quarta-feira, 19 de novembro de 2014

GAL BOSSA TROPICAL

2002
Abril Music/MZA Music


O texto de apresentação à imprensa do, então, novo CD de Gal Costa foi escrito por Carlos Heitor Cony. Até aí, encara-se como uma honra: uma grande cantora analisada por um grande escritor. Mas as sucintas palavras de Cony parecem vir como justificativa de mais uma demonstração de mesmice da baiana.

"Na carreira dos grandes intérpretes, há um momento em que ele não precisa provar mais nada. (...) E um disco assim, o repertório é apenas pretexto para termos aquela voz...".

Os grandes artistas estariam acima do bem e do mal? A escolha das músicas seria algo secundário?

Vejamos o repertório de Gal nesse disco em que ela tenta revisitar um clima tropicalista: Marcianita, Mulher (Sexo Frágil), Desde que o Samba É Samba, As Time Goes By, Ovelha Negra - regravações gastas pela insistência.

O disco abre com Socorro, onde Gal se esforça para se encaixar nos versos largados de Arnaldo Antunes/Alice Ruiz. Não dá para entender porque ela embarcou em The Fool on the Hill e As Time Goes By, a última, então, já foi espremida à exaustão. Sem falar em Ovelha Negra, que aliás deveria ser proibida de ser regravada, a não ser pela autora Rita Lee.


Ainda tem Marcianita e Cada Macaco no Seu Galho, que soam totalmente despropositadas no repertório. Mas nem tudo está perdido.

Entre as decepções, Gal Costa acerta ao escolher, pela primeira vez, uma composição de Chico César (em parceria com Carlos Rennó), Quando Eu Fecho os Olhos. Aqui, sua voz marcante é somada à beleza extra vinda dos violões dedilhados de Luiz Meira, bandolim de Armandinho e percussão de Marcos Suzano

O Amor em Paz (Vinícius/Jobim) é o outro momento em que Gal emociona, aqui dentro de um arranjo bem discreto. A outra faixa onde ela mostra alguma novidade é em Onde Deus Possa me Ouvir, composição de Vander Lee.