lineares que não permitem às moças um mínimo de
liberdade criativa. Nenhuma se salva da insipidez, mesmo que desempenhando
funções determinantes durante a projeção. Por sorte, os personagens digitais
Finley e a Menina de Porcelana dão algum frescor ao filme com muita
graciosidade e um humor realmente encantador.
A
direção de Raimi também não tem muito a oferecer, já que investe no
deslumbramento de cenários e evidência de efeitos visuais, em incontáveis
planos abertos e câmeras aéreas. Não que seja ruim ou equivocada, mas é
definitivamente uma direção óbvia. Os efeitos especiais também lembram o
trabalho feito em Alice no País das
Maravilhas de Tim Burton, com
certas artificialidades que incomodam, como a Cidade das Esmeraldas. Entretanto
– já que fiz a comparação – o longa de Raimi é muito mais funcional do que a
Alice de Burton (que eu acho um porre) no sentido de encontrar certa fluidez em
ambientações tão artificiais. E por mais deleitosas que sejam as criações, é
impossível não lembrar dos cenários de plástico e pintura da obra de 39, onde
há charme em quantidade indiscutivelmente maior.
E
se o longa funciona relativamente bem para o público infantil, a sua eficiência
para os adultos se deve, muito provavelmente, às inúmeras referências que
acabam sendo base para uma nítida sensação de nostalgia durante a projeção.
Estão lá a estrada de tijolos amarelos, personagens viajando em bolhas de
sabão, a bruxa verde e tantos outros elementos presentes no imaginário de quem
viu o clássico, como o jogo de valores, o caráter dos personagens, um rápido
número musical e o início sem cores. Inevitável não se pegar sorrindo em alguns
momentos durante a projeção.
E
aí, mesmo em sua excessiva duração e seus problemas narrativos, Oz – Mágico e Poderoso acaba sendo uma
boa opção de entretenimento. Com atributos visuais que alcançam diversão e
saudosismo em níveis suficientes, ainda que sem muita originalidade, o longa
agrada. De qualquer maneira, não tenho dúvidas de que, sempre que sentir
saudades do universo aqui mostrado, vou recorrer à Judy Garland.