quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Livro de Lucas Silveira se justifica ao narrar a luta do Fresno pela autonomia

Vocalista, guitarrista e mentor do Fresno, grupo gaúcho que já contabiliza mais de 15 anos de carreira, Lucas Silveira já provou, com o disco de seu heterônimo solo Beeshop, que não é mais um na multidão do universo pop brasileiro.

Nem por isso o livro do artista, Eu não sei lidar, se justifica de forma plena. A narrativa está estruturada de forma confusa, misturando análises e informações sobre a gênese de músicas do Fresno - como Stonehenge (Lucas Silveira, 2003) - com reflexões existenciais de momentos emblemáticos da vida do artista, como a entrada traumática na adolescência.

A propósito, o capítulo em que Lucas lembra que foi alvo de violência de uma turma junkie no colégio resulta interessante. Contudo, Eu não sei lidar não chega a ter a densidade de uma autobiografia consistente, embora seus relatos pareçam sempre sinceros. A questão é que a narrativa está muito fragmentada, o que dilui a força das histórias.

Mais organizada, a narrativa talvez rendesse livro mais coeso, pois tudo parece ter um sentido. Inclusive os relatos sobre as músicas. "Minha vida está narrada, página por página, nos versos das músicas que escrevi para essa banda", ressalta o autor, explicando porque seu projeto solo de repente lhe pareceu pequeno diante da obra do Fresno.

De toda forma, o livro cresce e se justifica realmente quando Lucas narra a luta travada pelo Fresno com o produtor e empresário Rick Bonadio para conquistar sua independência artística e livrar o som do grupo das fórmulas e padrões seguidas à risca por Bonadio e impostas aos artistas de sua gravadora como a receita do sucesso popular (muitas vezes com resultados comerciais realmente positivos, justiça seja feita).

"...Era gritante o meu desânimo em ver nossa criação sendo tratada como um pote de iogurte próximo de sua data de validade", relembra o artista.

Lucas jamais cita o nome de Bonadio ao detalhar o embate. Mas é essa parte, que descortina os bastidores da indústria fonográfica, que legitima o livro e o próprio título desse honesto relato autobiográfico de um artista que parece ser verdadeiro em sua essência.