sexta-feira, 20 de maio de 2011

‘Ser Tão’... Por Paulo Henrique Alves Pinheiro


A chuva que caía a tardinha, num repente de saudade,
Lavou-me, levou-me, e lá se vou eu pro meu Sertão,
Ser tão sertanejo, bravio e guerreiro feito xique-xique,
Chique como sou, com minha roupa florida, colorida,
Quero sentar você no meu colo, querida, e sorrir de montão...

Porque minha alma é mais do que a chuva que falta;
Porque minha falta é mais rala que a relva...
Ah se vou pro meu Sertão!
Ser tão menino, bater o sino da capela, dizer amém,
Oh Manuela me dê a mão!

Quero cheirar o jasmim do campo, sorrir o pranto,
Soltar perfume e pipa, correr atrás da bila;
Na procissão, oh meu irmão, seguir o santo;
Quero ser santo, quero tanto certo canto, quero cantar.

Vou seguir a gaivota que passa baixinho; vou levar a boiada,
Aboiando meu sonho por entre o pasto verdoso;
Vou caloroso, no meu sol de extenso brilho,
Pegar a gaivota que passa cruzando o horizonte;
Vou fazer do céu a fonte e seguir o eco de aboio no meu grito;

Sigo solto na pressa, numa prece faço das nuvens quermesse;
Olho pro céu, pro tempo, aqui mesmo pra dentro, que chove,
Fecho o olho, sinto no olhar a lágrima que corre, e corro,
Vou voltar pro meu Sertão!

 
Quero ver vovó barrer o terreiro, quero a bassoura,
Quero sentir o coração ligeiro, sorrindo a toa,
Quero a água da biqueira, quero o queijo, a manteiga,
E feijão com farinha, misturado com sorriso e com fome;
Escutar o gato miando, com o rabo espanando e o olhar espiando,
Quero o sal da charque seca, a sede, depois o barulho da rede,
Um rádio a pilha tocando e vovó roncando baixinho...

Tanto quanto quero carinho, quero colo, e lembrança,
Cafuné; da goiabeira a goiaba, um pé; do beija-flor um beijo;
Da chuva, um banho d’água docinha, fria, franzina, gorando em mim;
Ligeiro, eu e a água, a sede do tempo e do corpo;
Quero irigir meus pelos, lavar meus cabelos, a mente e a alma,
Deixar correr no corpo a calma da chuva breve, passageira,
E passar, passear, correr por qualquer lugar que a água corra.

Oh, meu Deus! Eu só quero o canto, o canto do pássaro,
O canto que trina e o canto que habita,
O som do vento e do tempo; a liberdade, as asas, a casa,
A leveza; a riqueza de ser tão, ser tão menino, ser tão ligeiro...
Ser do Sertão que sou, ser sertanejo, ser um boiadeiro, aboiador.

Quero a esperança do sonho que voa feito ave; a paz que pousa,
Quero ser tão sertanejo, oh meu Deus, quanto já sou;
Quero ser a voz solta do aboiador e o choro fino do menino;
Quero cantar e pensar que sou passarinho,
Morar nas asas de um sonho imenso e voador;
Ah meu Senhor, quero voar direto pro meu ninho;
Ah como eu quero voltar pro meu Sertão!

10 comentários:

  1. Amei... esse poema o que seria a vida sem esses poetas que nos tocam profundamente com seus versos ricos em sabedoria.

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  2. MENINO!!!!!!! VOLTE LOGO PRO SERTÃO E LEVE JUNTO ESSE POEMA MEDIOCRE, ENORME E CANSATIVO.

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  3. JUNIOR ESTÁ MESMO PEGANDO PESADO NA LITERATURA. MUITO BOM ISSO.

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  4. Acho que Sérgio Cabral errou o lugar onde postar seu comentário. Quem escreveu esse poema foi Paulo, o grande, o perfeito, o poeta.

    E não vá para o sertão, fique em Natal.

    Aqui é seu lugar. Galtier vá se ferrar e deixe o menino em paz.

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  5. Paulo, gosto quando vc expõe teu coração a nu.
    E assim, recebe todo o amor alheio nos comentários.
    Mas caro colega, saibas tu que o amor é sempre idículo aos olhos dos outros.
    Nunca deixe de escrever por causa de ninguém.

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  6. Obrigado a todos pelos comentários e apoio! Valeu, amigo Jampson, pela defesa! Lucas, muito grato pelo estímulo, pelas palavras de carinho. E ainda, nada melhor que 'escutar' um "continue" do grande Júnior Dalberto. Acredito no poder das críticas, das críticas que constroem. O coração de um escritor é maior que sua forma de escrita. Seu olhar sobre o mundo e sobre o outro perpassa as barreiras da futilidade... Não sou egoísta, e usando palavras do Lucas, quando dispo meu coração, o faço sem medo. Quero agradar a quem porventura o leia, mas se não consegui neste texto, Gaultier, quem sabe num próximo. Ainda assim, obrigado pelo tempo dispensado a um texto "medíocre, extenso e cansativo". Vou continuar escrevendo muito... E tentando ser melhor sempre.

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  7. Amigo, muito boa sua poesia...mas tem uma coisa muito legal na sua foto...não sei se percebeu...se foi intencional, mas de um lado vemos o Cristo Redentor e, no outro polo você aparece com cara de santo, mas tem dois chifrinhos que se projetam de sua cabeça. Na realidade, parecem ser árvores. O efeito final ficou fantástico, coisas de Deus e do Demo...rs!!!

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  8. Eu sempre te vjo e tenho desejos por vc. Me queira sempre tb.

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  9. KKKKKK, não tinha percebido, Tony! Coisas da natureza... E vc, com sua criatividade cinematográfica, sempre ligado nos detalhes mínimos. Obrigado pelo elogio!

    Janaina, obrigado pelo cairnho!

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