Muitos
fãs de música pop pensam que esse gênero musical tem dez anos de idade ou
menos, que foi magicamente trazido ao mundo por algum tipo de divindade musical
que pariu todo um estilo de música com um ou dois álbuns que cada fã tem como
preferidos.
Esses
mesmos fãs alienados massacram Madonna
por todas as razões possíveis: alguns acham que ela já está velha demais para a
música pop, ou que não faz mais sucesso porque perdeu a habilidade, ou porque
simplesmente vive de passado. Ou no fim das contas, simplesmente a acham uma
prostituta ridícula, alguém que poderia simplesmente cair no esquecimento.
Mas
querendo ou não, esses fãs de música pop que ignoram e desprezam Madonna devem a ela muito mais do que
suas estreitas mentes podem imaginar. Simplesmente porque 11 entre 10 cantoras
de pop são visceralmente influenciadas pela Rainha do Pop, que é simplesmente o útero que gerou a música pop
como conhecemos.
Você
provavelmente adora quando sua cantora favorita lança clipe novo, não é mesmo?
Se for daqueles fãs mais apaixonados, chega a deixar o vídeo no repeat para
gerar visualizações. Espero que esteja ciente que Madonna foi uma das responsáveis por tornar os videoclipes musicais
obras complexas, caras e artísticas.
Até
o comecinho da década de 80, os chamados clipes nada mais eram que vídeos dos
artistas cantando ao vivo. Vendo o potencial que esse formato tinha, Madonna começou a investir nesse
formato, sendo "Like a Virgin"
(1984) um dos primeiros videoclipes no formato atual, praticamente inaugurando
a MTV. E ela não parou por aí, ao
longo de sua carreira, a cultura pop foi agraciada por vídeos antológicos, como
"American Life" (2003),
"Frozen" (1998), "Ghosttown" (2015) e "Bedtime Story" (1994), sendo que
este último está no acervo permanente do Museu
de Arte Moderna de Nova York (MoMA).
Teu
coração falta sair pela boca quando sua diva anuncia uma turnê mundial, não é?
Ver ao vivo as músicas favoritas, muitos efeitos, cenografia, coreografia,
figurino: é sempre um deleite para os olhos. Você deve saber que esse formato
de show também foi inaugurado por Madonna,
não é?
Até
a década de 80, os grandes artistas tinham shows simples, compostos apenas por
cantor, banda e quando muito um par de dançarinos. Mas em 1990, Madonna mudou essa chatice, sua "Blond Ambition Tour" inaugurou a
era de concertos extravagantes, com muitos dançarinos, efeitos especiais e
trocas de roupa. E aparentemente continua boa nisso: ela ocupa três posições no
ranking das dez turnês femininas mais lucrativas da história, inclusive o
primeiro lugar (a "Sticky &
Sweet Tour", que rodou o mundo entre 2008 e 2009, arrecadou 407
milhões de dólares em apenas 85 apresentações).
Todo
mundo adora uma música safadinha. De "Drunk
in Love" de Beyoncé a
"I Kissed a Girl" de Katy Perry, passando por "If U Seek Amy" de Britney Spears: é bem comum hoje em dia
que uma música fale de sexo de forma mais aberta. Mais um crédito pra Madonna.
Sempre
houve música sobre sexo, embora até os anos 80 fosse de forma velada, implícita
ou atenuada. E quem foi responsável por desvelar a própria sexualidade e
liderar a revolução sexual feminina na música? Madonna de novo, com o lançamento de "Justify My Love" (1990, considerado pesado a ponto de ser
barrado pela MTV) e do álbum "Erotica" (1992, onde se fala sobre
sexo de uma maneira extremamente elegante, e nada vulgar. Pena que não se pode
dizer o mesmo sobre toda música pop que toca nesse assunto hoje em dia, não é
mesmo?).
Mas
às vezes vocês só querem mesmo dançar como se não houvesse amanhã, com um umas
músicas cheias de sintetizadores e batida eletrônica, como se faz hoje em dia,
não é? Dou uma trufa de leite ninho pra quem adivinhar quem foi responsável por
trazer a música eletrônica pro mainstream. Pois é, Madonna de novo. O mainstream não tinha influências diretas da
música eletrônica, até que veio ao mundo "Ray of Light" (1998), que encheu as rádios com sintetizadores
e gravações digitais em hits como "Frozen",
"Nothing Really Matters" e
a homônima "Ray of Light",
de uma forma bem mais orgânica e elegante que certas músicas de pendrive que
abundam hoje em dia.
Talvez
você tenha arrepios quando vê que sua favorita bateu a marca de um milhão de
cópias vendidas mundialmente, não é? E é provável que adore desmerecer Madonna porque seus últimos dois álbuns
não venderam tão bem (entre aspas, pois nenhum deles vendeu menos de um milhão
mundo afora). Se você usa charts e vendas como padrão de qualidade, talvez deva
reconsiderar essa artista, já que ela tem quatro álbuns que venderam mais de
VIN-TE milhões no mundo: "Like a Virgin"
(1984), "True Blue"
(1986), "Ray of Light"
(1998) e a compilação "The
Immaculate Collection" (1990), sendo que essa última, vendendo mais de
TRINTA E CINCO milhões de cópias, é o álbum de compilação mais vendido da
história). No total, já são mais de 320 milhões de álbuns vendidos no mundo
tudo e 46 #1 na Billboard Dance Club
Songs, dois recordes absolutos.
O
pop normalmente foca em temas universais e seus desdobramentos, como amor
romântico, solidão, ciúme, vontade de dançar e se divertir, além de sexo,
claro. Mas além desse lugar comum, Madonna
ousa, escrevendo e cantando sobre religião ("Devil Pray" e "Like
a Prayer"), AIDS ("In This
Life"), mundo dos sonhos ("Bedtime
Story"), família ("Inside
of Me", "Oh Father",
"Promise to Try") e claro,
crítica social de verdade ("Swim",
"American Life", "Hollywood", "Give Me All Your Luvin’"), não
temendo governo, indústria fonográfica ou o próprio Vaticano. Sua fave tem
composições tão diversificadas, caro hater de Madonna?
Esses
são apenas alguns motivos pelos quais Madonna
é um verdadeiro monumento da história da música. Talvez ela seja tão odiada por
ainda ser relevante e fazer sucesso após 35 anos de carreira, sobrevivendo às
pancadas do público, da indústria fonográfica e do preconceito de idade e sexo.
Será que as suas cantoras favoritas ainda vão ser lembradas e relevantes daqui
a dez anos? Ou vão ser atacadas de todos os lados por terem cometido o crime de
envelhecer, até que desistam?
Ninguém
é obrigado a gostar de Madonna, mas
esse não é um texto baseado em gosto, e sim em fatos. Mesmo odiando a Rainha do Pop, é obrigatório reconhecer
seu pioneirismo, sua ousadia e seu impacto, afinal, o pop como você conhece
simplesmente não existiria sem ela. Por essa razão e por outras mais, Madonna está no mesmo patamar de Michael Jackson, Prince, David Bowie e Whitney Houston: não apenas grandes e
rentáveis artistas, mas ferramentas de reconstrução do pop e parte fundamental
da história da música.
Mas
dessa vez, não espere que ela morra para valorizá-la.