GIA, FAMA E DESTRUIÇÃO (Gia, 1998, HBO Pictures, 120min) Direção: Michael Cristofer. Roteiro: Jay McInerney, Michael Cristofer. Fotografia: Rodrigo
Garcia. Montagem: Eric Sears.
Música: Terence Blanchard. Figurino:
Robert Turturice. Direção de
arte/cenários: David J. Bomba/Kathy Lucas. Produção: James D. Brubaker. Elenco: Angelina Jolie, Elizabeth Mitchell, Faye
Dunaway, Mercedes Ruhel, Eric Michael Cole.
Vencedor
de 2 Golden Globes: Atriz/ Filme ou Minissérie para TV (Angelina Jolie) e Atriz
Coadjuvante/Filme ou Minissérie para TV (Faye
Dunaway)
Na
metade dos anos 80, a bela Gia Marie
Carangi chega à Nova York com o objetivo de tornar-se modelo. Dona de um
estilo próprio e uma personalidade rebelde, logo ela passa a ser a mais
requisitada modelo do mercado e da agência de Wilhelmina Cooper (Faye Dunaway), com quem tem uma relação
materna bastante forte, uma vez que tem alguns conflitos com a mãe de verdade,
Kathleen (Mercedes Ruhel) desde o seu segundo casamento. Ao mesmo tempo
em que se envolve em um relacionamento cheio de idas e vindas com Linda (Elizabeth Mitchell), Gia também começa
a usar drogas cada vez mais pesadas, o que acaba prejudicando sua credibilidade
profissional. Dependente dos tóxicos, ela se afasta da amante e, depois de um
tempo, descobre ser portadora do vírus da AIDS, ainda praticamente desconhecida
nos EUA no final da década.
Material
perfeito para um drama hollywoodiano, a história real de Gia, a primeira supermodelo internacional, acabou sendo produzida
pela HBO para exibição na televisão a cabo. Mesmo que a emissora apresente seu
habitual capricho na produção, porém, fica evidente que o diretor e roteirista Michael Cristofer esbarrou na ousadia
do tema, um tanto pesado para a família americana degustar no horário nobre.
Narrado em tom semi-documental, seu filme tenta explorar todos os lados da
personalidade selvagem da protagonista, ainda que se concentre quase que
exclusivamente em sua história de amor com Linda (com cenas bastante ousadas) e
em seu vício em drogas. Utilizando-se de uma edição fragmentada - talvez para
combinar com o constante estado alterado da modelo - o cineasta conta ainda com
uma trilha sonora repleta de hits dos anos 80, época em que se passa a
história, e mostra, de maneira cruel em seus momentos finais, como a classe
médica não estava nem perto de preparada para uma epidemia como a AIDS.
O
roteiro de Cristofer tenta ainda explicar a dificuldade de Gia em seus
relacionamentos. Com a mãe (muito bem interpretada por Mercedes Ruhel), problemas relacionados ao divórcio dos pais em sua
infância. Com Wilhelmina Cooper (ótimo trabalho de Faye Dunaway, premiada com um Golden Globe de coadjuvante), uma
relação de afeto verdadeiro e carinho. Com o jovem T.J. (Eric Michael Cole), uma amizade regada a uma paixão unilateral. E
com Linda (Elizabeth Mitchell),
amor, desejo e quase dependência. Segundo a narrativa, Gia era uma mulher
intensa, avassaladora, extremamente desejada, mas muito carente e frágil ao
mesmo tempo. E essa complexa personagem, capaz de ir do céu ao inferno em
questão de horas, é vivida por uma arrebatadoramente linda e emocionante Angelina Jolie.
Filha
do ator Jon Voigt, Jolie encarnou
Gia com todo o furor de seu talento e sua juventude (quando o filme foi ao ar,
ela tinha apenas 22 anos e já havia ganho um Golden Globe de atriz coadjuvante
pela minissérie "George Wallace").
Em um impressionante desempenho, a bela atriz se entrega apaixonadamente a seu
primeiro papel principal, ganhando o respeito da crítica e do público. Dona de
uma beleza sensual e agressiva mas ainda assim clássica e atemporal, Jolie é
praticamente uma força da natureza dentro do filme, sugando tudo à sua volta
com a intensidade de seu trabalho. É ela quem transforma a história deprimente
de uma mulher que tinha o mundo a seus pés e perdeu tudo para as drogas e uma
doença incurável em um filme poderoso e marcante, que, mesmo tendo sido feito
para a TV, consegue ter qualidade de cinema. Não foi à toa que Angelina levou
pra casa um segundo Golden Globe (além de um Satelitte Award e um prêmio do
Screen Actors Guild): sua atuação é esplêndida.
Logicamente
"Gia, Fama e Destruição"
não é uma obra-prima. As limitações do veículo para o qual foi planejado
certamente fazem dele menos contundente, mas, dentro do que se propõe, é um
eficiente drama feito com cuidado e dedicação. E além do mais, levou Angelina
Jolie à Hollywood. Só isso já faz dele um programa obrigatório.