It: A Coisa é um ótimo filme, mas é bom deixar algo claro desde o
início: ele não é o terrorzão com monstros como o trailer faz parecer. Os
momentos do longa que mais causam pavor não estão na ameaça que se veste de
palhaço, e sim nos traumas extremamente próximos da nossa realidade.
Bill Skarsgård é um ótimo Pennywise e as cenas em que ele aparece são
brutais, repletas de sangue, vísceras e membros decepados. Entretanto, ele não
é realmente o foco desse primeiro filme e, comparado aos terrores de enfrentar
uma infância com abusos sexuais, bullies e abandono parental, a ameaça do
palhaço acaba não sendo o centro de todo o pânico, mesmo que o principal alvo
dele sejam justamente crianças.
O
filme não abusa de sustinhos fáceis e torna algumas das ameaças do livro mais
próximas e realistas. Foi feito um bom trabalho para borrar a linha entre
indivíduos que foram influenciados pela presença da Coisa — e, portanto, mais
dispostos a fazer algo para machucar alguém –, e ações de pessoas naturalmente
cruéis.
A
trama gira em torno de sete crianças que se sentem excluídas por serem
diferentes, cada uma a sua maneira. É
necessário apresentar os membros do Clube dos Perdedores, com seus medos e
personalidades distintas, para gerar empatia. E, por essa razão, o primeiro ato
é um tanto apressado. Depois disso, o ritmo fica mais agradável e o clima mais
tenso.
O
elenco infantil tem o carisma necessário para fazer com que você se importe com
cada um deles, mesmo os personagens que aparecem menos, como Mike Hanlon (Chosen Jacobs). É impossível não torcer
por eles quando as situações terríveis acontecem ou quando os antagonistas
humanos tentam fazer algo contra os jovens.
O
destaque, no entanto, fica por conta de Beverly Marsh (Sophia Lillis), a única garota do grupo. A jovem tem as cenas mais
pesadas de todas, e consegue entregar todo o desespero necessário em cada uma
delas. E a nova versão da cena do banheiro, que também apareceu na minissérie
de 1990, faz a anterior parecer brincadeira de criança.
Mais
do que um simples filme de terror, It: A
Coisa é um filme sobre amadurecimento, luto, medos e amizade.
Em
contraste a tudo isso, It: A Coisa
consegue encontrar uma leveza inesperada ao retratar a amizade do Clube dos
Perdedores. Todos são excluídos, mas eles se entendem, se respeitam e o mais
importante: descobrem como a união deles é necessária para superar qualquer
dificuldade e também para entenderem mais sobre si mesmos.
O
longa consegue até encaixar alguns momentos de humor, com as piadas ruins de
Richie Tozier (Finn Wolfhard), para
não deixar o espectador esquecer que os protagonistas ainda são apenas
crianças.
Mais
do que um simples filme de terror, It: A
Coisa é uma história sobre amadurecimento, luto, medos e amizade. Ele fala
sobre as dores de abandonar a infância, às vezes até prematuramente, e encarar
a dura realidade de que o mundo não é um lugar seguro, com ou sem Pennywise.
Toda a parte do horror lovecraftiano, no entanto, pode ficar para a
continuação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário