Pedro
Balduino é multiartista visual: pintor,
escultor, videoartista, escritor e fotógrafo. Atua como artista plástico desde
2005, professor de desenho e pintura desde 2007 e atualmente é Membro do Grupo
de Aquarela e Pastel da UFRN e do Coletivo Outis sobre
cinema. Já trabalhou como mediador e expositor em galerias e festivais de
cinema de vários estados do Brasil e em 2011 fundou a Império A.A. e Império
Filmes, duas microempresas de fomento e produção artísticas/audiovisuais na
cidade de Natal/RN. Desenvolve pesquisa em crítica de arte, cenografia para
teatro, e literatura infantil ilustrada e em 2014 vai lançar seu primeiro livro
infantil: "Os Mongos Estão Levando as Nossas Coisas". Claro
que não poderíamos deixá-lo de fora do nosso blog. Aqui vai um pequeno bate
bola do Plano D com o jovem artista, que já já vai dar o que
falar.
Como
foi que surgiu o interesse pela arte. Começou de cara fazendo de tudo ou
escolheu um segmento inicial?
Eu
sempre gostei muito de ler, escrever e desenhar e era estimulado pela família
constantemente quando criança. Eu fui exposto a muitas mídias desde cedo, dos
quadrinhos à televisão e exposições de arte. É uma família de professores e
acho que isso influenciou qualquer coisa que tenha me carregado a essa área de
atuação. Também brincava muito com bonecos e inventava histórias que eu
ilustrava e escrevia depois. Mas eu queria ser qualquer outra coisa quando
pequeno, não pensava em arte como trabalho. Foi por volta dos nove anos quando
uma amiga de família, também artista plástica, Patrícia Gomes me deu uma
revista de lições de desenho, que caiu a ficha e eu percebi que aquilo ia
começar a ficar sério. Sinto que entrei de cabeça através do desenho, inicialmente.
Rabiscos cotidianos de Pedro Balduino
Quais
são suas maiores influências nesses diferentes âmbitos?
Bem...
penso que todo artista é um escritor, pois ele marca as coisas, ele inscreve e
transcreve sobre suportes, sobre ideologias... acho que por isso busco
influências em artistas que exploram a narrativa ou a escrita como uma de suas
vertentes... mas são tantos (risos)... é sempre difícil listar. Sempre busco
ler Gaiman, Poe, literatura de fantasia e sci-fi, principalmente. Em pintura,
escultura e fotografia, busco referências com Dave Mckean, Bosch, Picasso,
Dali. As animações do Myiazaki e Burton sempre passeiam pelo meu imaginário e
pelas lembranças. A fantasia de Diana Wynne Jones não pode deixar de ser
citada, e também sou particularmente interessado por tudo relacionado ao
universo de fantasia da J.K. Rowling, confesso. Em vídeo minha produção é mais
crua e menos colorida. Busco principalmente estudar o trabalho de Michael Mann
e Cronemberg, os roteiros do Charlie Kaufman, figurinos de Collen Atwood,
Judiana Makovsky, Colleen Atwood, Lindy Hemming, Trish Summerville, a música de
Carter Burwell, Amanda Palmer, Bowie... enfim, muitos artistas (risos).
Obras da série Speculis (retratos de artistas que influenciam o seu
trabalho)
Você
tem ambição de entrar no mercado norte-americano, já que o brasileiro ainda
está na sua fase juvenil?
Não!
Apesar de consumir muita arte norte-americana e reconhecer que vem muita coisa
boa de lá. Não creio que o mercado de arte brasileiro é tão jovem ou imaturo,
pelo menos não em potencial criativo. Talvez o que seja imaturo no Brasil sejam
os hábitos de consumo de arte. Mas isso é um problema de saúde pública,
política, educação. Também acredito no poder que a internet tem de
desterritorializar o artista. Eu não consigo vender prints no Brasil, mas
alcanço público nos EUA, Inglaterra e Itália. Em compensação não saberia como
trabalhar com teatro, cinema e direção de arte sem estar presente, apesar de
que vídeos podem ser acessados de qualquer lugar do mundo.
Pôster do filme Quem Sou Eu
Chegou
a fazer algum teste para as grandes editoras do Brasil?
Não,
nunca passei por nenhum processo seletivo deste tipo... tenho fé nas novas
tecnologias, e-books, blog, crowdfunding, vaquinhas, Patreon, auto publicação.
Fale
um pouco sobre o processo do seu primeiro livro. Por que infantil?
Creio
que quando somos crianças e lemos um livro, somos iludidos mais facilmente, a
inocência predomina, toda a mágica é nova e linda. Quando você cresce e
descobre o truque de algumas coisas, o esforço é consideravelmente maior para
você se sentir maravilhado do mesmo jeito. Acho que escrever para crianças é
mais escrever para mim, escrever para a saudade de uma sensação gostosa que não
volta, mas que você sabe que ela tem importância na sua vida.
O
processo de criação deste livro é uma pesquisa acadêmica que já completou
alguns aniversários (risos). Pretende ser meu trabalho de conclusão de curso.
Os
Mongos é um livro que fala sobre mudanças, sobre a descoberta de um novo mundo.
Conta a história de um menino que acaba de se mudar para uma nova casa com a
mãe e o irmão mais velho, onde as coisas importantes da família começam a
desaparecer e ele descobre que são Os Mongos e então parte em uma jornada de
exploração, buscando respostas com seus novos vizinhos sobre como expulsar ou
conviver com Os Mongos e reaver as coisas e tal. Eu nunca parei quieto numa
mesma cidade, a vida foi feita de casas novas e descobertas, assim como meu
irmão Daniel Balduino que assina o texto comigo. O livro fala sobre o terror e
a maravilha do novo, do improvável, de não saber o que nos espera no próximo
capítulo e sobre como os coadjuvantes podem se tornar tão importantes quanto
nós mesmos. Também fala de pizza de chocolate e videogames, que são
potencialmente mais importantes que tudo isso.
Imagens e estudos do livro Os Mongos Estão Levando as Nossas Coisas
escrito por Pedro Balduino e Daniel Balduino
Pode
adiantar pra gente alguns planos prestes a serem realizados como a marca de
suas empresas?
Pelo
selo Império Filmes estamos com planos para alguns curtas-metragens que estavam
empacados desde o ano passado. O objetivo é participar de Festivais de cinema
independente e, preferencialmente, alternativo ainda este ano e em 2015. Pela
Império Arte estamos patrocinando a Lovenomicon, uma ode ao mestre Lovecraft,
publicação que está para ser lançada em apoio com a K-ótica e a Jovens Escribas
no próximo semestre. Também no próximo semestre vamos abrir um pequeno espaço
para aulas práticas de arte, intervenções, performances e o que mais rolar... E
estamos aceitando ideias, é tudo bem orgânico e coletivo.
Quais
foram os melhores filmes que você viu recentemente?
Eu
sempre revisito meus filmes preferidos pra manter as referências frescas.
Assisto sempre Videodrome e Marcas da Violência do Cronemberg, Colateral do
Michael Mann, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban do Alfonso Cuarón é
revisitado sempre que possível também. Mas os melhores são os curtas
alternativos que a gente encontra pela internet. Conheci o trabalho de ótimos
artistas recentemente como Kleber Mendonça Filho, Elizabeth Vazquez e Petter
Baiestorf.