Aclamado
pela crítica, elogiado pelo público, premiado nos festivais de Sundance e
Berlim. Que Horas Ela Volta? era a
escolha mais óbvia do Brasil para disputar um espaço na categoria de melhor
filme estrangeiro no Oscar 2016. E foi exatamente o que aconteceu. O Ministério
da Cultura anunciou que o longa de Anna
Muylaert deixou pra trás outros sete títulos, entre eles A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, e Casa Grande, de Fellipe Barbosa, e vai tentar uma das cinco vagas para quem fala
uma língua diferente do inglês na festa da Academia.
Mas
a boa notícia chama atenção para uma triste estatística: dos 43 longas
brasileiros que foram selecionados para concorrer ao Oscar desde 1959, o filme
estrelado por Regina Casé é apenas o
segundo dirigido por uma mulher. Até hoje, A
Hora da Estrela, de Suzana Amaral,
era filho único nesta relação. Isso sem contar com Cidade de Deus, em que Kátia
Lund assina a codireção. Um dado impressionante para um país com tantas
mulheres cineastas de renome, como Ana
Carolina, Lucia Murat, Tata Amaral, Laís Bodanzky, Sandra
Werneck, Lina Chamie, Eliane Caffé, para citar só algumas.
A
decisão do MinC cristaliza um momento de discussão sobre o machismo no cinema
brasileiro. A própria Anna Muylaert
vem levantando essa lebre em entrevista que dá dentro e fora do Brasil,
denunciando o tratamento diferenciado que recebeu por ter invadido um “Clube do Bolinha”. A polêmica ganhou um
capítulo importante e crucial quando a diretora foi impedida de falar num
debate pós-exibição de seu filme no Recife. Os amigos dela, os também cineastas
Cláudio Assis e Lírio Ferreira, que estariam embriagados, tumultuaram a sessão. E
Anna, magnânima, resumiu: “a mulher tem
dificuldade de subir no palco e o homem, de descer dele”.
Que Horas Ela Volta? tem a missão de mudar a história do Brasil no Oscar. O
filme de Anna Muylaert vem sendo
muito cotado nas bolsas de apostas de sites e blogues especializados e
arrecadado elogios de críticos e jornalistas. E quem ache que Regina Casé tem chances bem tímidas de
terminar entre as finalistas ao prêmio de melhor atriz. Depende de muita coisa,
mas não é impossível. O filme já estreou nos Estados Unidos, o que o qualifica
para as outras categorias do Oscar, e fez uma bilheteria até razoável.
O Pagador de Promessas, O Quatrilho,
O Que é Isso, Companheiro? e Central do Brasil foram os únicos
longas nacionais que conseguiram emplacar na lista do Oscar. Um aproveitamento
de menos de 10% entre os filmes que o país já selecionou. Carlos Diegues é um campeão de seleções e não-indicações. Seis de
seus filmes foram escolhidos pelo Brasil; nenhum conseguiu ser finalista.
Entre
os selecionados nacionais, algumas surpresas, como Walter Hugo Khouri e Sérgio
Ricardo. Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Luis Sergio Person também já
representaram o cinema brasileiro na disputa.
Veja
a lista completa dos filmes que defenderam o Brasil:
1959 A Morte Comanda o Cangaço - Carlos Coimbra & Walter Guimarães
Motta
1961 O Pagador de Promessas - Anselmo Duarte
1963 Deus e o Diabo na Terra do Sol - Glauber Rocha
1964 São Paulo, Sociedade Anônima - Luís Sérgio Person
1966 O Caso dos Irmãos Naves - Luís Sérgio Person
1967 As Amorosas - Walter Hugo Khouri
1969 O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro - Glauber Rocha
1970 Pecado Mortal - Miguel Faria Jr.
1971 Pra Quem Fica, Tchau - Reginaldo Farias
1972 Como Era Gostoso o Meu Francês - Nelson Pereira dos Santos
1973 A Faca e o Rio - George Sluizer
1974 A Noite do Espantalho - Sérgio Ricardo
1975 O Amuleto de Ogum - Nelson Pereira dos Santos
1976 Xica da Silva - Carlos Diegues
1977 Tenda dos Milagres - Nelson Pereira dos Santos
1978 A Lira do Delírio - Walter Lima Jr.
1980 Bye Bye Brasil - Carlos Diegues
1984 Memórias do Cárcere - Nelson Pereira dos Santos
1986 A Hora da Estrela - Suzana Amaral
1987 Um Trem para as Estrelas - Carlos Diegues
1988 Romance de Empregada - Bruno Barreto
1989 Dias Melhores Virão - Carlos Diegues
1995 O Quatrilho - Fábio Barreto
1996 Tieta do Agreste - Carlos Diegues
1997 O Que é Isso, Companheiro? - Bruno Barreto
1998 Central do Brasil - Walter Salles
1999 Orfeu - Carlos Diegues
2000 Eu, Tu, Eles - Andrucha Waddington
2001 Abril Despedaçado - Walter Salles
2002 Cidade de Deus - Fernando Meirelles
2003 Carandiru - Hector Babenco
2004 Olga - Jayme Monjardim
2005 2 Filhos de Francisco - Breno Silveira
2006 Cinema, Aspirinas e Urubus - Marcelo Gomes
2007 O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias - Cao Hamburger
2008 Última Parada 174 - Bruno Barreto
2009 Salve Geral - Sérgio Rezende
2010 Lula, o Filho do Brasil - Fábio Barreto
2011 Tropa de Elite 2 - José Padilha
2012 O Palhaço - Selton Mello
2013 O Som ao Redor - Kleber Mendonça Filho
2014 Hoje Eu Quero Voltar Sozinho - Daniel Ribeiro
2015 Que Horas Ela Volta? - Anna Muylaert