quarta-feira, 13 de março de 2013

Oz: Mágico e Poderoso | Nostalgia compensa as fraquezas do novo longa de Sam Raimi

Queridos leitores, o texto de hoje é sobre a estreia de “Oz: Mágico e Poderoso”, cujo enredo antecede a história do clássico de 1939. Sintam-se livres para compartilhar opiniões.


ESTREIA: OZ – MÁGICO E PODEROSO (Oz – The Great and Powerful)

Há mais de 70 anos um dos mais prestigiados trabalhos do Technicolor, O Mágico de Oz, encanta diferentes gerações com seus personagens e fantasias. Baseado na obra de L. Frank Braum, o filme americano de 1939 traz Judy Garland no papel de Dorothy, a menina que, vítima de um tornado, acaba chegando à encantada terra de Oz onde, entre bruxas e animais falantes, enfrenta grandes desafios e tem seus valores testados. O filme foi dirigido por Victor Fleming que, no mesmo ano da estreia deste, encabeçou outro grande sucesso do cinema, E O Vento Levou. O Mágico de Oz recebeu 6 indicações ao Oscar de 1940.

Entretanto, o clássico retrata apenas parte da obra de Braum e óbvio que nesta nova onda do cinema em produzir remakes, reboots e prelúdios, alguma produtora iria rodar algum tipo de adaptação. Uma que adora mexer com os próprios clássicos e os de outras produtoras, vide Star Wars, é a Disney. Dito e feito. A produtora tomou o comando de Oz: Mágico e Poderoso, que teve estreia nesta última sexta feira (08/03), e para assumir a direção chamou Sam Raimi, que ironicamente terá seu clássico Evil Dead em nova versão neste ano.


O longa se passa antes de a inesquecível Dorothy chegar à Oz. Na verdade, ele conta um pouco da história do mágico farsante Oscar que, assim como a garotinha, é vítima de uma tempestade no Kansas que acaba o levando até o mundo encantado. Lá, o inescrupuloso mágico descobre que é aguardado para assumir o trono do Reino de Oz, mas antes disso ele precisa destruir a Bruxa Má. Oscar conhece Theodora, Evanora e Glinda, três bruxas entre as quais está o seu alvo. Para isso, o protagonista conta com a companhia do macaquinho Finley e da Menina de Porcelana.

E a partir de uma sinopse como esta, como esperar algo adulto no enredo? De fato, o roteiro de Mitchell Kapner e David Lindsay-Abaire é todo recheado de gags ingênuas e diálogos super declarados para qualquer criança entender. Talvez por ser tão infantil, muito do script pode ser relevado, mas é impossível não questionar a falta de criatividade no desenvolvimento dos personagens. Foi-se o tempo em que as crianças só estavam preparadas para maniqueísmos que gerassem algum tipo de moral. Tudo bem, moral até é bem vinda em certos casos, mas as novas animações e longas voltados para este público já trabalham com personagens suficientemente complexos para escapar de certas caricaturas.


E isso é perceptível nas atuações. O Oscar de James Franco parece ser o mais interessante dentre os personagens ‘humanos’. Acertadamente canastrão, Franco concebe o protagonista de maneira a enfatizar seu lado oportunista e também solidário, e a dualidade do papel acaba funcionando muito bem, ainda mais se considerado o público alvo. O mesmo não se pode dizer de Mila Kunis, Rachel Weisz e Michelle Williams, três renomadas atrizes que, aqui, se veem presas em personagens extremamente lineares que não permitem às moças um mínimo de liberdade criativa. Nenhuma se salva da insipidez, mesmo que desempenhando funções determinantes durante a projeção. Por sorte, os personagens digitais Finley e a Menina de Porcelana dão algum frescor ao filme com muita graciosidade e um humor realmente encantador.

A direção de Raimi também não tem muito a oferecer, já que investe no deslumbramento de cenários e evidência de efeitos visuais, em incontáveis planos abertos e câmeras aéreas. Não que seja ruim ou equivocada, mas é definitivamente uma direção óbvia. Os efeitos especiais também lembram o trabalho feito em Alice no País das Maravilhas de Tim Burton, com certas artificialidades que incomodam, como a Cidade das Esmeraldas. Entretanto – já que fiz a comparação – o longa de Raimi é muito mais funcional do que a Alice de Burton (que eu acho um porre) no sentido de encontrar certa fluidez em ambientações tão artificiais. E por mais deleitosas que sejam as criações, é impossível não lembrar dos cenários de plástico e pintura da obra de 39, onde há charme em quantidade indiscutivelmente maior.


E se o longa funciona relativamente bem para o público infantil, a sua eficiência para os adultos se deve, muito provavelmente, às inúmeras referências que acabam sendo base para uma nítida sensação de nostalgia durante a projeção. Estão lá a estrada de tijolos amarelos, personagens viajando em bolhas de sabão, a bruxa verde e tantos outros elementos presentes no imaginário de quem viu o clássico, como o jogo de valores, o caráter dos personagens, um rápido número musical e o início sem cores. Inevitável não se pegar sorrindo em alguns momentos durante a projeção.

E aí, mesmo em sua excessiva duração e seus problemas narrativos, Oz – Mágico e Poderoso acaba sendo uma boa opção de entretenimento. Com atributos visuais que alcançam diversão e saudosismo em níveis suficientes, ainda que sem muita originalidade, o longa agrada. De qualquer maneira, não tenho dúvidas de que, sempre que sentir saudades do universo aqui mostrado, vou recorrer à Judy Garland.