Estrela,
apesar da relutância, Brigitte Bardot
construiu a legenda de uma independência selvagem, desistindo da carreira de
atriz pela defesa dos animais: o "mistério
Bardot" é descrito numa nova biografia elogiosa da ex-artista
francesa.
Nas
páginas de "Brigitte Bardot, plein
la vue" (Flammarion), ou Brigitte
Bardot para encher os olhos, numa tradução livre, Marie-Dominique Lelièvre, do jornal Libération, apresenta o retrato
de um ícone, assumindo sua admiração "pela
trajetória, a ousadia e a coragem" da mulher.
"De todos os personagens sobre os quais
escrevi, Bardot é o mais complexo, mais que (o cantor Serge) Gainsbourg ou (o
estilista Yves) Saint Laurent", disse à AFP Marie-Dominique Lelièvre, uma apaixonada pelos arautos da cultura
francesa pop.
"Optei por não me encontrar com Brigitte
Bardot porque ela exigiria uma releitura do que eu escrevesse. Pesquisei sobre
as relações profissionais e de amizade que ela misturou com frequência",
acrescentou Lelièvre.
"Criatura gerada pela vontade de outros",
sex symbol dos anos 'Sixties' é apresentada, principalmente, como mulher livre,
"rejeitando as obrigações e
porta-voz de uma geração", estima a autora, passando em revista os
amores de B.B. entre eles os quatro maridos sucessivos (Roger Vadim, Jacques
Charrier, Gunter Sachs e o
atual, Bernard d'Ormale).
Para
Marie-Dominique Lelièvre, Bardot foi
presa muito cedo da celebridade, "o
que a fechou no vazio vertiginoso de seu próprio reflexo".
"Bardot diz e faz o que pensa, sem
satisfações a dar, encerrada nela mesma (...)", acrescenta a autora
que a descreve hoje como reclusa, fora do próprio tempo e da sociedade.
"Com uma carreira devoradora, ela se saiu da
melhor forma possível. O ódio ao gênero humano é um antídoto. Possui todos os
defeitos e todas as virtudes dos franceses (...) Com sua forma decidida, de
grande dama, ela defende os animais, desafiando o ridículo. Sob sua influência,
costumes e leis evoluem", destaca a autora.
Sabe-se
que Brigitte Bardot sujeita-se aos
impostos sobre sua fortuna, administrando seus bens com sagacidade, o que lhe
permite viver confortavelmente, embora tenha doado a maior parte das posses à
sua fundação para os animais.
A
autora passa de leve nas condenações da ex-estrela por incitação ao ódio racial
e por sua estigmatização da comunidade muçulmana, regularmente questionada pelo
sacrifício de carneiros na festa do Aïd.
"Sua maneira de envelhecer, enfrentando a
idade de frente, numa época que esconde a velhice, é uma marca de de coragem",
destaca Marie-Dominique Lelièvre.