sexta-feira, 5 de maio de 2023

Crítica | ‘Cavaleiros do Zodíaco: O Começo’

Chegou nesta quinta-feira (27) aos cinemas do Brasil o tão aguardado — por motivos bons ou ruins — filme Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo, a primeira adaptação live-action da série para as telonas. E, no que depender da qualidade desta, deve ser a última.

Antes de mais nada, é preciso mencionar que é possível ver que houve um esforço de entender o que é a série, o que é Cavaleiros, qual o apelo de Cavaleiros e transformar isso para uma linguagem na qual a série nunca foi adaptada. Mas, infelizmente, para por aí, no esforço.

Apesar desse empenho em trazer “coração” ao filme, no fim das contas, ele parece vazio. A começar que, com tanta coisa já para introduzir do material original, houve a escolha de trazer de volta um personagem do remake animado — o Guraad (agora a Guraad) — que consome muito tempo de tela e roteiro para nada. Tempo esse que poderia ser melhor aproveitado com coisas básicas como o desenvolvimento dos personagens principais, Seiya e Atena (e talvez o Fênix).


A grande motivação de Seiya, reencontrar sua desaparecida irmã, é a primeira falha deste filme, porque toda a passagem que se encerra no sequestro da personagem simplesmente não tem peso algum. Parece vazia, sem emoção. Tá certo, em vários momentos da série original parece que o Seiya esqueceu dela, mas isso não é desculpa para o filmer falhar em transmitir qualquer grande impacto no evento que finca o maior pilar de desenvolvimento do personagem.

Com um foco na Guraad, o longa também deixa de lado alguns conceitos básicos da série, como a existência do Santuário — tudo bem, esse seria, talvez necessariamente, tema para uma (ou outras) sequência(s), mas faz falta uma introdução… afinal, é um elemento fundamental em toda a mitologia da série.

Seria melhor ter trabalhado direto com Ikki (ou Nero) como vilão e cortar toda essa coisa de cavaleiros negros tecnológicos. Inclusive, eliminando toda essa perda de tempo da Guraad, talvez fosse possível já trabalhar com o Shun neste primeiro filme — por exemplo, colocá-lo como uma presença que apoia Saori (ou Sienna) e antagoniza com Ikki, e assim conseguir também ao menos pincelar os personagens, porque Ikki é completamente escanteado no filme no qual ele é, no fim das contas, o “grande” (?) vilão.


A relação entre Seiya e Atena é simplesmente de um desenvolvimento preguiçoso. Não cola. Não parece existir qualquer trabalho em criar uma real química entre os personagens — eles se odeiam por motivo nenhum ao se conhecerem, e passam a se gostar também por motivo nenhum.

Os diálogos péssimos, que podiam ter saído de um script criado pelo ChatGPT de tão pouco naturais que soam, também não ajudam a dar caldo para os laços entre eles. Diálogos não são também o forte da série, mas os do filme chegam a ser quase intragáveis em alguns momentos.

É possível deixar de lado designs de armadura pouco agradáveis. É possível deixar de lado algumas incoerências e inconsistências. Mas não é possível deixar de lado uma história vazia.

Cavaleiros é um “shonen de lutinha” mas é um dramalhão — uma novela com furos de roteiro, sim, mas daquelas que você chora mesmo sabendo que é tudo exageradamente ridículo, ao ponto de ser possível ignorar todas as inconsistências em nome de mergulhar nesse drama. É essa intensidade que justamente não está presente no longa — e sem ela, todos os outros defeitos ficam mais visíveis.

No fim das contas, essa adaptação live-action é um filme de ação e aventura com uma história meia boca, personagens mal construídos, e alguns elementos que dão a ele uma skin de Saint Seiya. Mesmo para uma série que não é conhecida por um roteiro majestoso e nem personagens bem desenvolvidos, não é lá uma grande experiência cinematográfica e nem se parece muito com Cavaleiros.

Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seiya: O Começo estreia nos cinemas brasileiros neste dia 27 de abril, com cópias dubladas e legendadas. O texto foi feito com base na versão legendada.

Sobre Os Cavaleiros do Zodíaco

Os Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya) estrearam nas páginas da revista japonesa semanal Shonen Jump em dezembro de 1985. Com autoria de Masami Kurumada (Bt’X, Ring ni Kakeru), a trama rendeu uma versão animada em 1986 pela Toei Animation (Dragon Ball, Sailor Moon), patrocinada diretamente pela Bandai, marcando época com os bonecos derivados que vestiam armaduras de metal.

A história narra a saga de um grupo de jovens que protegem a Terra guiados por Saori Kido, a reencarnação da deusa Atena. Treinados desde crianças, órfãos de todos os cantos são recrutados para vestirem armaduras mitológicas, baseadas nas constelações.

Exibido no Brasil a partir de setembro de 1994 na extinta Rede Manchete, foi um fenômeno comercial que abriu porta para as animações japonesas no país. A série clássica foi reprisada anos depois pelo Cartoon Network, Band, Play TV, e teve passagem mais recente em alta definição pela Rede Brasil de Televisão.

A Crunchyroll disponibiliza a série por streaming atualmente, com dublagem. A obra ainda foi lançada por completo em DVD pela PlayArte, que posteriormente lançou uma versão em Blu-ray.

O mangá original foi publicado por aqui pela primeira vez no fim de 2000, pela Conrad Editora. Ganhou nova edição pela mesma empresa e depois pela Editora JBC, que publicou também uma edição de luxo, Cavaleiros do Zodíaco: Kanzenban, e já anunciou a Final Edition.

Saint Seiya gerou vários derivados entre animações e quadrinhos, sendo continuações ou spin-offs. Entre os mangás e novels, os títulos Gigantomaquia, Episódio G (ambos primeiramente pela Conrad), Next Dimension, Lost Canvas e Saintia Shô (todos da JBC) foram publicados no Brasil. A NewPOP atualmente republica Episódio G.

Há ainda alguns inéditos no país, como as continuações da saga G: Episode G Assassin e Episode G Requiem; o gaien Memories de Saintia Shô, a novel Golden Age, o mangá isekai Dark Wing, e Rerise of Poseidon. Um quadrinho francês oficial começou a ser publicado em 2022 — sabemos que uma editora brasileira já detém os direitos de publicação, mas não sabemos ainda qual.

Entre os animês, Os Cavaleiros do Zodíaco: Hades (2002-2008), Saint Seiya: The Lost Canvas (2009), Os Cavaleiros do Zodíaco: Ômega (2012), Os Cavaleiros do Zodíaco: Alma de Ouro (2015) e Saintia Shô (2018, apenas legendado) também foram exibidos oficialmente por aqui. De todos, apenas Saintia Shô não saiu em formato home-vídeo no país.

Em janeiro de 2020, foi lançado o final da primeira temporada do remake produzido pela Netflix junto ao estúdio Toei Animation, intitulado de Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco, mas popularmente conhecido pelo nome em inglês: Knights of the Zodiac. A segunda temporada veio em 2022 pela Crunchyroll, com troca total de elenco na dublagem brasileira.

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