Em
No, No, No (Part. 2), primeiro sucesso do Destiny's Child, o
rapper Wyclef Jean as classifica como “jovens Supremes”. Apesar
de pretensiosa, a afirmação acabou se provando de alguma forma verdadeira, não
só pelo impacto que o grupo viria a ter na cultura pop quanto por sua
trajetória, marcada por conflitos internos e pela transformação de uma de suas
vocalistas em ícones solo – nas Supremes, ícones dos anos 1960/70, Diana
Ross, e no Destiny's Child, Beyoncé. Lançado há mais de 20
anos, o primeiro disco das artistas está longe de ser o mais emblemático, mas
já desenhava o que viria a ser a essência de um dos grupos mais importantes do
pop e r&b.
O sonho de atingir o estrelato, para Beyoncé, Kelly Rowland, LaTavia Roberson e LeToya Luckett foi tratado como meta séria, desde a infância. Aos 10 anos, as cantoras, ainda com o nome de Girl’s Tyme (à época com mais três integrantes) já ensaiavam diariamente e se apresentavam com regularidade em pequenos eventos em sua cidade natal, Houston, no Texas. A materialização do sonho parecia próxima quando o sexteto se apresentou no Star Search, então o maior show televisivo de caça-talentos dos EUA. Elas, no entanto, não foram à frente na competição. Com a derrota, o grupo pensou em se desfazer, mas o pai de Beyoncé, Mathew Knowles, resolveu apostar no sonho da filha.
Assumindo
uma postura empresarial semelhante à de Joe Jackson, patriarca da
família Jackson, Knowles largou o emprego e passou a investir tudo na carreira
das garotas. Ele chegou a montar um “acampamento” para treinar as
meninas: aulas de canto e dança durante quase todo o dia. Depois de muitas
apresentações em igrejas e no salão de beleza da mãe de Beyoncé, Tina
(que viria a se estilista do coletivo e responsável por grande parte dos looks
duvidáveis que elas ostentaram ao longo de sua primeira década), as
oportunidades começaram a surgir com apresentações mais regulares e o sexteto
acabou virando quarteto – apenas Beyoncé, como vocalista principal,
Kelly, LeToya e LaTavia.
O
primeiro disco do grupo, lançado em fevereiro de 1998, época em que grupos
vocais femininos estavam em alta, influenciados principalmente pelas Supremes,
como TLC, SWV e En Vogue. Elas tinham apenas 15 anos
quando gravaram as canções, a maioria sobre relacionamentos, e o que faltavam
em experiência emocional compensaram em interpretações seguras. Em faixas como Killing
Time, Tell Me e My Time Has Come, r&b tradicionais, elas
mostravam seu domínio harmônico, mas foi No, No, No (Part. 2), um remix
oficial, que elas imprimiram o que viria a ser a essência do grupo. Com
influências do hip hop, a faixa tem uma cadência singular, com o quarteto,
empoderado, demandando comprometimento afetivo por parte de seu parceiro. A
canção atingiu o terceiro lugar na parada de singles dos EUA e garantiu a
gravação do segundo álbum.
A
RUPTURA
Desde
o princípio, Beyoncé foi apresentada como principal vocalista do quarteto. No
primeiro álbum, sua voz é onipresente e, com exceção de Kelly Rowland,
as vozes das outras integrantes só compõem as harmonias. Com a gravação de The
Writing’s on The Wall (1999), segundo disco do quarteto, essa estrutura se
manteve. O álbum é a obra-prima do grupo e até hoje influencia novos artistas,
como Fifth Harmony, Tinashe e Ariana Grande. Com
composições assinadas pelas quatro e produções assinadas por Timbaland, Rodney
Jekins, Missy Elliott e outros nomes responsáveis por cravar o que
hoje se chama de “r&b futurístico”, o disco produziu os hits Say
My Name, Bills, Bills, Bills, Jumpin’ Jumpin’ e Bug a Boo
e vendeu mais de 12 milhões de cópias no mundo. O feminismo entrava de vez na
pauta com letras que celebravam a independência da mulher, tanto financeira
quanto emocional.
O
sucesso do grupo, porém, criou tensões. LeToya e LaTavia sentiram
que Mathew estava mais preocupado em defender os interesses de sua filha e,
consequentemente, dar mais espaço a Beyoncé. Por isso, pediram para que
ele deixasse de empresariá-las. O patriarca, então, expulsou as duas do grupo,
substituindo-as por Michelle Williams e Farrah Franklin. O
sucesso continuou, mas acusações de que o grupo era apenas uma plataforma para
promover Beyoncé se espalharam pela mídia. A expulsão de Farrah, poucos
meses após sua entrada, não ajudou a mudar essa impressão.
Com
o lançamento de Survivor (2001), agora com a formação que se manteria
até o final – Beyoncé, Kelly e Michelle –, o grupo deu a volta por cima: com
vocais divididos (Knowles continuava cantando as principais partes), alcançaram
o topo das paradas por 11 semanas com Independent Women, Survivor
– uma indireta aos críticos sobre as mudanças do grupo – Bootylicious e Emotion.
Com o álbum, elas consolidaram o modelo de girl group contemporâneo,
influenciando de The Pussycat Dolls a Little Mix.
Após
Survivor, elas embarcaram em carreiras solo e o resto é história: Kelly
atingiu relativo sucesso com hits como Dilemma; Michelle trilhou o
caminho do gospel e Beyoncé, bem, virou Beyoncé.
Elas
retornariam em 2004, para cumprir o contrato com a gravadora, com o disco Destiny
Fulfilled, o mais sofisticado da carreira, que produziu os sucessos Lose
My Breath e Soldier. Ao todo, as Destiny’s Child venderam 60
milhões de discos, posicionando-as como o grupo feminino mais bem sucedido do
pop.
RETORNO?
Desde
o anúncio do término do grupo, em 2005, os fãs e a mídia especulam se elas vão
se reunir mais uma vez. Mathew Knowles garante que elas irão gravar mais
um disco, mas sua palavra hoje não vale tanto: até a filha o demitiu como
empresário, após ser divulgado que ele tinha uma relação extraconjugal.
Porém,
vez ou outra, elas mostram que continuam unidas, colaborando em faixas nos CDs
solo umas das outras. Em 2014, Michelle
e Kelly também se juntaram a Beyoncé durante a apresentação da cantora
no Super Bowl e o reencontro ficou entre os assuntos mais comentados nas
redes sociais, mostrando a força que o grupo mantém após duas décadas.
Como a esperança é a última que morre, há quem especule que Beyoncé irá celebrar os 20 anos do grupo com uma ação inédita, juntando todas as integrantes que já passaram pelo grupo, em abril, no festival Coachella.
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