2002
Abril
Music/MZA Music
O texto
de apresentação à imprensa do, então, novo CD de Gal Costa foi escrito por Carlos
Heitor Cony. Até aí, encara-se como uma honra: uma grande cantora analisada
por um grande escritor. Mas as sucintas palavras de Cony parecem vir como
justificativa de mais uma demonstração de mesmice da baiana.
"Na carreira dos grandes intérpretes, há um
momento em que ele não precisa provar mais nada. (...) E um disco assim, o
repertório é apenas pretexto para termos aquela voz...".
Os
grandes artistas estariam acima do bem e do mal? A escolha das músicas seria
algo secundário?
Vejamos o repertório de Gal nesse disco em que ela tenta revisitar um clima tropicalista: Marcianita, Mulher (Sexo Frágil), Desde que o Samba É Samba, As Time Goes By, Ovelha Negra - regravações gastas pela insistência.
O
disco abre com Socorro, onde Gal se esforça para se encaixar nos
versos largados de Arnaldo Antunes/Alice Ruiz. Não dá para entender porque
ela embarcou em The Fool on the Hill e As Time Goes By,
a última, então, já foi espremida à exaustão. Sem falar em Ovelha Negra,
que aliás deveria ser proibida de ser regravada, a não ser pela autora Rita Lee.
Ainda
tem Marcianita e Cada Macaco no Seu Galho, que
soam totalmente despropositadas no repertório. Mas nem tudo está perdido.
Entre
as decepções, Gal Costa acerta ao
escolher, pela primeira vez, uma composição de Chico César (em parceria com Carlos
Rennó), Quando Eu Fecho os Olhos. Aqui, sua voz marcante é
somada à beleza extra vinda dos violões dedilhados de Luiz Meira, bandolim de Armandinho
e percussão de Marcos Suzano.