Disponível
nas plataformas digitais a partir de hoje, 10 de março de 2017, uma semana
antes do previsto, o EP Ruído branco
– Poesias musicadas (Armazém / Sony
Music), de Ana Carolina, tem
sutilezas, mas confirma as impressões de quem já ouviu as quatro poesias
musicadas no show Ruído branco, em
turnê pelo Brasil desde janeiro. As quatro gravações de estúdio seguem, em
essência, o formato dos números vistos no show baseado no primeiro livro da
cantora, compositora, instrumentista e escritora mineira, também intitulado Ruído branco e lançado em dezembro de
2016 com poemas, pinturas e textos em prosa.
São
do livro os quatro poemas que ganharam melodias (de Ana) e/ou sons. Faixa que
abre o disco, A pele se desprende
mais do show. De início, a voz grave da cantora parece mais declamar os versos
do poema entre ruídos e efeitos sonoros. Aos poucos, A pele ganha os contornos de um rap de batida seca que embute
sussurros. Já Velho piano – música de
Ana que não deve ser confundida com a homônima composição de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, lançada em disco em 1982 em gravações quase
simultâneas de Dori e da cantora Elizeth
Cardoso (1920 – 1990) – é a faixa do EP que mais se aproxima do padrão
convencional da canção. Ainda assim, efeitos sonoros e até um toque dissonante
do piano reiteram a boa intenção de Ana de fugir dos códigos da própria obra
autoral neste projeto multimídia que já abarca livro, show, disco e clipes (o
de A pele foi lançado hoje,
simultaneamente com o EP). Nessa faixa, vale ressaltar, a artista toca todos os
instrumentos e pilota as programações.
Poema
verborrágico, Qual é? é a faixa menos
bem resolvida do disco. O ponto fraco. Deixa a sensação de que falta melodia
para tantas palavras – como, aliás, o número do show já havia sinalizado. Por
fim, Som / Ruído branco resulta muito
interessante no disco. É uma poesia declamada, e não musicada, mas os sons
inseridos ao longo da faixa, em sintonia com os versos, revestem o poema de
grande musicalidade. São sons de sanfona, oboé, fagote, apito e outro
instrumentos citados ao longo dos versos da poeta de lírica passionalidade.
No
geral, o EP Ruído branco – Poesias
musicadas mostra que Ana Carolina
está tentando mudar o disco. E, somente por isso, o bom EP já merece ser ouvido
com generosa atenção. Que o EP seja o ponto de partida para álbum em que a
artista vire o disco e a mesa, dando continuidade a um necessário processo de
renovação da obra autoral.
Cotação: xxx