Vocalista,
guitarrista e mentor do Fresno,
grupo gaúcho que já contabiliza mais de 15 anos de carreira, Lucas Silveira já provou, com o disco
de seu heterônimo solo Beeshop, que
não é mais um na multidão do universo pop brasileiro.
Nem
por isso o livro do artista, Eu não sei
lidar, se justifica de forma plena. A narrativa está estruturada de forma
confusa, misturando análises e informações sobre a gênese de músicas do Fresno - como Stonehenge (Lucas Silveira, 2003) - com reflexões existenciais de
momentos emblemáticos da vida do artista, como a entrada traumática na
adolescência.
A
propósito, o capítulo em que Lucas lembra que foi alvo de violência de uma
turma junkie no colégio resulta interessante. Contudo, Eu não sei lidar não chega a ter a densidade de uma autobiografia
consistente, embora seus relatos pareçam sempre sinceros. A questão é que a
narrativa está muito fragmentada, o que dilui a força das histórias.
Mais
organizada, a narrativa talvez rendesse livro mais coeso, pois tudo parece ter
um sentido. Inclusive os relatos sobre as músicas. "Minha vida está narrada, página por página, nos versos das músicas que
escrevi para essa banda", ressalta o autor, explicando porque seu
projeto solo de repente lhe pareceu pequeno diante da obra do Fresno.
De
toda forma, o livro cresce e se justifica realmente quando Lucas narra a luta
travada pelo Fresno com o produtor e
empresário Rick Bonadio para
conquistar sua independência artística e livrar o som do grupo das fórmulas e
padrões seguidas à risca por Bonadio e impostas aos artistas de sua gravadora
como a receita do sucesso popular (muitas vezes com resultados comerciais
realmente positivos, justiça seja feita).
"...Era gritante o meu desânimo em ver nossa
criação sendo tratada como um pote de iogurte próximo de sua data de validade",
relembra o artista.
Lucas
jamais cita o nome de Bonadio ao detalhar o embate. Mas é essa parte, que
descortina os bastidores da indústria fonográfica, que legitima o livro e o
próprio título desse honesto relato autobiográfico de um artista que parece ser
verdadeiro em sua essência.