sábado, 15 de abril de 2023

The Witcher: A Origem | Crítica

 

Em 2019, The Witcher se tornou um verdadeiro fenômeno da Netflix, quando bateu recordes de audiência na plataforma. A empresa, claro, não perdeu tempo e passou a considerar oportunidades para explorar esse universo além da renovação da série principal. É nesse contexto que surge The Witcher: A Origem, um prelúdio que não esconde servir inteiramente para algo maior – mesmo que isso ofusque suas qualidades próprias.

A nova minissérie é ambientada cerca de 1.200 anos antes das aventuras de Geralt (Henry Cavill), e descreve o evento conhecido como a Conjunção das Esferas, o choque entre diferentes realidades que levou a magia do Caos e as criaturas ao Continente.

A ambientação é relevante para os fãs da franquia em qualquer mídia, visto que é um evento que não foi extensamente explorado nos livros de Andrzej Sapkowski, nem nos games da CD Projekt RED. De quebra, o seriado ainda narra tudo através de ótimos personagens.

A trama segue Éile (Sophia Brown) e Fjall (Laurence O’Fuarain), dois elfos guerreiros de clãs diferentes, que precisam se aliar quando descobrem uma conspiração envolvendo um poderoso império élfico, violentas tomadas de poder e incursões para dimensões paralelas. A minissérie brilha quando acompanha a dupla, que constantemente troca farpas entre si até desenvolvem uma relação mais próxima, porém logo fica evidente que há trama demais para tão pouco tempo.

Com apenas quatro episódios, sendo que a maioria sequer atinge uma hora de duração, o programa sofre pelo excesso. A dupla principal rapidamente se torna um trio quando recebem Scian (Michelle Yeoh), outra elfa sem clã em busca de vingança contra o império. Em pouco tempo, o trio se torna um grupo de sete guerreiros, com a chegada da anã Meldof (Francesca Mills) e do casal Brother Death (Huw Novelli), Zacaré (Lizzie Annis) e seu irmão Syndril (Zach Wyatt).

A reunião do grupo dá um gostinho de aventura de RPG, com uma equipe improvável enfrentando ameaças muito maiores que eles. Mas essa não parece ser a intenção da série, que busca contar grandes eventos do universo de The Witcher. Nesse cabo de guerra, os personagens acabam mal desenvolvidos e pouco explorados.

Além dos dois protagonistas, apenas Meldof consegue chamar atenção, mas só pela personalidade carismática que a atriz Francesca Mills traz ao papel da anã, que anda por aí com uma enorme marreta feita a partir das cinzas de sua amada. Scian, apesar de vivida pela excelente Michelle Yeoh, acaba relegada a uma aura de “sábia guerreira” que pouco usa os talentos da intérprete. Já o trio que os acompanha é esquecível ao ponto de sua presença em tela até distrair, pois parecem existir apenas para preencher tabela.

Se não bastasse ter que desenvolver sete personagens principais em poucos episódios, The Witcher: A Origem ainda insiste em um explorar o lado do império élfico em vários núcleos. A decisão não é exatamente ruim -, especialmente porque a trama da princesa golpista Merwyn (Mirren Mack) é bastante intrigante -, mas altamente questionável. O programa é estufado de rostos, nomes e eventos históricos, porém se importa tão pouco em aprofundar qualquer coisa que é possível terminar de ver a minissérie sem saber muito mais do que antes de começar.

E não que o período retratado não seja altamente relevante para o mundo da franquia. Afinal, o seriado narra não só o que foi a Conjunção das Esferas, como também o fim da era de ouro dos elfos, o surgimento de Nilfgaard e a criação do primeiro Witcher.

Isso sem falar da introdução de rostos importantes, como a vidente Ithiline, cujas profecias são extensamente citadas nos livros, e também Eredin, cavaleiro destinado a se tornar o líder da Caçada Selvagem – grupo de elfos sobrenaturais que vagam entre dimensões em busca de Sangue Antigo (como o de Ciri).

O esforço de expandir o universo é louvável, mas a minissérie se atrapalha e acaba por complicar algo que poderia ser simples. Sobrecarregada de lore e personagens, a trama fica indecisa entre dar uma aula de história fictícia ou acompanhar a vida de guerreiros presos no meio de grandes conflitos políticos e mágicos.

Há muito potencial aqui, mas tudo é ofuscado. Falta tempo para realmente se embrenhar nos dramas do período e de tanta gente assim. Com duração limitada, falta foco para decidir o que é mais importante de retratar nos poucos episódios que têm. Tudo é corrido e superficial, e isso pode acabar amargando o gostinho de “vem aí” que muitos dos vários ganchos da trama deixam no ar.

The Witcher: A Origem é sólida o bastante para merecer ser conferida, especialmente pelos personagens minimamente interessantes e boas cenas de luta. O problema é que a produção não se sai bem em nenhum dos objetivos que tenta conciliar, chegando ao fim de forma acelerada, e deixando o espectador médio com mais dúvidas do que respostas. Se você leu os livros, será um deleite ver em tela muita coisa que Sapkowski apenas citou – mas, então, qual é o ponto de prometer uma expansão que só prega para quem já é fiel?

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