O
novo filme dos Power Rangers talvez
seja a melhor história do grupo, surpreende no desenvolvimento dos personagens
e não se leva a sério, como esperado. Poderia facilmente ser mais um grande
filme de super-heróis, mas o longa erra no tom da vilã e não investe como
deveria no clima Tokusatsu, das séries japoneses e de onde vem a inspiração da
franquia, e por isso todo o combate final deixa a desejar.
Apesar
de abusar da nostalgia, com direito a participações especiais de Jason David Frank (Verde) e Amy Jo Johnson (Rosa), a nova versão
tenta atualizar a franquia e reimagina os heróis como protetores galácticos,
cuja origem remonta a pelo menos 65 milhões de anos no passado, na época dos
dinossauros (daí o visual dos Zords), quando alienígenas chegam à Terra em
busca de um cristal responsável por toda a vida no universo.
Zordon
era o Ranger Vermelho, mas seu time
é destruído pelo meteoro que eliminou os dinossauros, sua mente é transferida
para o computador de sua nave e Rita
Repulsa foi esquecida no fundo do mar. Tudo fica calmo até os dias de hoje,
quando cinco jovens são escolhidos pelas moedas do poder para enfrentar o
retorno da vilã, que acontecerá, claro, na cidade da Alameda dos Anjos.
O
filme tem um discurso interessante de inclusão social e todos os protagonistas
se encontram em momentos de virada em suas vidas. Jason Scott (Dacre Montgomery) é o jogador de
futebol preso por uma brincadeira, Billy Cranston (RJ Cyler) é o nerd antissocial que sofre a perda do pai, Kimberly
Hart (Naomi Scott) era popular até
cometer um erro e agora vive entre a culpa e o ódio, Zack Taylor (Ludi Lin) é impulsivo para esconder a
tristeza pela doença de sua mãe e Trini Kwan (Becky G.) é a recém-chegada na cidade com problemas de comunicação.
Montgomery,
Cyler e Scott ganham mais atenção de forma justificada, já que eles são os mais
carismáticos. Suas boas atuações transformam papéis simples em pessoas
interessantes, com angústias credíveis. Cyler, em particular, deve conquistar a
todos com Billy. Já Trini e Zack têm pouco espaço, são introduzidos depois e
não tem tempo de evoluir. Becky G.
ao menos tenta em uma curta cena na qual sua personagem revela ter dúvidas
sobre sua sexualidade. Além dos cinco jovens, Bryan Cranston e Bill Hader
foram muito bem escalados como Zordon e Alpha 5.
Já
Elizabeth Banks não convence como
Rita Repulsa, grande vilã do seriado. A personagem é caricata, como
esperaríamos vê-la, mas a atuação de Banks é exagerada ao ponto de
descaracterizar a inimiga e ainda é incapaz de siar do básico: "destruir o mundo por vingança".
Esquisita e bizarra, ela nunca se mostra a vilã que gostaríamos de ver e fica
difícil acreditar que aquele ser patético ameaça a vida na Terra.
Mas
é claro que quando você tem cinco jovens vestidos com armaduras coloridas, um
robô tagarela, uma parede falante, uma vilã que come ouro, monstros e robôs
gigantes, o melhor a fazer é não levar as coisas a sério, e quando o filme vai
por esse lado ele acerta em cheio, apesar de nem sempre encontrar esse tom em
sua narrativa.
O
clima leve com momentos pastelões é bem próximo da série dos anos 90, a grande
diferença é o CGI de qualidade para mostrar tudo com realismo necessário para
levar à loucura qualquer fã da franquia ou do gênero. E apesar da trilha deixar
a desejar ao longo de todo filme, quando ouvimos "go, go Power Rangers" é difícil não se empolgar.
Apesar
disso, a trama demora demais para realmente mostrar os heróis em ação. O
treinamento é interessante, da primeira vez, mas quando eles retornam para a
quinta sessão já não aguentamos mais vê-los na mesma situação. Quando eles
finalmente vestem as armaduras e vão para a porrada, o filme já está no final.
As cenas de ação são muito boas, porém curtas, e o clímax é bem decepcionante,
não só pelo combate com mechs nunca empolgar de fato, mas também pela resolução
simplória de todo o problema.
Power Rangers: O Filme abusa da nostalgia para conquistar aqueles que conheciam
a franquia, mas deve soar bem fora de tom para os novatos que nunca assistiram
a uma série Tokusatsu na vida. Apesar de seus problemas, boas atuações ajudam a
cobrir falhas narrativas, mas o mais importante é que o longa é divertido e,
mesmo quando se torna arrastado, não chega a incomodar, afinal os personagens
são capazes de manter nosso interesse até o final.
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