Mais
de 80 mil crianças se perdem por ano na Índia. Algumas tiveram um final feliz,
mas muitas sofreram com as mazelas do país, passando pelas piores situações
possíveis. Saroo Brierley foi uma
dessas crianças com final feliz e, sua história real foi adaptada para as
telonas em Lion – Uma Jornada para Casa,
produção que inspira coragem e determinação.
Escrito
por Luke Davies adaptado do livro de
memórias A Long Way Home, a trama
acompanha a jornada do indiano Saroo, uma criança de 05 anos que se perdeu do
irmão numa estação de trem de Calcutá e enfrentou grandes desafios para
sobreviver sozinho, até ser adotado por uma família australiana. Incapaz de
superar o que aconteceu, aos 25 anos ele decide buscar uma forma de reencontrar
sua família biológica usando a ferramenta Google
Earth.
A
performance tremendamente maravilhosa de Dev
Patel é a alma resiliente do filme tamanha a paixão e emoção entregados em
cada cena. É sentido em sua postura o fardo que carrega por desconhecer suas
raízes, algo que o consume por dentro, a ponto de mudar a forma de
relacionar-se com a família adotiva. As comparações com Quem Quer Ser Um Milionário?, filme que o lançou em Hollywood, são
iminentes. De fato, há muita semelhança na sequência inicial com a abordagem da
pobreza das crianças na Índia com o filme de Danny Boyle. Mas enquanto esse filme era carregado de energia e com
musicais, Lion – Uma Jornada para Casa
é algo bem diferente – uma visão sóbria e profunda sobre a importância da
família, das raízes, da identidade e do lar.
Mas,
sem dúvidas, a atuação do jovem Sunny
Pawar é apaixonante e surpreendente como Saroo na infância. O notável
garoto consegue tirar algumas lágrimas tamanho o sofrimento que enfrenta, mas
encarando tudo na esperança de reencontrar sua família. Nicole Kidman e David Wenham
interpretam de forma soberba Sue e John Brierley, os pais adotivos de Saroo. Os
únicos papeis problemáticos são de Rooney
Mara como Lucy, o interesse amoroso de Saroo. O romance entre os dois é mal
desenvolvido, sendo apenas justificado para que Saroo conheça o Google Earth. O outro ponto pouco
explorado é Mantosh, o segundo indiano adotado pela família australiana. O
personagem é apresentado apenas como um garoto problemático e durante a
narrativa acaba sendo ignorado.
A
fotografia de Greig Fraser enquadra
as magníficas paisagens em toda a robustez e beleza da Índia e Austrália. Com
tomadas aéreas que deixa uma vontade de conhecer esses países, alguns takes
passam com eficiência o ponto de vista de Saroo diante da muvuca de pessoas na
Índia e na descoberta do novo e belo paraíso australiano.
Mesmo
estreante como diretor, Garth Davis
demonstra sutileza em abordar um drama real sem exagerar no melodramático. São
em cenas simples que sua direção consegue uma emoção espontânea. Desde a
habilidade de nos colocar dentro da cabeça de um garoto de cinco anos quando
conhece pela primeira vez a Austrália e encontra seus pais adotivos, até o
primeiro contato de Saroo com coisas banais como a televisão ou uma geladeira.
Tudo é apresentado de forma magistral.
Por
fim, Lion – Uma Jornada para Casa é
um drama tocante sobre a busca de nossas origens e da importância de enfrentar
nossos demônios internos para seguir em frente e nos encontrar como pessoas. A
mensagem social durante os créditos finais busca conscientizar sobre o que
acontece na Índia e em outros países mais pobres. O caso de Saroo terminou da
melhor forma possível. Mas difícil não ficar imaginando que outras crianças por
aí não tiveram a mesma sorte que ele.