terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Crítica | It: A Coisa


It: A Coisa é um ótimo filme, mas é bom deixar algo claro desde o início: ele não é o terrorzão com monstros como o trailer faz parecer. Os momentos do longa que mais causam pavor não estão na ameaça que se veste de palhaço, e sim nos traumas extremamente próximos da nossa realidade.

Bill Skarsgård é um ótimo Pennywise e as cenas em que ele aparece são brutais, repletas de sangue, vísceras e membros decepados. Entretanto, ele não é realmente o foco desse primeiro filme e, comparado aos terrores de enfrentar uma infância com abusos sexuais, bullies e abandono parental, a ameaça do palhaço acaba não sendo o centro de todo o pânico, mesmo que o principal alvo dele sejam justamente crianças.

O filme não abusa de sustinhos fáceis e torna algumas das ameaças do livro mais próximas e realistas. Foi feito um bom trabalho para borrar a linha entre indivíduos que foram influenciados pela presença da Coisa — e, portanto, mais dispostos a fazer algo para machucar alguém –, e ações de pessoas naturalmente cruéis.

A trama gira em torno de sete crianças que se sentem excluídas por serem diferentes, cada uma a sua maneira.  É necessário apresentar os membros do Clube dos Perdedores, com seus medos e personalidades distintas, para gerar empatia. E, por essa razão, o primeiro ato é um tanto apressado. Depois disso, o ritmo fica mais agradável e o clima mais tenso.

O elenco infantil tem o carisma necessário para fazer com que você se importe com cada um deles, mesmo os personagens que aparecem menos, como Mike Hanlon (Chosen Jacobs). É impossível não torcer por eles quando as situações terríveis acontecem ou quando os antagonistas humanos tentam fazer algo contra os jovens.

O destaque, no entanto, fica por conta de Beverly Marsh (Sophia Lillis), a única garota do grupo. A jovem tem as cenas mais pesadas de todas, e consegue entregar todo o desespero necessário em cada uma delas. E a nova versão da cena do banheiro, que também apareceu na minissérie de 1990, faz a anterior parecer brincadeira de criança.
Mais do que um simples filme de terror, It: A Coisa é um filme sobre amadurecimento, luto, medos e amizade.

Em contraste a tudo isso, It: A Coisa consegue encontrar uma leveza inesperada ao retratar a amizade do Clube dos Perdedores. Todos são excluídos, mas eles se entendem, se respeitam e o mais importante: descobrem como a união deles é necessária para superar qualquer dificuldade e também para entenderem mais sobre si mesmos.

O longa consegue até encaixar alguns momentos de humor, com as piadas ruins de Richie Tozier (Finn Wolfhard), para não deixar o espectador esquecer que os protagonistas ainda são apenas crianças.


Mais do que um simples filme de terror, It: A Coisa é uma história sobre amadurecimento, luto, medos e amizade. Ele fala sobre as dores de abandonar a infância, às vezes até prematuramente, e encarar a dura realidade de que o mundo não é um lugar seguro, com ou sem Pennywise. Toda a parte do horror lovecraftiano, no entanto, pode ficar para a continuação.

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