Lançado
no último dia 14 de abril de 2015, nas plataformas digitais, o single “Ilusão à Toa” é frustrante para quem vem
acompanhando o atual (grande) momento artístico de Gal Costa.
Desde
o revigorante álbum Recanto
(Universal Music, 2011), produzido por Caetano
Veloso com Moreno Veloso, a
cantora recuperou a melhor forma, a gana e o status.
Os
shows Recanto (2012/2014), Espelho D'água (2014) e Ela Disse-me Assim - Canções de Lupicínio
Rodrigues (2015) confirmaram, em cena, o renascimento artístico de uma
intérprete que atravessara os anos 2000 no piloto automático (embora nunca
tenha deixado de ser a grande cantora que sempre foi).
O
single “Ilusão à Toa” estanca esse
movimento de ruptura com a estagnação. Embora produzido por Kassin e Moreno Veloso, pilotos do vindouro álbum Estratosférica, previsto para ser editado em maio via Sony Music, o
single contradiz o momento de plenitude vivido por Gal Costa desde Recanto.
É
uma gravação que poderia até figurar no comportado álbum Todas as Coisas e Eu (Indie Records, 2003), disco pautado por
regravações reverentes de standards da MPB. Um dos mais belos títulos do
cancioneiro do compositor carioca Johnny
Alf (1929 - 2010), “Ilusão à Toa”
- música lançada em 1961 com versos que aludem discreta e poeticamente a um
amor gay trancado dentro do armário - decepciona porque vem numa linha
contrária à adotada por Gal em seus recentes projetos.
Feita
sem a banda arregimentada por Kassin
e Moreno Veloso para o disco, a
canção está sendo lançada como single porque a gravação foi feita sob encomenda
para a trilha sonora da atual novela exibida pela TV Globo às 21h, Babilônia.
Submissa
às escolhas da emissora, a gravadora decide promover uma música cuja gravação
destoa da atmosfera rocker do álbum Estratosférica.
Tudo porque “Ilusão à Toa” é a faixa
da novela.
Com
as rádios cada vez mais segmentadas e/ou fechadas para qualquer música
produzida fora do estrato populista, ter uma música numa novela é a única
garantia - em tese - de um possível sucesso nacional. Em nome de um sucesso que
sempre vai depender da execução (ou não...) da música na trama, conceitos
artísticos são postos em segundo plano em favor das leis do mercado.
É
fato que os admiradores de Gal saberão separar o joio do trigo. Mas é
lamentável que a primeira música do álbum Estratosférica
a que o chamado grande público vai ter acesso é uma canção gravada fora do tom
supostamente arrojado do disco. Com tal escolha, perde Gal, perde o disco,
perde a Arte e perde, por fim, o próprio público.
Embora
tenha optado por divulgar primeiramente a faixa-bônus “Ilusão à Toa”, por conta
de sua inclusão na trilha sonora da novela Babilônia,
a gravadora Sony Music pretende lançar em maio um single oficial do álbum Estratosférica, com direito a um clipe
dessa música ainda não revelada.